O Benfica ganhou o
jogo em Braga. Não assisti a ele, nem presencialmente, nem por TV ou NET.
Tudo conselho médico
porque a vivência do meu Benfica é tal que o coração treme com a pressão
arterial a pular para valores alarmantes que nem os calmantes em dose dupla
conseguem serenar a ansiedade no decorrer da hora e meia até ao conhecimento do
resultado final.
Tudo isto, mais os
cabelos brancos, tem uma explicação, “penso
eu de que”!
Eu fui criado desde
jovem com o Benfica a subir, a subir, a dar cada vez mais alegrias aos
Benfiquistas, a atingir o auge da grandiosidade em que se transformou em todos
os sentidos. Eram tempos em que assistir a um jogo do meu Glorioso ou ao seu
relato não trazia opressão porque a vitória era certa.
As pequenas excepções
só confirmavam a regra.
De há cerca de 30
anos para cá, a coisa modificou-se bastante porque a corrupção desportiva
assentou arraiais no futebol luso, tanto como a impunidade e a
inimputabilidades dos corruptores.
E os Benfiquistas,
desacostumados, também deram alguma contribuição ao desaforo com as suas tricas
internas, a sua desunião destruidora da sua eterna e gloriosa divisa.
Mas, adiante.
Creio que todos os do
meu tempo concordam em absoluto de que tais vitórias e alegrias se deviam aos
grandes jogadores e às grandes equipas que o Benfica conseguia reunir.
Sabem, inclusive,
que, quer o FC Porto, quer o SCP, pagavam maiores ordenados aos seus jogadores
do que o Benfica. Mas a grande maioria dos jogadores, só portugueses, como se
sabe, preferia o Benfica porque os prémios pelas brilhantes vitórias e a fama
daí advinda mais do que compensavam as diferenças de ordenados.
Isto significa que o
dinheiro contava, não há dúvidas, mas esse dinheiro saía do suor, da garra, do “comer da relva” para cada vez mais
glorificar o Glorioso Benfica. Era dinheiro que saía da vitória e não do
orçamento. O Benfica era, como é, um clube do Povo, não um clube de ricos ou de
suposto sangue azul, nem um clube de corruptos.
Esses tinham, como é
óbvio, orçamentos maiores do que o seu mas as vitórias eram dele, do Glorioso,
e não desses orçamentos superiores.
Depois de sabido o
resultado de Braga, claro, dei uma volta pelas notícias na net. Dessas notícias
retirei algumas conclusões:
— Um dos melhores
espectáculos futebolísticos presenciados esta temporada, dados pelos jogadores
das duas equipas;
— Uma grande jogada
táctica preparada e concretizada por Jorge Jesus que surpreendeu Peseiro;
— Duas grandes
jogadas futebolísticas na origem dos golos marcados, só possíveis pela
genialidade dos nossos jogadores e pelo sistema táctico adoptado;
— Uma gestão do
resultado feita pelo Benfica na segunda parte, substituindo o platonismo do “ganhar e encantar” pela realidade do amealhar
dos três pontos;
— Um lesão do defesa-central
Jardel, visível antes do golo do Braga, que lhe retirou faculdades,
provavelmente causais do golo sofrido, mas que ele foi aguentando, embora
diminuído.
Nem me dou ao
trabalho de classificar alguns comentários de Benfiquistas acerca desta prestação
futebolística do Benfica. Cada um é livre de se expressar e responsável pelo
que expressa. Respeito tudo isso desde que crítica e não maledicência ainda que
encoberta, conquanto não deixe de dizer, na mesma linha de exigência de
respeito, pelas minhas e pelas dos outros Benfiquistas, que alguns desses
comentários me soam a ridículos.
Todavia, o seu a seu
dono.
Pelo que escrevi
acima, não deixo passar em claro um desses comentários “on line” numa notícia mesma via de um jornal desportivo. Um
comentário de alguém que se autointitula benfiquista.
Vamos supor que sim!
Em síntese, escreve
ele:
«Mas tenho de dizer que um clube com a dimensão e com o
orçamento do Benfica, deveria conseguir vencer facilmente equipas e clubes que
são muito mais pequenos. Isso não se verifica o Benfica tem enormes
dificuldades com o Braga»
Perante esta curiosa
extravagância – não consigo outra expressão que transmita melhor o meu
sentimento perante ela – só posso concluir duas coisas:
— Trata-se muito
provavelmente de uma tese retirada de uma qualquer “investigação”, com maior ou menor grau “científico”, que pretende provar ser o dinheiro, via orçamento, o
agente executor exclusivamente determinante das vitórias futebolísticas;
— Um jogo entre duas
equipas de orçamentos desiguais não é, afinal, um jogo de futebol mas um mero “pro forma” em que a equipa de maior
orçamento está obrigada a dar baile de golos e a alcançar vitórias engalanadas,
ao mesmo tempo que a equipa de menores recursos, antecipada e inevitavelmente
condenada, vai para o campo com o sentimento de uma besta na arena para
defrontar um conjunto de leões e hienas, saindo de lá vergada ao peso de um
bailarico repleto de golos no papo, mais do que mortinha de que o “sacrifício” termine quanto antes;
— E sendo assim, tem
havido por esse Mundo inteiro milhões de pessoas a viverem as suas vidas de
paixão futebolística completamente enganadas, sempre pensando serem as melhores
equipas e que contam normalmente com os melhores jogadores – sem esquecer um
pouco de sorte que é imponderável e aleatória – as que, ao menos, mais
normalmente conseguem obter essas mesmas vitórias futebolísticas, mas só depois
de lutarem por elas porque os seus adversários se não consideram meros verbos
de encher.
Sabíamos que, de há
cerca de 30 anos para cá, realmente o dinheiro tem tido uma certa e decisiva
influência extra mas distribuído na compra de “fruta”, nas viagens pagas a árbitros, nos “quinhentinhos”, nos aconselhamentos matrimoniais acompanhados ou
não de café com leite, na distribuição de envelopes com quantias “miseráveis” – imaginem se o juiz
Mortágua tivesse adivinhado a crise actual, pois seria certo que lhe ia faltar
adjectivo adequado – e noutras manigâncias do género que alguém condenou
eufemisticamente por “tentativa” de
corrupção desportiva e outros lavaram as mãos na sua justiça da Injustiça.
Mas pode acontecer,
no entanto, que sejamos nós, os outros Benfiquistas, acompanhados, crê-se bem,
de muitos milhões de habitantes deste planeta, os ignorantes! Tão ignorantes
que não demos conta de que determinadas “façanhas”
deveriam ter sido milagres mais do que suficientes para uma canonização, se não
mesmo santificação, de quem as praticou!
Vou dar apenas dois
meros exemplos, não acontecidos com o Benfica porque, afinal, é o Benfica que
está em causa na publicação da nova tese revolucionária, acrescente-se, e há,
mesmo neste solo pátrio, clubes de futebol com orçamentos superiores.
Aqui vai.
Na época
futebolística anterior e já nesta em curso, o Gil Vicente ganhou (3-1) e
empatou (0-0) com o FC Porto.
Pois bem, só a nossa ignorância
da nova invencionice é que nos fez esquecer, a nós, outros Benfiquistas, de
que, afinal de contas, tudo decorreu dentro da “normalidade”, ali naqueles desafios futebolísticos, de acordo com
essa nova tese!
No fim de contas, o
que é o orçamento do Braga comparado com o do Gil Vicente?
Uma ninharia!!!
E mesmo o orçamento
do FC Porto?
Igualmente uma
bagatela!!! Talvez menos bagatela da que a do Braga mas, ainda assim, uma
bagatela se comparado com o do Gil!!!...
No fim disto tudo, e
se me é permitido na minha tacanhez perante tese tão excêntrica e, ao que julgo,
inédita, um conselho ao seu autor:
«Trate já de registar
internacionalmente a sua patente – se ainda o não fez, é claro – porque a
publicidade que resolveu atribuir à sua extravagante “invenção” pode vir a causar-lhe graves dissabores de paternidade»!