Fico
feliz por mais uma vez assistir a eleições no Benfica. As eleições dos corpos
sociais que vão gerir o universo Benfiquista são uma das maiores expressões da
democracia, democracia que, sendo genética, é parte substancial do ser Benfica.
Mas
confesso que tive um certo receio, a princípio. Será que, desta vez, não vai
haver concorrentes ao acto eleitoral?
De
facto, houve um Benfiquista, agora desaparecido ou na sombra acobertado mas sem
ser visto nem ouvido – se é que alguma vez o foi – que prometeu e não cumpriu
apresentar um candidato. Ou fez tardiamente a encomenda ou a encomenda rejeitou
o receptor e, sem processos de intenção, inclino-me mais para a segunda
alternativa.
Não
era caso para recear uma transformação do Benfica num reino teocrático e
imperial, com lições sublimes nas tropelias da verdade desportiva e no mundo
subterrâneo das corrupções e tentativas bem às claras, pese o trocadilho, com
ordeiros carneirinhos a seguir o pastor sem balir ou mugir.
Não
era caso igualmente de recear umas coaptações de presunçoso sangue azul
habituado às ordenanças hereditárias, sejam elas asnas ou deficientes sem que o
grau tenha qualquer significado, ainda que marginal. Fazendo de conta, por
vezes ainda conseguem um arremedo eleitoral que elege presidentes com menos
pessoas que neles exercem o seu direito democrático de escolha do que os
derrotados.
Finalmente,
todavia, surgiu alguém disposto a entrar na disputa democrática.
Fiquei
contente porque era a democracia Benfiquista de novo e sempre a funcionar.
Fiquei
triste porque à cabeça surge alguém em quem recreava atributos de grandeza no
exercício da sua difícil missão de julgar … e já não são muitos os seus
parceiros de profissão em quem possa depositar esses mesmos atributos. Fiquei
triste porque sei que o universo Benfica é muito vasto actualmente e muito
exigente na sua feição empresarial. O Benfica hoje é uma das maiores empresas
de Portugal e uma das marcas de excelência.
Exige,
por conseguinte, gente com o “vírus” empresarial bem entranhado e bem recomendado
para o gerir
O
Juiz Desembargador Rangel não tem, de certeza, essa virtualidade. Tem-na em tão
pouca escala quanto em tão elevada tem o dom de bem julgar na sua missão de julgador
de pleitos judiciais.
Mais
grave ainda, fiquei desapontado.
Fiquei
desapontado, e altamente, com as escolhas que o Juiz Desembargador Rangel aprontou
para o acompanhar numa missão muito difícil e altamente exigente e para a qual
precisava de, com efeito, gente à altura do desafio empresarial que ele não
possui na sua já larga experiência de vida.
E
quem escolheu ele em grandes doses?
Nada
de gente nova. Nova, não no sentido literal mas que nunca tivesse prestado
provas e provas frustrantes. Nova de ambições e de saberes.
E,
afinal, vai escolher despeitados, gente que já passou pelo Benfica e nada fez a
não ser papaguear! Gente velha nas andanças e nos processos.
Gente
que, por ela, não havia hoje nova Catedral, Centro de Estágio e toda a obra
circundante que compõe o enorme e moderno complexo desportivo. Gente que fugiu,
cobarde, só porque o desafio era enorme e a opção pela ausência do risco é o
recosto muito mais reconfortante.
Gente
que, quando responsável pelas amadoras, não passou de uma obscuridade mais ou
menos cinzenta e agora, para seu refrigério, vê essas mesmas amadoras passarem
do marasmo dos seus tempos de governação para o esplendor das conquistas sem
fim da actualidade após o seu ressabiado abandono.
Gente
que já tentou governar a pasta do futebol e não fez obra de qualquer mérito,
tendo abandonado quando o seu chefe presidente abandonou e convocou novas
eleições, tudo por causa do falhanço desse mesmo futebol. Gente que depois se tentou
alcandorar a um lugar nos meandros dos poderes do futebol e que de lá saiu,
escorraçado, sem honra nem glória.
Juiz
Desembargador Rangel, o que o levou a tentar tamanha missão se tão mal
acompanhado se dignou rodear?
Eu
não acredito que fosse para dar nas vistas porque V. Exª não precisa nem
precisava disso e não será com isso que vai subir na escala de valores. Tenho
dificuldade em acreditar que tenha sido “empurrado”, aceito melhor que tenha
sofrido de uma ausência momentânea.
E
tenho pena! Tenho pena pela consideração que sempre me estimulou como Homem da mesma formação ao serviço da Justiça.
E
tenho pena porque considero que daria um bom Presidente do nosso Benfica!
Se
se tivesse rodeado de companhias muito mais estimulantes, credíveis e
competentes, tanto como a sua demonstrada competência nos mesteres que, até
agora, lhe foram dados exercer.