O DESNORTE DE BETTENCOURT

A equipa de futebol do Sporting mantém intacta a sua estrutura de há uns anos para cá. Não vendeu jogadores, manteve o treinador, fez somente duas ou três aquisições, dispensou Romagnoli porque lhe não interessava.
Este facto foi sublinhado com ênfase pelos seus dirigentes e pelos comentadores em geral e tido como um factor de estabilização benéfico para o rendimento da equipa.

Todavia, o Sporting tem feito exibições e resultados tão desastrosos, até mais aquelas do que estes, que os próprios adeptos assobiam ruidosamente a equipa mesmo quando ela ganha o jogo!
Perante o facto, alguns comentadores iam defendendo a tese de que o losango de Paulo Bento estava mais do que gasto. Paulo Bento, esse continuou a ser a carpideira de serviço, aumentando a costumada choradeira do desgraçado e coitadinho contra as arbitragens, numa cadência gradativa e proporcional aos maus resultados e às péssimas exibições da sua equipa.
Nada disto convencia muito o mundo da bola, até que surgiu a personagem principal do desnorte, o verdadeiro rosto da crise!
José Eduardo Bettencourt!
O desnorte da equipa do Sporting estava, afinal, ali bem perto, como, de resto, era natural que estivesse!

Bettencourt deixou finalmente bem claro o seu desnorte com as desastradas e estapafúrdias e, se tivessem mérito para tanto, que não têm, ofensivas declarações acerca do fundo de jogadores criado pelo Benfica e nas subsequentes justificações que alinhavou para o desnorte da sua equipa.
O despautério dessas declarações tornou claro toda uma lista de sintomas e de provas. A desorientação deu lugar ao desespero, o desespero deu lugar à desorientação.

As palavras de Bettencourt acerca do Fundo de Jogadores do Benfica nem de alguém ignorante da técnica específica da matéria seriam de aceitar. Afinal, trata-se de um Fundo aprovado e controlado pela CMVM e que é gerido por um dos mais respeitados e relevantes Bancos nacionais!
Vindas de Bettencourt, não se podem classificar de ignorância crassa. Elas, sim, são vergonhosas, mesquinhas e reveladoras de uma tremenda inveja e puro destempero psicológico! Aplicar a palavra “vergonha” a este Fundo é vergonha, sim, mas para quem a aplica! E uma vergonha muito maior vinda de alguém que tem, dizem, o curriculum académico e profissional que lhe reconhecem!
Elas são, no mínimo, tão vergonhosas como vergonhoso é um presidente sentar-se ao lado de outro presidente que, como veio a público, se gabou de o ter deixado de mão estendida e o chamou de gajo!
Por isso, quando Bettencourt afirma, «continuamos de cara lavada e com a nossa dignidade intacta», está a referir-se apenas ao Sporting que, como digna e grande instituição, assim permanece.
Mas não está, com toda a certeza, a referir-se a ele próprio!

Discorrer como discorre sobre a valorização de jogadores é a continuação de uma demonstração de ignorância congénita do que é o mundo do futebol actual!
Para um presidente que chamou a si o pelouro de futebol do seu clube, a coisa torna-se bizarra e explicaria só por si o desnorte que por lá campeia!

Triste e de uma pobreza de espírito bisonha é igualmente a sua bem publicitada satisfação por um segundo lugar. Para um presidente de um clube que dizem ainda grande, essa satisfação só amesquinha e apouca as suas tristes e tacanhas ambições. No fundo, elas são unicamente o plasmar de um contentamento contente com as migalhas que sobram de quem fica à sua frente!

Bettencourt critica os seus pares que o criticam por não ter soluções, afirmando que são eles que as não têm, conquanto tentem fazer crer o contrário. Para quem afirma que a marca Sporting «é poderosíssima» e as únicas soluções que consegue apresentar são o desnorte, o desespero e o destempero da linguagem, só pode concluir-se pela sua total falta de soluções e tremenda incapacidade para as conseguir!

Afirmar publicamente que a crise psicológica que se abateu sobre a sua equipa de futebol radica desde início na «pressão da onda que se formou em torno do Benfica» é um atestado público de menoridade que passa aos seus jogadores ou, então o reconhecimento, igualmente público, de que a crise requer um bom psiquiatra para os tratar.
Acrescenta Bettencourt que se trata de um «problema de cabeça». E até é capaz de ter toda a razão!
Porém, problema de que cabeça?

Olhar para a casa do vizinho é bem mais fácil, naturalmente, do que olhar, reconhecer e enfrentar os imensos problemas próprios.
Mas é também o reconhecimento público e explícito de uma incapacidade total para o desempenho de um cargo que se ocupa!
Perante tudo isto, será curioso verificar que ordenado lhe irá atribuir a comissão que actua em nome do seu patrão, o próprio Sporting!