(Artigo de opinião de João Gabriel, hoje, no Record,
transcrito no facebook, página de José Manuel Antunes. Arranjos formais
próprios)
«No início de 2018, Barack Obama foi o convidado do
programa de David Letterman na Netflix. Quando foi questionado sobre os
desafios da democracia americana, nomeadamente sobre a possibilidade de um
governo estrangeiro ter manipulado as eleições internas, o ex-presidente
começou por referir que os russos apenas tinham explorado o que já havia nos
Estados Unidos.
"Se vir a Fox News, vive num planeta
diferente", ironizou, evocando de seguida um episódio protagonizado muitos
anos antes pelo ex-senador democrata Patrick Moynihan, já falecido.
Contou Obama que o ex-senador "desafiou um colega
menos capaz" em relação a um tema que não especificou, e que este ficou
tão nervoso, que se limitou a replicar "é a sua opinião, eu tenho a
minha". "Meu caro", prosseguiu Obama citando Moynihan, "tem
todo o direito a ter a sua opinião, mas não os seus próprios factos".
É disto que se trata. Por força dos maus resultados
desportivos da última época, a campanha eleitoral do Benfica foi claramente
antecipada, o que mostra a dinâmica democrática do clube, tão contestada por
alguns.
Lendo alguns dos artigos publicados por aqueles que
mais reclamam por uma mudança de líder, dá ideia de que o Benfica teve uma
década de absoluto insucesso desportivo, que vive debaixo da alçada da UEFA no
que ao fair play financeiro se refere, que o seu centro de formação não é capaz
de produzir talento, que os seus direitos televisivos continuam a ser detidos e
transmitidos por um canal hostil ao clube, que tem dificuldade em contratar e
que tem dívidas vencidas que não consegue liquidar.
É como se estivéssemos a ver a Fox, "um planeta
diferente", uma realidade alternativa.
Pois bem, a realidade do Benfica é bem diferente.
Diametralmente diferente! O que nos leva de regresso a Moynihan: todos devem ter direito à sua opinião, mas
não aos seus próprios factos.
Não era minha intenção escrever este ou qualquer outro
artigo, mas há limites que não devem ser ultrapassados e afirmações que não
podem ser toleradas. Quando há poucos dias li que Manuel Vilarinho "deixou a Vieira um estádio novo",
tive de reler. Esperei pelos dias seguintes, mas não houve nenhuma errata.
Vilarinho devolveu a decência ao Benfica, e esse foi o
seu maior mérito, mas a grandeza de Vilarinho também se vê na forma como sempre
reconheceu que sem Mário Dias e Luís Filipe Vieira não teria havido estádio.
Omitir este facto não foi acidente, foi intencional.
Não interessa quem escreveu, mas porquê. Podemos
divergir dos caminhos, das propostas ou das estratégias, podemos
identificar-nos mais com um candidato e com o que este defende, mas não
reconhecer os méritos de Vieira nestes 17 anos não revela apenas desonestidade,
mas também mesquinhez de espírito. Um cineasta devia ser o primeiro a saber que
um bom guião pode ser destruído por maus atores.
E o guião com que João Noronha Lopes inicialmente se
apresentou está a ser destruído por alguns dos que o rodeiam.
A gratidão engrandece, não nos diminui como
alternativa, e os que apoiam Noronha Lopes deviam ser os primeiros a sabê-lo. O
ruído, só por si, não é uma alternativa, é apenas ruído.
Trabalhei com Luís Filipe Vieira durante oito anos.
Errou, porque não é infalível. Exagerou nos objetivos, e por isso muitas vezes
falhou, mas foi por esse permanente inconformismo e pelas metas sempre
inflacionadas que traçou que chegámos aonde estamos. Já se contradisse, porque
em 17 anos é impossível não o fazer. E, se conseguimos chegar até aqui sem rumo
ou sem plano, como alguns defendem, espero que Vieira continue sem rumo para os
próximos quatro anos.
O final da época de 2014 foi doloroso, e muitos
vaticinaram o fim do projeto Vieira.
Não foi.
Tal como o insucesso da última época também não será.
Falar de Vieira à frente do Benfica obriga-nos a
voltar atrás. Antes de Vieira, o clube era um fantasma, uma sombra do passado,
incapaz de suportar o peso da história. Vieira e todos os que o acompanharam
nestes anos devolveram a grandeza e a dignidade ao clube.
Não posso terminar sem fazer mais um reparo ao artigo
que aqui me trouxe. Nos oito anos em que trabalhei no Benfica, assisti a quase
todas as Assembleias Gerais do clube. Nunca vi, em nenhuma delas, o autor do
mesmo, o que não o diminui como sócio, nem lhe retira a legitimidade de
criticar ou desejar outra pessoa para dirigir os destinos do clube, mas devia
inibi-lo de produzir afirmações sobre algo a que não assistiu, de que
desconhece o contexto.
Vieira irrita-se, exalta-se, simplesmente porque –
para surpresa de muitos – tal como nós, é humano.
E para aqueles que querem usar a justiça para pôr em
causa a obra e a credibilidade do Presidente do Benfica, convém lembrar que a
justiça é um processo e, tal como um jogo de futebol, o importante não é como
começa mas como acaba!
O desconhecido é perigoso quando o que temos nos
continua a dar garantias, sobretudo quando o nosso principal adversário, aquele
que festeja mais as nossas derrotas que as suas vitórias, parece tão
interessado em que a liderança do clube mude.»
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O primeiro
comentário de quem se identifica como Ze Rosario
«Muito
interessante que se dirige a Joao Noronha Lopes. É sinal que o medo continua e
que a candidatura é forte! Ótimas notícias»
Algumas notas próprias apenas
como resposta ao comentário transcrito, que o artigo é bem claro e explícito,
esteja ou não de acordo com esta ou aquela candidatura:
Não me interessa minimamente a
deficiente sintaxe (nem o erro ortográfico que se verifica) manifestada na construção
de algumas das (poucas) frases, interessa-me o conteúdo e o que ele reflecte.
Destaco, acentuo, que foi o
primeiro comentário inserido.
E o mais relevante é que o
conteúdo reflecte apenas que o seu autor não leu minimamente o texto. Em lado
nenhum João Gabriel se referiu à individualidade, João Noronha Lopes.
Referiu-se à sua candidatura para
destacar, em concreto, o conteúdo de um artigo de um seu apoiante declarado, acrescentando
a propósito que o guião desta candidatura «está
a ser destruído por alguns dos que o rodeiam».
Não há, no artigo de João
Gabriel, qualquer medo que dele ressume. Há apenas a sua opinião em relação a
factos que não são dele.
E neste comentário (que, repito,
até teve o condão de ser o primeiro), se explana inequivocamente o título do
texto, relativamente ao autor daquele:
«Também o Senhor, Ze Rosario,
tem direito à sua opinião mas não aos seus próprios factos»!
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