quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O Benfica, A democracia e o Livre Pensamento


Desde que me lembro e mesmo em tempos em que era deveras perigoso abrir a boca contra a corrente, o Benfica como Instituição Associativa corporizada por um imenso substracto pessoal foi uma luz cintilante do livre expressar do pensamento, seja nas campanhas eleitorais livres e democráticas, seja nas discussões que se travavam nas suas assembleias gerais.
Nesses tempos do amordaçar da liberdade e da opinião divergente da oficialmente convencionada, a grande maioria do Povo podia ter poucos meios de se expressar, faltava-lhe a internet e demais instrumentos de comunicação global, o conhecimento de muitas formas de expressão e muito receio de se exprimir.
Mas os Benfiquistas, dentro do seu Benfica, no comando e nas decisões do seu destino, nunca pediram autorização para livremente darem a sua opinião. Ainda me recordo bem da maneira como os jornais de então, em especial o jornal “a bola”, relatavam a vivacidade que as discussões em assembleia geral traduziam.
O Benfica na diversidade era Uno e as questiúnculas das divergentes opiniões ficavam logo ali, os candidatos não sufragados democraticamente deixavam de ser candidatos e eram apenas Benfiquistas que defendiam, contra tudo e contra todos, apenas o Glorioso Benfica, num acatamento e respeito integral pela vontade maioritariamente expressa. Aos Benfiquistas, candidatos ou simples apoiantes, nunca os assombrou o mínimo de inimizade porque nunca nenhuma das partes em confronto democrático considerou a outra um inimigo mas uma parte de um todo que integrava a Grande Família Benfiquista.

Na formação da minha personalidade e do meu pensamento, que sempre rejeitou mordaças contra o direito natural de ser livre e de livremente se poder expressar, pesou muito a lição que recebi da democraticidade e da unidade na diversidade que unia a Família Benfiquista. Nos meus ideais sempre coube também, em grande plano, a defesa do Benfica contra os seus adversários e inimigos. Adversários e inimigos que sempre considerei lá fora e não cá dentro, bem ao contrário do que hoje se vê talvez pelas novas facilidades em dar a conhecer a expressão de um pensamento que conhece mais a emoção do que a razão, para não chegar ao ponto de dizer que o importante é lançar as suas larachas boca fora, tantas vezes cheias de peçonha contra outros Benfiquistas.
E outrossim aprendi, ainda e sempre em grande parte daquela democraticidade Benfiquista, que o Benfica defende-se defendendo todos os que o representem, na acção gestora ou no desempenho da função desportiva que lhes foi confiada.

Os tempos mudaram. O 25 de Abril trouxe a liberdade e a democracia, o direito à opinião, ao livre pensar e expressar na vida em geral. Mas trouxe também uma grande confusão porque a liberdade de pensamento e de expressão não é uma liberdade sem fronteiras mas uma liberdade com responsabilidade.
Todo o expressar do pensamento que não seja responsável não é exercício de liberdade mas exercício da arbitrariedade e a arbitrariedade não é expressão de democracia.

A missão de defender o Benfica não se conforma com o amorfismo que se traduz num seguidismo sem ideias. Por isso, os Benfiquistas têm não apenas o direito de defender o Benfica para contribuírem para o seu cada vez maior engrandecimento – direito que provém da sua matriz democrática – mas ainda o dever de o defender como a isso obriga o Benfiquismo de que nós, Benfiquistas, nos sentimos imbuídos e de que somos portadores.
Mas as opiniões, as ideias, tudo o que possa contribuir para o debate entre Benfiquistas e para o progresso do Benfica tem lugar próprio, modo adequado e tempo oportuno, não me parecendo que se defenda o Benfica com a desunião e a devassa na opinião pública da sua vida interna e o achincalhamento, o apoucamento, o insulto e a difamação de quem o representa, seja qual for a missão que lhe tenha sido confiada. A digladiação interna, maldosa e insidiosa, é muito e muito pior que toda e qualquer tentativa de achincalhamento externo, seja de adversários, seja de inimigos do Benfica.

Não se pede que se idolatrem pessoas porque é o Benfica o único deus que os Benfiquistas têm o dever de adorar. Eu nunca personalizei questões ligadas ao Benfica, eu não sou nem nunca fui um qualquer “ista”, até quando correu uma campanha tipo baixo assinado a pedir para que David Luís permanecesse. Ainda então recusei ser “davidista” e fui talvez o único a não assinar esse papel de quantos, e não só, faziam parte de uma certa tertúlia de Benfiquistas.
O Benfica sempre foi e é o meu único e supremo guia e não existe ninguém, clubisticamente falando, que se lhe possa sobrepor. Só que o Benfica não se esgota numa Entidade abstracta e Gloriosa mas integra sempre quem, em seu nome, o representa na gestão e em nome dele actua em determinados momentos da sua história, por força do voto democrático livremente expresso, bem como aqueles que, no cumprimento dos deveres de gerir, os seus representantes chamam a dignificar o Benfica nas suas diversas manifestações desportivas.
Por isso, todo o Benfiquista tem de se compenetrar de que achincalhar, apoucar, insultar e difamar na praça pública quem representa o Benfica, de uma forma e de outra, é o mesmo que achincalhar, apoucar, insultar e difamar o Glorioso Benfica.



Segundo relata o jornal “record” (de mentiras), e se as fotografias que ele apresenta não são montagens de aldrabice, parece que houve um encontro entre um grupo de Benfiquistas em que interveio o mais alto representante do Benfica e alguns que nas últimas eleições foram candidatos desistentes aos cargos sociais.
O dito “jornal”(?) descreve esse encontro de “jantar secreto” e de “jantar surpreendente”.

O jantar pode ter sido secreto porque não temos dele fotografias – sem montagens de mentira, tipo “porto canal”, este com imagens – mas o encontro, fazendo fé nas fotografias citadas, só foi “secreto” na mente suja e estrábica dos escrevinhadores. Os próprios intervenientes quiseram tanto que ele, o encontro, fosse secreto que se deixaram fotografar de corpo inteiro!
O “surpreendente” também se percebe. Vai na mesma linha de agitação dos estados de alma daqueles que estão sempre à coca para lançar os seus bitaites, adestrarem os seus dotes feiticistas e o seu poder oraculino interpretativo e, procurando a demonstração das suas razões sem razão, manterem os espíritos crédulos e aparelhados com igual crendeirice.

Um jantar ou um encontro entre Benfiquistas irmanados do seu Supremo Benfiquismo, como o que sempre deve existir entre quem se considera Benfiquista, é tudo menos surpreendente para as mentes sãs que não se colocam diante de espelhos e, à falta de melhor, celeremente ruminam maldades as mais diversas conforme ao espelhamento que observam reflectido.
São os processos de intenções conforme às suas intenções ou talvez mesmo às suas realidades.

Com efeito, quando um líder democraticamente legitimado pelo voto livre tenta aglutinar outros Benfiquistas com ideias diferentes e enriquecedoras do cada vez maior engrandecimento do Benfica, isso só pode ser orgulho para os Benfiquistas.
Medo de uma unicidade na gestão dos destinos do Benfica?
Os Benfiquistas que assim pensam não devem conhecer a força interna propulsora da Matriz Democrática, ao longo de mais de um século consagrada na prática, do Eterno e Glorioso Benfica. Se a conhecessem bem e dela tomassem consciência, haveriam de concluir sem a mínima hesitação que a História Gloriosa do Benfica, a História feita e consagrada na realidade pelos Benfiquistas, foi sempre a História Gloriosa da diversidade democrática, uma diversidade democrática na unidade suprema de um único Ente – o Sport Lisboa e Benfica!



Todavia, as invencionices sobre o dito encontro são às carradas, assim ao tipo desta:

«Entretanto, concluí que, dadas as relações privilegiadas que a Ongoing detém, o que corresponde ao acesso a informação inacessível aos demais mortais, estou certo e convicto que na pasta que acompanhava Moniz, num jantar secreto entretanto divulgado, estaria carregada de dvd´s com vídeos de defesas esquerdos que mais ninguém conhece. Ou isso ou uma carta de recomendações de um tal de Oliveira»!…

Que engraçado se deve ter julgado o seu autor!...
E que bem ungido pela água benta ele se deve ter considerado para pensar ser um dotado dos deuses com poderes miraculosos de interpretação do seu oráculo, o oráculo que lhe acudiu no momento à sua mente!
Que exemplo prestou na defesa do Benfica e do Benfiquismo!...
Sim, onde fica o Benfica no meio do seu oráculo de “certeza” e “convicção”?

Há quem acuse certos Benfiquistas porque «não conseguem ver defeitos nenhuns, mas mesmo nenhuns».
Referia-se o autor da expressão à gestão do Benfica nos últimos 12 anos.

A ser assim, é mau, é mesmo muito mau porque revela um amorfismo intolerável em quem tem não apenas o direito mas o dever de contribuir com ideias para o engrandecimento do Benfica.
Só que apetece perguntar pelo reverso da medalha!
Será que a cegueira está só do lado dos que “não conseguem ver defeitos nenhuns”?
E que dizer dos que “não conseguem ver nenhuma coisinha boa, mas mesmo nenhuma”?

E no mesmo sentido estão ditotes como este:

«Se Vieira fosse tão bom a comprar jogadores, a moderar o passivo e a organizar o clube quanto é a tratar da sua sobrevivência política dentro do Benfica, tínhamos o melhor presidente do Mundo».

E chamam a estes processos de intenção cheios de malignidade e maledicência, sem fundamentação, sem ideias e sem alternativas, meros achincalhamentos, apoucamentos, calúnias e difamações de Benfiquistas e de representantes do Benfica, no exercício das suas funções, de opiniões, de opiniões livres e democráticas?
E é com estes exemplos que justificam ser livres e terem o direito de se expressar livremente?
Mas a possibilidade de dizer este tipo de asneiras, em muitos casos roçando a ordinarice, pode ser considerada direito à liberdade?
Como e em que medida se defende o Benfica com este tipo de palavreado que ousam classificar de opinião?

Durante a nossa vida, a vida de muitos, pelo menos, é normal o são debate de ideias, umas vezes mais vivamente do que outras, cada qual defendendo a sua “dama” mas respeitando a dos outros. A mim, aconteceu-me muitas vezes.
Mas é por isso que se deixa de ser amigo?
É por isso que se deixa de defender um ideal comum e superior aos nossos egos?
Quem tem ideias diferentes, as defende mais ou menos afincadamente em momentos propícios a tal, não pode respeitar as do adversário, e vice-versa, tendo forçosamente de considerar este seu inimigo só porque ele pensa de maneira diferente?



Quero destacar a este propósito um texto que vi na gloriosasfera acerca deste encontro de Benfiquistas. Destaco-o porque tenho algumas ideias semelhantes às do seu ilustre autor e outras, talvez não menos, dissemelhantes. Destaco-o porque já debati, elevada e civilizadamente, ideias com ele. Destaco-o porque é um crítico, no sentido nobre que lhe atribuo, de variados aspectos da gestão actual do Benfica – só muitas vezes não estou de acordo com o lugar escolhido para essas críticas – que faz as suas reflexões, defende as suas ideias, justifica-as e apresenta alternativas sérias.
Pois este ilustre autor não deixou de ser crítico, foi-o outra vez, de facto. Criticou e justificou o que achava mal, propondo alternativas, criticou e justificou o que pensou ser bom para o Benfica, aplaudindo.
Expressou livremente a sua opinião e defendeu as suas ideias. E não precisou de maldizer nem insultar ninguém.

Assim se pudessem conduzir todos os Benfiquistas. Com liberdade mas com a consequente responsabilidade que essa liberdade exige para se poder ser livre.


PS: Não digo o nome deste artigo nem do seu autor porque eu não tenho ódios contra nenhum Benfiquista, nem sequer contra quem já me apelidou de traidor – não sei a quê ou a quem e ele também não disse – por muito diversas que possam ser as opiniões e por muita maledicência e insulto contra as coisas do Benfica, seus representantes na gestão e nas variadas missões concretas do seu labor, conquanto só o Glorioso seja o atingido por tudo isto.
É que eu sei que esse autor já foi diabolizado e mesmo enxovalhado na sua pessoa e é visto nalguns sectores de Benfiquistas com ódio.
Mas no meu blogue não se enxovalham pessoas Benfiquistas nem se permite que outros sejam atacados e muito menos que nele se expressem ódios entre a Família Benfiquista.
Infelizmente, na gloriosasfera há muito ódio entre Benfiquistas, seja porque nem todos comungam das mesmas ideias, sejam porque, julgando exprimirem livremente ideias a que se arrogam com direito, mais não fazem do que insultar e achincalhar.
E isto não é exprimir ideia nenhuma, muito menos livremente!
Quem só consegue lançar mão desses argumentos para se defender não é livre, é escravo do seu deficiente carácter e da sua mal formada personalidade!

5 comentários:

  1. Enorme Gil Vicente, Comnpanheiro,
    Excelente texto, como sempre, alem de oportunissimo.
    Se me permites uma sugestao, talvez nao ficasse mal uma referencia aos Nossos Estatutos, nos paragrafos de deveres e direitos dos Socios, uma vez que, pelo menos aparentemente, eles sao tao ignorados quanto a essencia da Democracia e do exercicio das Liberdades Individuais.

    Viva o Benfica!

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  2. Tem toda a razão, Caro José Albuquerque!
    Os nossos estatutos servem apenas para alguns falarem em golpada, como se eles não fossem a expressão livre e democrática dos Benfiquistas que maioritariamente os aprovaram, como se essa aprovação não continuasse a ser o plasmar na realidade da Democracia que é a Matriz do Benfica e do Benfiquismo.
    E tem razão! Os estatutos, com seus direitos e deveres, ignoram-se muitas vezes porque alguns só pensam que têm direitos, têm o direito de dar "opinião", a "opinião" que não é opinião coisa nenhuma. Ignoram que a todo o direito corresponde um dever e quem se acha sem deveres e os não cumpre não tem direito a ter direitos.
    Saudações Benfiquistas

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  3. Caro Gil Vicente, mais uma vez um texto soberbo, revejo-me francamente no que diz, mas permita-me destacar estes 2 parágrafos, simples, mas dizem tudo: "Os tempos mudaram. O 25 de Abril trouxe a liberdade e a democracia, o direito à opinião, ao livre pensar e expressar na vida em geral. Mas trouxe também uma grande confusão porque a liberdade de pensamento e de expressão não é uma liberdade sem fronteiras mas uma liberdade com responsabilidade.
    Todo o expressar do pensamento que não seja responsável não é exercício de liberdade mas exercício da arbitrariedade e a arbitrariedade não é expressão de democracia."
    Não p0dia estar mais de acordo, embora essa fronteira por ser tão ténue, já me tenha feito caminhar muitas vezes pela arbitrariedade.

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  4. Mais um texto de eleição onde muitos de nós,eu incluído, (e até os que não são "nós" mas sim "eles") se podem retratar.
    Meu caro, brinde-nos com mais jóias deste jaez porque "profilaxia", precisa-se.

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  5. Caro Joseph Lemos.
    Realmente, os retratos abundam. Quer ver mais um?

    Certo Benfiquista faz uma citação exemplar que consagra esta grande máxima:

    «as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas;as pessoas idiotas estão cheias de certezas»

    A seguir, a dado passo do seu texto, escreve o seguinte, que cito "ipsis verbis":

    «Não me estou a referir obviamente aos comensais do jantar comentado no post de ontem que passaram de pessoas que 'queriam um Benfica à Benfica' para gajos sem coluna vertebral que se vendem por um 'prato de lentilhas'»

    O que é que o Josepf Lemos vê aqui retratado nesta frase?
    Certezas, só certezas!

    Agora, compare e interprete-a à luz daquela grande máxima citada pelo mesmo autor destas certezas, só certezas, e retire a sua conclusão sobre o retrato que ele a si próprio se atribui!

    Engraçado, não é?

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