O senhor professor sempre nos presenteou com uma cara de poucos amigos. Todavia, após entrada no reino futebolístico já condenado – deveras indulgentemente, diga-se – por tentativa de corrupção desportiva, mais se acentuou a sua caretice. Quando fala em público e ao público, o seu carão reflecte, agora com uma redobrada nitidez, um ar presente e omnipotente de reprimenda a tudo e todos, como se tudo e todos lhe devessem, no mínimo, o favor da vénia reverencial da sua (auto) presumida omnisciência. Daí o ralhete, reacção a um seu imaginário cozinhado entre a incredulidade de uma tão sapiente e repetitiva lição e a sua eterna e incompreendida repelência na absorção por intelectos minimamente atilados.
Presumivelmente, tais momices a muito pouco gente incomodarão. E não é disso que aqui se trata, de facto, mas da caricatural realidade do seu falamento. É que ninguém se esquece de que ele debita os seus hipotéticos ensinamentos de moralidade desportiva acerca e como empregado de um clube que foi condenado, juntamente com seu dirigente-mor, justamente por tentar – por agora, fiquemo-nos pela mera tentação – corromper e adulterar a verdade desportiva e que ainda se encontra arguido das mesmas artimanhas e de outras semelhantes. E, conquanto a condenação tenha sido deveras complacente, o selo do feito está carimbado e ficará gravado na História, por muitas, numerosas e reiteradas que sejam as mais diversas e grotescas manipulações da mesma que, por aquelas bandas, se têm ensaiado nas últimas três décadas. O que o senhor professor poderá dizer, com absoluta e incontroversa propriedade, é que o clube actual seu patrão foi o único a ganhar o campeonato da batotice desportiva.
Mas nós agora estamos a referir-nos, em especial, a um recente confronto de jornalista a preceito com o senhor professor, tendo por base o escandaloso e vergonhoso comportamento de um senhor árbitro do Benfica-Nacional e a perdurabilidade do comentário concomitante. A resposta do senhor professor é a esperada da sua retórica a favor de quem lhe paga o salário, não da sua tão reiteradamente auto insinuada sapiência:
«Se fosse o FC Porto, se calhar já tinha acabado ou nem havia conversa. Não me espanta».
Muito recentemente veio a público ter sido o senhor professor bem avaliado por quem de direito. Esta coisa até nem é de espantar, pois estamos em plena era de falatório de avaliação de professores. O que podia espantar, se estivéssemos desatentos, seria o facto de o senhor professor não saber que o clube seu patrão não passa de um clube regional, quase de bairro, que não vende jornais nem agrega audiências. E, por isso, pouca gente perde tempo a falar dele. A resposta era óbvia e a pergunta supérflua, desenxabida e descabida, apenas um agrado de um entrevistador reverencial. Por isso, o clube patrão do senhor professor não pode comparar-se nunca a um clube que há muito ultrapassa a dimensão nacional. Se não soubéssemos do seu redobrado esforço demonstrativo da sua omnisciência, diríamos que a resposta do senhor professor revelava uma burrice deveras surpreendente. A contragosto, o senhor professor só afirmou uma evidência irrefutável e sobejamente comprovada. A hipotética burrice provém da resistência à constatação do incontestável. A excrescência «não me espanta», é apenas um compromisso entre o sapiente e o empregado.
O jornalista amigo e a jeito faz de novo a afirmação do disparate para justificar a pergunta de conveniência:
«Benfica e Sporting têm feito muitas críticas às arbitragens. Que leitura tem o FC Porto?»
A afirmação é falsa como Judas, revelando até reserva mental do seu autor. De facto, os dirigentes máximos do Benfica, apesar dos constantes atropelos à verdade desportiva cometidos contra o clube, mesmo aquando da eliminação da Taça de Portugal, só reagiram quando houve mais um roubo escandaloso cometido pelo senhor Henriques. Eles o afirmaram publicamente, mais ou menos nestes termos: «temos estado em silêncio, não por falta de motivos de sobra para protestarmos, mas para permitir serenidade à missão dos árbitros».
Antes do escandaloso e vergonhoso roubo no jogo Benfica-Nacional, ninguém os ouviu. Mas ouviu-se, alto e bom som, o senhor professor fazer uma berraria ensurdecedora a um árbitro, um tal Xistra, no jogo da Taça contra o Sporting, quando, apesar da incompetência do apito – que é o que em Portugal também não espanta, senhor professor – nem FC Porto ou Sporting foram desfavorecidos. De resto, a berraria foi bilateral, o que só pode significar que ela não foi contra os hipotéticos desfavorecimentos do árbitro, mas contra a falta dos favores costumados, que cada um esperava e, no fim, reivindicou.
A resposta do senhor professor, por conseguinte, também teve de ser falsa e foi-o com toda a naturalidade a que estamos habituados. E duplamente falsa! A realidade é, portanto, bem diversa. Foi o FC Porto, pelo menos pela voz do seu empregado, o senhor professor, aquele que fez muitas críticas às arbitragens, não o Benfica.
Mas foi duplamente falsa, como se disse, porque os árbitros só têm favorecido, e de que maneira, o FC Porto, e não existiu um único jogo em que o desfavorecessem. No jogo com o Leixões – uma das incompetências, como diz o senhor professor - não foi por falta de favores do árbitro que o FC Porto foi incompetente. Aquele bem lhe concedeu o favorzinho de um penaltie a pedido e anulou um golo limpo e cristalino ao adversário, tentando desesperadamente que a incompetência fosse menor ou pudesse ainda ser corrigida. Na outra incompetência que o senhor professor sublinha, pelo menos ficou por expulsar aquele seu jogador, o tal Bruno Alves – em muitos e diversificados círculos também denominado bruto alves – que arreia trancada em barda e que é sempre benzida e branqueada. Finalmente – e foi certamente uma incompetência do esquecimento do senhor professor – pode falar-se do árbitro que também perdoou dois penalties ao clube seu patrão e a favor do Marítimo.
Se acrescentarmos a tudo isto os pontos que iam sendo sacados, escamoteados ou roubados, jornada após jornada, ao Benfica, em proveito exclusivo do clube que lhe paga o salário, seria um grande descaramento vir agora o senhor professor dizer mal das arbitragens. O descaramento também tem os seus limites e o senhor professor é uma pessoa que apregoa e pratica a ética! A tal descaramento nem o jornal do clube seu patrão se atreve. Dê só uma vista de olhos, senhor professor:
« Tribunal do JOGO vem dar razão
O painel de especialistas de O JOGO dá sustentação a várias queixas dos encarnados em lances polémicos, como no caso do golo anulado a Cardozo contra o Nacional, no penálti cometido por Marques (Leixões-Benfica) ou na falta cometida por Postiga sobre Yebda - na grande área - no dérbi com o Sporting.»
E isto, como o texto refere, é só uma mera exemplificação!
Excelente post!
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