sábado, 20 de fevereiro de 2010

O “BOM CHEFE DE FAMÍLIA”

Com o respeito devido por opinião divergente, considero que o modo como foram dados a conhecer os castigos aos jogadores do FC Porto foi um acto gratuito, descuidado e perigoso. Os jogadores do FC Porto não são mais nem menos do que todos os outros jogadores de todas as outras equipas.
É por isso mesmo que a solenidade que se quis dar a tal acto é descabida e perigosa porque deixa no ar uma insidiosa insegurança do julgador que, combinada com uma quase súplica de arrependimento por ele ter sido obrigado a aplicar a justiça ao caso “sub Júdice”, fere perigosamente a confiança e a credibilidade, já de si muito abaladas, no triunfo da Justiça.
A Justiça, para triunfar sobre a iniquidade, exige que o julgador seja firme, determinado e unicamente fiel à lei que visa aplicar e aos princípios gerais do direito, tudo isto temperado com a dose de bom senso necessária.
A aplicação e o triunfo da Justiça dispensa tibiezas e titubeações, justifica-se a si própria com a prova dos factos e a correcta aplicação das normas na decisão de que emana o seu plasmar na vida real.
É verdade que o sentimento comum que perpassa já desde há alguns anos a esta parte, no que tange à justiça portuguesa em geral, é o que dimana da história do menino pastor e do lobo.
Solenidades como estas não contribuem em nada para desfazer tal sentimento.

Estas são apenas considerações formais. Deixaremos, porém, uma apreciação mais profunda e de natureza substancial sobre a bondade jurídica da decisão anunciada para momento mais oportuno.


É curiosa e deveras aberrante a justificação que a administração da FC Porto – Futebol SAD apresenta para abonar os actos dos seus jogadores. É evidente que já todos os comentadores da prole há muito que mais do que insinuavam a provocação como a rainha de todo o mal perpetrado por tais pugilistas travestidos de jogadores.
Mas que a reacção às alegadas “provocações” seja um comportamento apropriado a qualquer chefe de família e ainda por cima classificado de bom é que é insólita mas compreensível à luz das circunstâncias, um argumento de desespero dos que não têm argumentos.
Vindo ele de tal agremiação, também nada surpreende.

O “pontífice” mor daquela agremiação tem, de facto, dado sobejas mostras comportamentais de um “bom chefe de família”. Os relatos da comunicação social deram-nos, efectivamente, notícias de brigas até com agressões físicas entre o “bom chefe de família” que preside ao FC Porto e a sua antiga e actual esposa.
Este mesmo “bom chefe de família”, também segundo notícias da comunicação social, aprimorou-se nesse dom aquando da sua visita ao Papa, o verdadeiro, tendo tido o cuidado de lhe apresentar como filha a que era sua amante, não fosse este Papa, o verdadeiro, ficar ferido na sua susceptibilidade cristã.
Ainda no seu “bom” desempenho como “bom chefe de família” assenta como uma luva o recebimento em sua casa do árbitro que, dois dias depois, ia arbitrar um jogo da sua equipa. Como “bom chefe de família”, o árbitro foi em busca dos altos “aconselhamentos matrimoniais” que só um “bom chefe de família” podia proporcionar.

Naquela casa há, por conseguinte, “óptimos” exemplos de comportamentos de “bons chefes de família”. O guarda Abel, na sua agressiva actuação sobre a pessoa do Presidente Jorge de Brito, também estava a exercer os “bons” mandamentos do “bom chefe de família”, tal como derivam da prédica do “bom chefe de família”, o “papa” condenado por tentativa de corrupção desportiva.

Como um “bom chefe de família” actuou também o motorista deste “papa” quando, à saída do tribunal onde este “bom chefe de família” respondia por comportamentos resultantes duma reacção à “bom chefe de família”, atropelou o jornalista fotógrafo do Jornal de Notícias por este o ter “provocado” com a sua máquina fotográfica.

Em suma, se imaginarmos as “boas” reacções de “bons chefes de família” recomendadas pela “cúria papal” condenada por tentativas de batotice desportiva, num desenvolvimento natural do silogismo ora argumentado, não tarda que vejamos os nossos cemitérios cheios de “maus chefes de família” e as prisões atafulhadas de “bons chefes de família”.
Talvez assim o “bom chefe de família” mais conhecido pelo apelido “pida” se não sentisse tão sozinho no penar da sua pena!

Claro que, para que tal acontecesse, teríamos ainda de contar com a aplicação da Justiça pela justiça portuguesa, coisa que, com excepção dos pilhas galinhas, dos socialmente deserdados da Fortuna, não nos parece fácil de verificar nos tempos que correm.

6 comentários:

  1. como não se pode comparar um castigo de 1 jogo a um de 6 meses ou comparar uma multa com uma penalização em 6 pontos, justifica-se a meu ver plenamente a actuação do CD da Liga porque estes casos são de outro calibre e exige-se que as pessoas sejam correctamente informadas.

    a reacção do Porto é a mesma de sempre... reaccionária e extremista, que só sabe apontar o dedo e nunca reconhecer os seus erros.

    PS: viram na SIC uma reportagem sobre os 8 anos do Mourinho sem sofrer uma derrota em casa para o campeonato e como foi o próprio Mourinho que afastou energicamente os seus próprios jogadores? eu não vi sequer os seguranças terem feito metade do que o Morurinho fez! a agarrar com os dois braços e a empurrar ostensivamente. depreende-se que os srs do Porto queriam continuar como há 8 anos atrás em que os seus jogadores podiam destilar o veneno que quisessem contra os árbitros!

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  2. GIL VICENTE, que soberbo post.

    O rosario do "bom chefe de familia" e grande mas ainda faltam aqui muitas contas. Ja sei que dava um livro.

    PS. quanto ao referido no comentario do Tiago, eles eram useiros e veseiros e eu nem me lembrava do drogadito, semelhante a uma que fez mais tarde num jogo com o Boavista e que tambem teve lexivia. Esses tempos era bem mais macabros.

    Ricardo Costa pecou por defeito, mas noutros tempos tudo isto teria passado incolume.

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  3. Eles são patéticos.
    O modo de actuação é igual a anos anteriores.
    Então aquando da conferência, quase que me comovi. Foi um acto solidário ao direito de agressão e afirmam que continuam "unidos".
    Pedir desculpas pelos actos violentos ou dizerem que não foi um comportamento correcto, são ideias que não lhes entra na cabeça.
    São uns injustiçados!!

    Forte Abraço
    ..

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  4. pelo que leio escrito pela pena do Pai dos Autos, o fóculporto está cheio de bons CHEFES DE FAMIGLIA!!!

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  5. Plenamente de acordo caro Gil. É realmente ridícula essa alegação de defesa dos corruptos, sobre o "bom chefe de família"! Mas daquelas bandas o que se espera?
    Grande abraço.

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  6. Caro Gil, bons olhos o leiam... A ele e aos outros.
    Por acaso, depois de ter começado a ler este seu texto comecei realmente a pensar que a nível de justiça temos aqui alguém que sabe o que diz.
    Pelo menos sabe muito mais do que eu.
    Espero, sem dúvida, o tal texto a dissecar, sob o olhar da justiça, os considerandos da pena. Aguardo mesmo!

    Abraço e a ver se amanhã, com certeza, andamos todos mais contentes com o resultado do Porto A e do Porto B.

    Márcio Guerra, aliás, Bimbosfera

    http://Bimbosfera.blogspot.com

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