segunda-feira, 13 de maio de 2013

A MÍSTICA



Sou do tempo das grandes conquistas europeias. Sou do tempo da conquista de título atrás de título. Sou do tempo em que se começou o construir da teia da corrupção desportiva. Sou do tempo do “esplendor” dessa mesma corrupção. Sou do tempo do apito dourado. Sou do tempo do pós apito dourado e da vergonha do seu arquivamento e do triunfo da impunidade. Sou do tempo da disputa dos dois últimos títulos nacionais.

Em tempos de desvergonha nacional em que a corrupção desportiva campeou, reconheço essa corrupção desportiva e suas consequências no desfecho da verdade das competições.
Mas reconheço igualmente parcela de responsabilidade Benfiquista, não na corrupção desportiva mas na ausência do enfrentamento adequado à mesma, com preferência suicida de divisionismo constante entre os Benfiquistas.



Ouve-se muito falar de mística. Ouve-se de novo falar de mística Benfiquista. Ninguém a definiu ou define em termos tais que a grande Família Benfiquista actual dela se aperceba e dela se alimente.
Também não tenho pretensões da perfeição. Mas vou dar a minha contribuição, não mais do que a minha opinião.

A mística assenta essencialmente, se não de todo, numa estrutura mental. Essa estrutura mental faz com que, quem a detém, tenha aquilo a que chamam de “estofo” de conquista para enfrentar os grandes desafios.
Ter mística, ter estofo, é ter espírito natural e permanente de conquista, enfrentar os grandes desafios sem medos, ter convicção de que a vitória é sempre o desfecho consequente do querer que emana da vontade e da mente.

Ouve-se lamuriar até com alguma insistência, que não se teve sorte – o vencido –  ou que o vencedor teve muita sorte.
Não concordo.
As “vitórias morais” são o consolo dos pobres, dos vencidos, dos mentalmente derrotados antes do enfrentamento do desafio.
Na raiz da dita falta de sorte está o medo, o sentimento mental que faz tremer e paralisar, dos que se entregam ao seu fado com uma única oração: “seja o que Deus quiser”...
Mas pela sorte não se espera, porque, quem por ela espera, o mais natural é que  … não tenha sorte.
A sorte conquista-se! A sorte é a recompensa dos audazes! A sorte só premeia quem enfrenta o desafio sem temor! A sorte é a “refeição” dos vencedores!
Os ditos sem sorte são os medrosos, são, essencialmente, os vencidos, os que não têm estofo mental para vencer!

Diz-se que o Benfica tem obrigação de vencer, sempre!
Também não concordo. Vencer não deve ser uma obrigação para o Benfica!
O Benfica é e tem de ser um vencedor por seu desígnio genético. Um desígnio genético que se demonstra e concretiza num plasmar real e natural constante do querer vencer como a sua vocação!
No Benfica, vencer tem de ser espontâneo porque é ser do seu ser ontológico!



Ninguém no Mundo futebolístico inteiro perde dois campeonatos seguidos depois de os ter ganho.
Não renego o empurrão da arbitragem no ano transacto. Mas o Benfica, então, já tinha esbanjado o seu pecúlio de oiro.
Este ano, mais do mesmo … e não pode haver desculpas de arbitragem.

Muitos motejam os festejos, excessivos ou moderados, nos Barreiros porque feitos antes do tempo.
Concordo com os motejos, não com a razão. Tal como acentuei, vencer um jogo não pode ser para o Benfica motivo de festejo porque vencer um jogo, qualquer que seja, não pode ser razão de uma comemoração mas algo que surge naturalmente do seu ser, do seu querer, da sua atitude mental  Benfiquista, sempre e sempre que o Benfica parte para um desafio.





O Benfica demonstrou que ainda não tem o tal estofo perdido nas brumas do tempo e enleado na teia da corrupção desportiva que não soube enfrentar. E digo, não soube” porque, sendo de longe o Maior, não soube concretizar e manter essa sua Grandeza.
A sua equipa de futebol fez muitas caminhadas vitoriosas, este e o ano antes deste, muitas delas brilhantes. Tem bons executantes, artistas de primeira água, algumas bailarinas que, no dia do seu sentir dançarino, extasiam. Agradam ao adepto, acirram-lhe o orgulho, incendeiam o sonho.
Todavia, na hora da decisão, o Benfica amedronta-se. Na hora da decisão, o Benfica treme. Na hora de decisão, o Benfica falha.
Os tais festejos nos Barreiros mais não são do que um sinal de fraqueza, um extravasar de um sentimento de insegurança, o esvaziar de um medo que não é nem pode ser Benfiquista, tal como nos foi insuflado, Benfiquistas, pelos nossos antecedentes.

O Benfica que ganhou as Taças dos Campeões Europeus tinha alguns talentos mas tinha igualmente muitos dos chamados carregadores de piano”.
No entanto, o que mais tinha em abundância era o estofo de campeão, era o querer, era a bravura dos audaciosos, era o plasmar do seu sentir, era o concretizar do seu Ser Benfiquista.
Por isso, não o impressionaram Barcelona ou Real Madrid recheados de estrelas, experimentados e aureolados de vitórias.


Benfiquistas, penso que o Benfica só voltará à sua mística, só será de novo um vencedor, quando sentir que é um vencedor natural, quando sentir que vencer é o seu ADN, quando sentir que vencer é derramar na realidade a sua herança genética, quando sentir que nasceu para vencer, quando sentir que vencer não é uma obrigação, quando sentir que vencer não é uma discussão ou uma hipótese.
E nesse Benfica temos todos nós, Benfiquistas, desde dirigentes, a treinadores, a jogadores, a sócios e a adeptos, de estar e de sentir.
Até lá … desalentos e frustrações de vencidos que não se coadunam com o Enorme Orgulho do Ser Benfiquista!