quarta-feira, 13 de outubro de 2010

MADAÍL E O PENDURA

Sempre afirmei que Carlos Queirós não me parecia ser um treinador com carisma para comandar uma equipa de futebol adulta. Não é que perceba mais de futebol do que o comum dos mortais, aquele “comum dos mortais” que aprecia, mais ou menos, futebol. A minha sensação advém-me da análise que faço dos resultados desportivos da sua carreira de treinador, tal como de algumas análises de pessoas com conhecimentos, tudo isto dado a conhecer pela comunicação social.

Queirós deu uma ideia muito positiva das suas capacidades com as selecções jovens. Deixou a desconfiança com o seu trabalho de treinamento dos seniores do Sporting, conquanto por tais alturas este clube despedisse um treinador como quem muda de camisa. Essa desconfiança foi subindo de grau com a sua primeira passagem pela selecção sénior de Portugal e não se pode afirmar que tenha agora superado os limites porque já lá havia chegado antes.
De facto, a sua chamada a treinador do Real Madrid, ainda mais sob a cobertura de um senhor – penso eu – de futebol como o director desportivo deste clube, confundiu-me. Será que Queirós é assim tão mau treinador?
Afinal, ele até é um adjunto de um treinador de renome!
O resultado, porém, dissipou a confusão.

Madaíl e os seus parceiros da direcção federativa, apesar de tudo isto, contrataram de novo Queirós para dirigir tecnicamente a selecção sénior portuguesa. Na altura, não lhes importou o “curriculum” real e sim, ao que parece, o “curriculum” virtual.
Queirós, pelos primeiros acolhimentos de certos clubes, pela sua reverência e subserviência aos interesses destes e pelas loas musicadas ou graficamente cantadas pelos habituais louvaminheiros do sistema da corrupção desportiva, desafinou chocantemente do belicoso “sargento” seu antecessor.
Queirós era o treinador desejado pelo sistema e os desejos do sistema são volúpias para os ouvidos de Madaíl.

Soube-se agora que o seu comparsa de direcção e dito director com o pelouro das selecções não teve o mesmo voto na matéria relativamente à contratação de Carlos Queirós. Mas a pública confissão do próprio, fonte do conhecimento, tem de ser entendida habilmente, que ela só surgiu após toda esta rebaldaria mal cheirosa a empurrar p’ra sanita, sem gastos excessivos, pelo menos, de papel higiénico, aquele que, tendo naturalmente muitas culpas no cartório, foi querido como bode único expiatório, estando longe de o ser.

Sacudir a água do capote é um dom que parece imanente à maioria daqueles que se auto apelidam de chefes nas honrarias e de vítimas nos desatinos. Seja como for, Amândio de Carvalho, neste especial “affaire”, não se ofereceu como besta de pendura da solidariedade decisória com que Madaíl talvez contasse e deixou este mais dependurado ainda na responsabilidade da contratação.



Tenho ouvido alguns elogios à obra futebolística de Madaíl, inclusive vindos do Presidente do Benfica, os quais até deixaram ufano o elogiado, mesmo lastimando-os de tardios. Quanto a mim, devo ter andado muito distraído.

Não, não é à falta de obra de Madaíl, que este tem servido de “amparo” conveniente ao sistema, seja, designadamente, nos assessores que convida para conselheiros da sua justiça, peritos em “golpes de estado” preparatórios de decisões a jeito e a feitio dos seus amos, seja naqueles que consegue apoiar – se não mesmo propor – para órgãos decisórios do futebol internacional.
Estou a recordar-me, nomeadamente do louvado da mercadoria arbitral, juiz Mortágua.


Recordo-me ainda da “excelente” obra feita em prol do sistema plasmada no não prolongamento do melhor seleccionador nacional pós José Torres, o Bom Gigante. Aquele seleccionador que, digam o que disserem, conseguiu o feito de maior brilhantismo pós campeonato do Mundo de 1966, em Inglaterra.
Falo de Humberto Coelho que conseguiu, no campeonato europeu de selecções na Holanda-Bélgica o meritório terceiro lugar, depois de exibições e vitórias esplendorosas – 3-0 à Alemanha a jogar com os suplentes – a que nem a derrota no prolongamento contra a campeã do mundo e futura campeã da Europa, fruto de um penalti muito discutido, pôde trazer o mínimo ofuscamento.

Em termos de realidade, o segundo lugar do “sargento” é superior na tabela classificativa usada. Se pusermos, porém, em confronto as circunstâncias reais que rodearam um e outro campeonato da Europa, pelos ambientes dos jogos, pelas selecções presentes e sua pujança futebolística na altura, parece-me que a conclusão sobre as dificuldades potenciais que, à partida e no desenrolar das competições, se verificaram, não pode ser diferente.
Portugal ficou em segundo lugar a jogar em casa e contra uma equipa desconhecida e objectivamente mais pobre em termos de potencial futebolístico.
Portugal ficou em terceiro lugar na Holanda contra o país organizador, uma Itália fortíssima, uma França campeão do mundo em título e que viria a sagrar-se a campeã desse europeu.


Madaíl, porém, dependurado nos êxitos da selecção, mais obra quis apresentar! E que melhor obra do que aquela que consagrava seleccionar da turma das quinas um treinador que pertencia ao cerne do sistema? Um treinador que depois fez a figura que fez na fase fina do campeonato do Mundo Japão-Coreia do Sul? Um treinador que até Madaíl se viu obrigado a demitir por não poder, naquela bagunçada de que ele foi o primeiro responsável, ser o pendura dos resultados das selecções nacionais?
Falo, como já deveis ter adivinhado, do treinador António Oliveira, o mano de Joaquim Oliveira. Não aquele António Oliveira (Toni), co-seleccionador, que este de igual modo conseguiu, com seus pares, o terceiro lugar no campeonato da Europa, em França, curiosamente, perdendo também contra o país anfitrião que se sagraria o futuro campeão europeu.

Tão distraído tenho andado que, de obra boa – para além da nomeação de Humberto Coelho seleccionador nacional, obra boa que depois conspurcou – só descortino o ter chamado para deslindar o “golpe de estado” da sua justiça máxima o Prof. Doutor Freitas do Amaral, pela confiança, depois comprovada, no elevado saber do distinto Mestre de Direito.

No rescaldo do campeonato do mundo e de toda a seguinte chafurdice bem conhecida e ainda não esquecida, supomos, pela maioria do povo futebolístico nacional – sabemos, é certo, que não esquecida pelas associações distritais de futebol, com a do Porto à cabeça, apenas porque estas nunca de tal se lembraram, nem lembrariam – Madaíl deu declaradamente a entender que se não recandidataria.
Madaíl, pendura dos resultados da selecção nacional, não tinha a quem se pendurar.
Mas os amigos não dormem. Há que arranjar uns processos, trocar uns passos, desfazer anteriores declarações – houve responsáveis, e responsáveis chefes, que, num primeiro momento, afirmaram mesmo que o controlo anti-doping da Covilhã decorrera normalmente – e condenar somente o seleccionador pelo desarranjo bafiento da porcaria, de modo a salvar os chefes responsáveis, conquanto as suas fatiotas continuem a libertar um cheiro insuportável a mofo.

Arranja-se o bode expiatório, contrata-se novo treinador e os resultados – apenas dois mas importantes, para a selecção e para o pendura da selecção – estão prontos a ajudar à memória do povo, que tais penduras e chefes querem e dizem alegremente curta, numa memória ainda mais curta.

É neste cenário que interrogam de novo Madaíl sobre a sua candidatura. Néscios que baste, os interrogadores ainda vêm com o palavreado de que Madaíl “não confirma se vai ou não recandidatar-se”. Madaíl respondeu claramente que sim, que se recandidataria!
De facto que raio quer dizer, “recandidatar-me não depende apenas da minha vontade, mas de quem me pode eleger, que são as associações distritais e demais membros da assembleia-geral da FPF”, quando praticamente todas, as maiores à cabeça, já apelaram a essa recandidatura?
Madaíl já pode dependurar-se de novo nos resultados da selecção,nas reconfortáveis expectantes aspirações de qualificação da selecção. Está nas suas sete quintas, já nada lhe falta! Água sacudida do capote, apelo pungente, conquanto algo suposta e ensaiadamente humilde, à memória curta das gentes, ei-lo sempre pronto para continuar a sentar-se no tacho das honrarias e devidamente vacinado com a vitimização contra os desatinos.

Quem não gostou foi Baía que já estava a fazer a cama, o trampolim directo ao tacho e ao poder. Coitado do rapaz, há uns dias só tinha tempo para os seus afazeres, para as suas escolas, para as suas fundações. Depois, passou a ter tempo para dedicar todo o tempo – não é o exigido pelo cargo? – a presidente da Federação.
A “sua” Associação – de Baía – apressa-se na publicitação do seu apoio a Madaíl. O “sumo pontífice” que tudo manda, envia os seus mandaretes e fica-se pela calada, uma calada que só as escutas tornaram falada.
Percebe-se a intenção, a prática é conhecida e costumeira, foi assim com a presidência da Liga. O sistema está contente com Madaíl mas, pela sombra, vai preparando alternativa mais da casa, fazendo de conta que não é nada com ele.

Baía já arranjou tempo, já até arranjou tempo para criticar. E vem-se com a ilegalidade de uma Federação que ainda não adequou os estatutos. Ali tão perto, o rapaz – creio que vive lá pelos mesmos becos esconsos onde as tramóias se vão “amassando” – e ainda não descobriu que o grande culpado pela ilegalidade, que só agora que quer o poder e perante o entrave Madaíl lhe veio à memória, é precisamente a sua Associação, que ela, sendo a maior e cheia de experiência sobre as manobras preparatórias do assalto, só não faz com que a Federação entre nos eixos legais porque isso nem lhe interessa a ela, Associação, nem aos donos do sistema, de que ela é um dos grandes “braços armados”.

Fernando Seara disse estar pronto para substituir Madaíl. O Benfica deu-lhe o seu apoio. O sistema espinoteou-se alvoroçado. O Chefe da Associação de Lisboa, subserviente satelizado com o seu clube, alvorotou-se igualmente, num eco desastrado mas bem servido.
Afinal, ser-lhe-ia de todo indiferente apoiar uma candidatura contra o seu maior associado? E ainda por cima, quando o Benfica é, actualmente, o seu único associado fundador, apesar de os mistificadores da história – que no seu clube também os há, embora ainda mais insignificantes do que os do clube amo e senhor do seu – pretenderem, debalde, incluir o Sporting, um mero aderente pós fundação?


Madaíl, o pendura das selecções e da sua (boa) performance, veio terminar com as angústias. O bafio e o mofo continuam de lugar marcado na Federação, o futebol português vai-se anestesiando na mediocridade.
Mas Madaíl mantém o tacho! E julga cumprir um dever, até porque as ainda mais mofentas UEFA e FIFA, de vez em quando, lhe vão reservando uns penachos daqueles que sobram e que o tornam todo empertigado.

Mas Fernando Seara, um Homem do Benfica, também se reverencia perante Madaíl!
Quando é que os Benfiquistas conseguem Benfiquistas dispostos a avançar e a servir o Benfica?
Estamos condenados ao Fado de sermos o Maior e o Melhor e não termos ninguém nos órgãos dirigentes do futebol?

3 comentários:

  1. Apoio e concordo plenamente como sabe, caro amigo Gil!
    É uma vergonha ninguém ter coragem, nem o nosso Benfica de escorraçar um mafioso destes. Sim, porque quem apoia a máfia, também é mafioso.

    Um abraço.

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  2. Brilhante post. E não ficou a faltar nada... Referiu tudo o que se passa neste jogo sujo de poder com grande clareza.

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  3. Que grande texto, mas que grande texto...
    Sim senhor. É talvez hora de o Benfica se assumir. Assumir que as coisas têm que ser faladas, têm que ser assumidas. Se não for Seara, outro. O que interessa é eliminar a porcaria. Até nem me importo que seja como disse Dias da Cunha, mas as coisas têm que ser feitas. Chega disto. Chega da pouca-vergonha que lá se mantém. Gostei muito da ressalva dos méritos e deméritos de Queirós, mas gostei ainda mais do destaque a Humberto Coelho. Porque não ele? Seria uma brilhante aquisição, para correr de lá com o Madaíl, que só me dá nojo ao olhar para a cara dele. Parece que hoje se saiu com uma do género «às vezes engano-me, mas desta acertei», creio que talvez a falar de Bento...
    Haja paciência. Gostei ainda da referência a Amândio Carvalho, que deixou o «pendura» pendurado, ehehhehe! Muito bem vista!
    Quanto a Baía, é o «suplente». O que interessa é o que o patrão manda. Viu que Madaíl ía cair, mandou logo o «office boy» de serviço fazer o seu papel. Madaíl levanta-se, Baía chega-se para trás, como é óbvio. Hoje disse, creio que no Blog do Manuel, que é mesmo tempo do Benfica lançar o seu candidato, antes que os outros se posicionem. Acredito que ninguém queira ir «para perder», mas só significa que temos que tomar medidas urgentes, ou melhor, já as tomámos, e temos que as fazer valer. Não se pode ir aos jogos fora, e aqui está uma razão para isso, que é obrigar os membros das associações a verem os seus cofres sem pilim e a terem que tomar um partido, ou ficam como estão mas sem dinheiro, ou ficam com dinheiro, mas isto muda.
    Creio que, como é costume, o dinheiro vai falar mais alto, mas para isso é preciso que os adeptos, os sócios, façam o que o Benfica quer. Não podemos mesmo ir fora... Não podemos!

    Abraço

    Márcio Guerra, aliás, Bimbosfera

    Bimbosfera.blogspot.com

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