quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

OS PINOTES DO LEÃO

Parece que o reino do leão acordou do seu marasmo depois de uma longa soneca aos pés do “papa” seu protector das migalhas sobejantes. Ficamos, porém, em dúvida sobre se o seu despertar se deveu aos maus resultados da sua equipa de futebol ou ao facto de o seu “protector” deixar de ter migalhas para o reconfortar porque está num momento de nem migalhas lhe sobejarem para consumo próprio.

Não se pense todavia que a animação que percorre as veias do leão se deve a um estímulo de busca da regeneração. Nesse sentido, o que há a sublinhar é um discurso de auto consolação e de resignação pelo estado actual, acompanhado da promessa de cópia de um modelo organizacional assente no pagamento de viagens de férias, em visitinhas para tomar café e receber aconselhamentos matrimoniais, no serviço “à la carte” de boa “fruta”, e noutras “especialidades” postas em prática pelo seu até aqui protectorado “papal”.
Diga-se, de resto, que tal modelo fora antes renegado mas isso foi quando o promitente prometia em troca de votos.

A animação que agora pulsa no reino do leão é aquela animação própria das comadres e dos compadres quando na casa não existe, nem pão, nem migalhas, neste caso. É uma animação de ralhetes, de acusações, do devia ter sido assim e não assado.

É uma animação que a nós, Benfiquistas, nos dá um gozo de morrer. A vingança serve-se fria e com requinte!
Não que seja a vingança de um qualquer Benfiquista ou do Benfica porque tal coisa é estranha à nossa índole. Nem quando nos desforramos com vitórias nos vingamos.
É a vingança do destino, aquela vingança que advém do provar da “cama” que se preparou. É outra vingança do “papa” e “protector” que completou a seca de mais um eucalipto, coisa que está na génese desta cúria.
Mas, desculpem lá, se nós, Benfiquistas, não somos vingativos, ainda assim gostamos de gozar do panorama!

Desde que há mais de 20 anos o Sporting deixou de ser o segundo clube nacional, houve por bem refugiar-se numa reconfortante resignação, deixando de lhe importar o estatuto e satisfazendo-se apenas numa vitória contra o Benfica ou em ficar pontualmente à sua frente. Foi-lhe sempre mais fácil deixar de encarar essa realidade “estatutária” e negar-se a si próprio no conforto do protectorado que teve honras de formalização no acordo Roquette-Pinto da Costa.
Propagou-se, então, o antibenfiquismo primário entre as hostes sportinguistas como musa emocionalmente inspiradora da sua consolação e resignação. O Sporting começou a comprazer-se menos com os seus parcos triunfos e bem mais com as “desgraças” de um Benfica em reconstrução e fortemente abalado por falta de afirmação da sua identidade que sofrera grande ruptura a partir do reinado de Manuel Damásio, se afundara com Vale e Azevedo e renascera com Manuel Vilarinho e Luís Filipe Vieira, mas ainda com anos de passos trôpegos próprios de uma convalescença difícil.

Dá agora um gozo tremendo aos Benfiquistas que esta ruidosa catrefada de pindéricas personagens lance rugidos de estertor. Quando Bettencourt saloiamente saltitava ao canto do “quem não salta é lampião”, essas mesmas personagens todas se refastelavam num ego de antibenfiquismo próprio dos tristes.
Quando as coisas começaram a trocar os passos lá no reino e a carpidura de Paulo Bento era insuficiente, Bettencourt ainda então achou que o mal não estava no reino mas do outro lado da circular. Era a euforia das vitórias do Benfica a única culpada das desgraças próprias, uma euforia que causava uma depressão, quer na equipa, quer nos adeptos.
Continuava a manifestar-se, também como um elemento de auto comiseração e de aconchego emocional, a pose de superioridade genética que, embora de fatos surrados e bolsos vazios, ia continuando a fortalecer a hostilidade antibenfiquista.

É pungente esta orfandade do leão. Desmamado da teta migalheira do reino “papal” da corrupção desportiva portuguesa, agora já dá pinotes entre as próprias hostes.
E nunca como agora, nós podemos imitar Bettencourt na sua dança saltitona. Vamos lá, Benfiquistas, saltar de alegria porque agora quem salta é, na realidade, um verdadeiro “lampião” e quem se fica nas covas é um rastejante “lagarto”.

O leão adiou o seu último desastre da temporada ao cair do pano. Foi quanto bastou para que o treinador dos autocarros pedisse “um estádio tranquilo” para o jogo da segunda mão.
E Carvalhal tem razão. Ele deve ter lobrigado Sá Pinto nas bancadas. E estava-lhe a mandar um recado explícito e incisivo.

Só podia ser a Sá Pinto, de facto, aquele a quem se dirigia o seu pedido. Sim, porque os adeptos, esses já costumam deixar o estádio do Sporting na tranquilidade dos túmulos pois eles nem aos velórios comparecem.

4 comentários:

  1. Estes anos todos e ainda não compreendo porque existe este grémio de alvalade.
    Mas, se não existisse riamo-nos de quê?

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  2. Eh eh eh, mais um magnífico texto, cheio de reais farpas, que retratam a mais pura das verdades.

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  3. Sempre em estilo incisivo... Se o Viriato anda de espada em punho, a força da pena, aqui neste blog, é muito maior ainda!

    Abraço e parabéns pelos escritos, caro Gil!

    Márcio Guerra, aliás, Bimbosfera

    http://Bimbosfera.blogspot.com

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  4. Caro Gil, o JEB está a atirar o Sporting para o fundo do poço e ninguém reage. Apesar de tudo sinto pena deles pois para sermos grandes precisamos de adversários grandes e "dignos"!
    Abraço.

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