quinta-feira, 17 de junho de 2010

A previdência do preventor

Há muita gente ligada aos meios futebolísticos a pensar e a dizer que “o papa” condenado por tentativa de corrupção desportiva já não consegue coordenar bem as ideias, já não age mas reage, remedeia em vez de prevenir.
A idade não perdoa a ninguém, é um facto biológico superiormente comprovado. A esclerose está-lhe associada e o que se costuma bastas vezes designar por desonestidade intelectual como causa – de que a nossa personagem deu sobejos exemplos – já nem será tanto assim, isto é, da desonestidade mas da esclerose.

Todos ainda bem se recordam da célebre prédica do “papa” aos mortos e mais concretamente àquele a que ele chama de seu mestre, num dia em que lhe deu para animar as hostes, do seu clube e dos vizinhos.
Nesse dia se mostrou previdente em farta dose, tendo feito, em estilo grandíloquo e rodeado de grande sublimidade, a solene previsão da conquista do título de campeão.
E, em solilóquio directo com o seu defunto mestre, melhor se fez acompanhar da contrita promessa de lhe ofertar tão emoldurado título que, com devotada presciência de emérito jurador, ali vincou ir conquistar!

Mas a verdade é que, afinal, o acalorado previdente se mostra preventor quando lhe apetece ou quando o seu desconcerto intelectual lho impõe. Tudo depende das circunstâncias e das … conveniências, não se querendo colocar em causa o seu esclerótico pensamento.
Vejamos.

Interrogado Jorge Jesus sobre o futuro próximo, este afirmou, com a mesma convicção com que o fizera no início da época passada, que o Benfica dificilmente deixaria de revalidar o título.
Colocado perante esta convicção e face ao seu já propalado desejo de ganhar tudo, jurando solenemente colocar os jogadores do seu clube na ordem para não mais se darem à desordem nos túneis por onde passam, o “papa” falou, naturalmente sempre com aquela sua solenidade provinciana e desconchavada de coerência, que «costumava ouvir essas previsões muitas vezes: era o Zandinga que as fazia», sublinhando repenicadamente que «a dar prognósticos assim, com certezas e convicções, só me lembro do Zandinga».

Perante estes ditos que não são bacocos porque revelam mal muito mais profundo, quem está de fora só pode concluir que o seu “cantinho de memória” será talvez aquele que está mais apanhado pela esclerose intelectual porque isto nem se consegue catalogar de desonestidade … ainda intelectual, como é óbvio.
É verdade que também há muitos que vão dizendo ter-se o “papa” tornado num mentiroso compulsivo mas ao facto não será arredia a mesma causa esclerótica.
Mas lá que provoca alguma estupefacção esta sua desmemorização tão acelerada, lá isso provoca porque a previdência quanto à conquista do título foi coisa muito assinalada, pelos seus avençados e não apenas, assim como a sua promessa pomposa de dedicação ao seu defunto mestre.

O destrambelhamento manifesto da coerência do pensamento do “papa” condenado é muito bem capaz de ser realmente profundo. Basta pensar que, numa penada só, ele tem mais algumas “saídas” bastante reveladoras.

Perguntando-se-lhe acerca de Tardelli , o “papa” afirma categoricamente: «O Tardelli não tem a mínima hipótese de vir para o FC Porto»!
Logo a seguir, acrescenta: «Nunca digo “nunca” nem “não” … »!

Percebe-se, não percebe?
Agora, diz-se “nunca”, diz-se “não”!
Logo a seguir diz-se que «nunca se diz “nunca” nem "nunca" se diz “não”»!

São muito bons e reveladores sinais … do seu tempo!... Os únicos, aliás, para levar a sério!
A sério, isto é, sinais que vão alegrando os Benfiquistas e todos os que desejam verdade e transparência no desporto português, particularmente no futebol mas não apenas, tão maltratado ele se mostrou de tais virtudes nos últimos cerca de 30 anos.

3 comentários:

  1. Excelente post Vitor, mas atenção, o Papá está rodeado de cardeais muito perigosos e esta temporada para eles é de tudo ou nada, é que se não vencem, aquilo vai tremer por todo o lado.

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  2. Este Papa, que está velho careca mas rico, vai deixar o seu papado comido pelos seus Cardeais, e demais curas.

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  3. Belíssimo post, caro Gil Vicente, caro Vitor Sérgio, nunca sei que nome o tratar.

    Belo post mesmo. Vamos ser se «nunca» ou «não» são os seus antónimos, para aqueles lados, como «sempre» e «sim».

    Abraço

    Márcio Guerra, aliás, Bimbosfera

    http://Bimbosfera.blogspot.com

    P.s.- Fiquei com o Bimbosfera todo besuntado de ketchup. Convido a darem lá um salto para verem.

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