Texto de Bagão Félix, in "A Bola", 22/01/2019
(título abreviado e alguma da formatação do texto é própria)
Rui Pinto está em prisão
domiciliária em Budapeste, no seguimento de um mandado de detenção europeu e da
cooperação entre a PJ e a sua congénere húngara.
Os advogados do jovem de 30 anos
emitiram, entretanto, um comunicado onde se diz que ele é um amante de futebol «indignado com práticas vigentes neste
desporto» e que, nesse contexto, «decidiu
contribuir para o conhecimento público da extensão dessas práticas criminosas».
E mais à frente: «Não pode deixar de se notar, em particular, o incrível paradoxo que resulta da tentativa de criminalização do seu cliente, quando, na verdade, o seu gesto cívico e as suas revelações permitiram a numerosas autoridades judiciais europeias um avanço histórico no conhecimento das práticas criminosas no mundo do futebol» (sublinhados meus).
E mais à frente: «Não pode deixar de se notar, em particular, o incrível paradoxo que resulta da tentativa de criminalização do seu cliente, quando, na verdade, o seu gesto cívico e as suas revelações permitiram a numerosas autoridades judiciais europeias um avanço histórico no conhecimento das práticas criminosas no mundo do futebol» (sublinhados meus).
Por agora, ao que se diz, o que estará em causa é a pirataria sobre entidades do mundo do futebol que foi vertida para o football leaks e que terá precedido a devassa do servidor do SL Benfica.
Tenho a minha opinião sobre o que
está subjacente a este caso, ainda que haja muito por saber numa certamente
espessa e intrincada rede entre alegados criminosos, extorsores e chantagistas,
adquirentes e usufrutuários de informação roubada e violadores e divulgadores
de correspondência privada.
Mas, aqui e agora, vou apenas
escrever não sobre questões jurídicas, mas sobre o plano ético, deontológico e
institucional subjacente também a casos semelhantes e, sobretudo, ao chamado “caso dos emails” do SLB.
Bem sei que, no caso do SLB, a bateria do saque tem de tudo. Contratos e estratégias comerciais, como se isso fosse uma normalidade num contexto concorrencial legal.
Condições laborais e pessoais,
como se o direito de privacidade fosse coisa menor.
Toneladas de “lixo”, truncagens e
descontextualizações ilegítimas de “fontes” milagrosas, como se a realidade
pudesse ser torturada.
E correspondência divulgada por
terceiros, admito que alguma de mau gosto, inadvertida e desrespeitosa, mas não
certamente muito diferente de práticas de outros, ainda que por outras vias,
como se estes fossem os “justiceiros
naturais”.
Seja como for, nada justifica a negação de um dos mais sagrados princípios de conduta ética: «a de que os fins não podem justificar todos os meios».
Ou seja, a adopção do império da
selva!
Absolutamente inacreditável é a confirmação pelos causídicos de práticas fora da lei.
O seu constituinte denunciou práticas
criminosas a que chamam gloriosamente «gesto
cívico»!
Proclama-se a bondade dos fins a
alcançar e define-se a sua infalibilidade através de uma iluminada expressão,
qual seja, e volto a citar, a de «um
avanço histórico»!
Assim, o alegado sujeito da acção «decidiu contribuir para o conhecimento público de práticas criminosas», de tão indignado e sofredor que estava!
Assim, o alegado sujeito da acção «decidiu contribuir para o conhecimento público de práticas criminosas», de tão indignado e sofredor que estava!
Um gesto heroico, dirão!
Um cavaleiro andante, quiçá
romântico, pensarão!
Um paladino da moralidade,
certificarão!
Um Robin dos Bosques cibernético
que rouba aos por si aprioristicamente considerados criminosos para dar – sim,
dar, em regime da mais pura filantropia – a terceiros e, não menos importante,
aliviar altruisticamente a carga de trabalho das autoridades policiais e judiciárias
de um ou mais Estados de Direito!
E, sendo assim, o denunciador
(whistleblower) deve prevalecer sobre o criminoso, dizem-nos, embora sabendo
que essa ponderação só tem lugar em casos extremos de protecção da sociedade
previstos na lei!
Será certamente um verdadeiro
enigma tentar, mesmo que em abstracto, encontrar o ponto de convergência entre
tanta benemerência e o nível de vida e honorários a pagar por tais práticas de
bem-fazer (ainda que por via de fundações igualmente filantrópicas)!
Tendo a nossa PJ informado que se
trata de alegados crimes de «extorsão qualificada na forma tentada, acesso
ilegítimo, ofensa a pessoa colectiva e violação de segredo», certamente a
extorsão ou sua tentativa estarão a mais!
A generalização da violação do
princípio ético atrás referido, “decretando-se”
um qualquer fim como um bem e os meios como neutros, levaria a aceitar práticas
hediondas como justificáveis.
Assim seria, desde guerras a actos
de terror que sempre invocam um qualquer deus imaginário ou uma suposta supremacia
política, moral, étnica ou histórica, e desde outros actos mais circunscritos a
outros de âmbito mafioso.
Aliás, no mundo cibernético, esta
grosseira perspectiva poderia conduzir, irreversível e danosamente, à
justificação de qualquer pirataria informática, mediática ou similar em nome de
uma suposta “estratégia do bem”.
Infelizmente, estas práticas estão
a ser crescentemente sujeitas a uma perversa indiferença e anestesiada
banalização. Para tal, inventou-se um novo arquétipo moral entre os actos bons
e os maus:
«os
actos neutros, uma espécie de silenciosa amiba onde se acolhem as maiores
maldades».
Mas, como há vinte séculos escreveu São Paulo, «não há mal de que provenha bem».
É certo que estas piratarias “animam a malta” por via de voyeurismo
mediático repetido até à náusea, alimentam a acefalia social, engordam as fake news e favorecem as adulterações
por manipulação semântica ou por rivalidades levadas à obsessão.
No caso da devassa de
correspondência do Benfica, fazem medrar anjos ressuscitados das trevas e
bolsar votos pios de que «na nossa casa é
tudo puro», como se alguém acreditasse nisso!
A ética vem-se relativizando pela
abordagem quantitativa, condicional ou adversativa, de mãos dadas com um
oportunista se, mas, talvez, às vezes, salvo se …
Todos – alegados piratas e
ladrões, sofridos delatores e relapsos divulgadores, causídicos que veem “gestos cívicos” em práticas ilegítimas –
se deveriam questionar, na sua solidão, sobre o que achariam se, em vez do
Benfica ou outras pessoas e instituições, estas práticas os visassem a eles
próprios ou a organizações a que estão ligados!
Bastaria que atendessem ao teste
do imperativo categórico kantiano, ou seja, ao dever dos deveres:
«Age
unicamente segundo a máxima que te leve a querer ao mesmo tempo que ela se
torne uma lei de tal modo que, se os papéis fossem invertidos, as partes em
questão estariam sempre de acordo e a tua conduta seria universalmente válida».
O que lhes iria na alma?
Achariam que tudo não passava de uma sucessão de
escrupulosos “actos cívicos”?
Muito bom
ResponderEliminarComeçando pelo menos importante:
ResponderEliminarAs declarações do Sérgio raivoso Conceição, treinador da agremiação do crime organizado, demonstrou que está no sítio certo, com declarações dignas de escroques.
Lamento informar mas o jogo também também não é o mais importante; dentro das quatro linhas claro!
É fora das quatro linhas que se joga, é a luta pela sobrevivência de duas colectividades amarguradas por uma vida de complexos e ódio doentio, numa associação de criminosos organizados que implementa a mais vil campanha vista no mundo do desporto, contra a maior instituição Portuguesa!
Se os jogos se decidissem nas quatro linhas, ontem ao intervalo poderíamos estar a ganhar 2-0.
Os espectadores são o mais importante?!!
Esqueçam, os espectadores não são definitivamente importantes...
Estão a matar o futebol?!!
Esqueçam, eles pretendem nivelar as assistências dentro dos estádios...
Se os únicos estádios que enchem são os que são visitados pelo SLB, há que desmotivar os Benfiquistas...
Benfiquistas desmotivados (desunidos), descrentes no espetáculo do futebol, equilibra a favor dos nossos inimigos...
As transmissões são a grande fatia do bolo, que permitem patrocínios e parcerias...
Quando o número de Benfiquistas nos estádios for idêntica às duas agremiações corruptas, os patrocínios serão divididos de igual modo pelos três clubes...
Enfraquecer a base social de apoio ao SPORT LISBOA E BENFICA (ainda que não o número de adeptos) é a continuação do projeto Roquete e da aliança dragarta.
O poder, como se conquista o poder quando se defrontam com um Gigante como o SLB?
Corrupção, coação, medo, colocação em lugares de relevo, interesses mutuos e muita muita intoxicação da opinião publica...
Como? Através da parceria com os principais players e grupos de comunicação social...
Ter uma comunicação social favorável, permite deturpar a realidade, passar a mensagem que importa, agregar as suas tropas e desmobilizar ou desmotivar parte das tropas inimigas...
ResponderEliminarA contra informação é utilizada desde tempos remotos por todos os exércitos e regimes ditadores, mas também para defesa dos que estão do lado certo e da justiça...exemplo a contra informação utilizada pelos aliados contra o regime nazi.
Chegando aqui à comunicação, temos que direcionar todos os nossos canais de comunicação, para massificar a informação, desmontar a contra informação dos nossos inimigos e actuar nos órgãos da justiça civil.
Temos um meio de comunicação privilegiado que é a BTV, que deve estar ao serviço da generalidade dos Benfiquistas,afastando-os dos outros canais de cabo gratuitos, prestando o serviço de desintoxicação e informação.
Para isso temos que nos tornar um canal aberto.
Temos um acordo com a NOS?
Renegoceie-se esse acordo permitindo que apenas os jogos de futebol estejam codificados para os subscritores.
Todos os adeptos do Benfica têm o direito ao esclarecimento.
É obrigação da direção proporcionar a todos os adeptos esse esclarecimento e acesso à informação da BTV.
Uma BTV ao serviço dos sócios e milhões de adeptos de todo o mundo, não pode estar refém de um acordo que urge alterar com a NOS.
Para a NOS, também é vantajoso limpar o bom nome e honorabilidade do SPORT LISBOA E BENFICA
Os seus comentários estão muito bons e concordo com a grande maioria do que escreve.
ResponderEliminarEm relação à BTV temos notícias (do Benfica) que nos dizem estar a negociar o canal aberto, com excepção, evidentemente, das transmissões da Liga e outras ocasionais (v.g., transmissões de jogos da UEFA - eliminatória de acesso à fase de grupos da LC).
Não vejo causa para colocar em tribunal os órgãos da Liga ou da Federação.
Muitas das decisões dos árbitros são interpretativas, subjectivas.
Em todos os casos, sem prova do dolo (a intenção) ou da negligência (nos raros casos em que a lei a aceita) do crime por que se pretende punir, nada feito.
No dia em que os Benfiquistas deixarem de acompanhar a sua equipa aos campos dos adversários, os clubes morrem na praia, a menos que se revoltem em massa contra a corrupção "dragarta". Mas eles também recebem desses 2 clubes muitas benesses, em jogadores, entrepostos, etc. Por isso, ou se revoltavam, ou morriam sem o "abono de família" dos Benfiquistas.
Depois, com quem jogavam os clubes que restassem, os 3 grandes e pouco mais, se mais houver?
Morto o futebol, morre a indústria respectiva. Sofrem todos. E quem mais sofre é quem mais factura!
Isto é o ciclo vicioso em que entrou o País.
Comunicação do Benfica e dos Benfiquistas, todos em combate, é o que pode dar mais resultado.
Todavia, não se peça aos nossos dirigentes e funcionários (Administradores, Treinadores, Directores desportivos e de comunicação, jogadores, etc) que falem de qualquer maneira porque, com os justiceiros que temos nos órgãos do desporto, o Benfica ficava em autogestão.
Muitos dizem: exijam a demissão do conselho de arbitragem! exijam a demissão dos que mandam na liga e na justiça!
Bem, isso é fácil! Mas qual a sua proficuidade? Só a longo tempo, partindo do adágio popular, "água mole em pedra dura…"