segunda-feira, 25 de outubro de 2010

CHALRICE À PORTUGUESA ... E À BENFIQUISTA!

1. Ou muito me engano ou Portugal, desde há vários anos já, transformou-se num país do palrear, ao mesmo tempo que diminuía drasticamente o país do obrar.
Ou muito me engano ou esta profunda mutação se ficou a dever ao princípio que é imanente e enforma as ditas democracias de estilo ocidental, o qual se consubstancia num conceito decorado, expresso na fórmula “cada qual tem direito a emitir a sua opinião”.

Quase ninguém se preocupou em relembrar que esta fórmula é só uma fórmula geral e vazia, a formulação de um princípio de conteúdo virtual que há que transmutar no seu verdadeiro conteúdo real.
Todo o direito tem no seu oposto um dever e este direito também.
Emitir uma opinião é mais do que falar sobre qualquer coisa, mais do que dar a conhecer o nosso ponto de vista sobre algo. É um falar ou escrever com propriedade, com oportunidade, com sentido de responsabilidade, um falar ou um escrever plasmados de boa fé e do dever cumprido.
São estes os deveres de quem tem o direito de emitir a sua opinião.

Em termos de Estado, ou melhor, de “agentes do Estado” – Presidente da República, Governantes, Deputados, Autarcas, Membros de Partidos, Associações Patronais e Sindicais, Comentadores, Opinantes e todos os que se julgam políticos ou que julgam perceber da Política e do Bem Público – nós, simples governados com direito igual à emissão de opinião, a que assistimos de há tantos anos para cá?
Numa frase sintética: a muita palrice e a pouca governação.

Toda gente que fala ou escreve é sempre senhora de uma sabedoria muito superior ou só superior à gente que faz. Não importa que, num certo momento, muita dessa gente que fala ou escreve já tenha estado no lugar do (dever) “fazer” e não tenha feito nada do que diz depois que faz sempre melhor ou muito melhor do que tomou o seu lugar no dito (dever) “fazer”.

Ao lado do palreio da gente governante não apenas da coisa pública, existe vasta gama daqueles que, exprimindo-se pela escrita ou pela palavra como profissão, se expressam igualmente no sentido de que quase tudo o que é feito por quem está no (dever) “fazer” é mal feito ou muito mal feito.
Alguns destes também já ocuparam o lugar do (dever) “fazer” e, como os outros que acusam, nada fizeram.
Outros, ou se escudaram sempre atrás da palavra e da fuga à prova do fazer melhor ou muito melhor, ou nunca lhes foi reconhecida competência para conseguir fazer melhor do que o seu chalrar vazio de substância e de forma.

O país é o espelho fiel deste relambório.
Uma elite sempre atarefada em dizer que faz muito e bem quando não se encontra no lugar do (dever) “fazer” e nada faz quando se encontra instalada nesse referido lugar do (dever) “fazer”.
Na lida diária, a pagar as contas do “fazer” quando nada fazem, uns e outros, está o Zé Povinho que trabalha e às vezes mal trabalha porque aqueles que os deviam orientar no bem trabalhar só sabem palrar que fazem melhor e muito melhor quando nada fazem.


2. A Família Benfiquista é também ela uma Nação, um mundo de fervor e afeição a um clube que nasceu do Povo e é feito do Povo.
Sofre, por isso, de todos os males de que sofre uma Nação na qual está inserida quase toda a Nação Benfiquista.

Segundo julgo saber, todavia, nem sempre o Benfiquismo da Nação Benfiquista se manifestou na sua história centenária do mesmo modo que tende a manifestar-se a partir dos últimos anos.
O Benfica nasceu sob a divisa “todos por um”, uma divisa que apela fervorosamente à união constante dos Benfiquistas, àquela união que não só levou alguns filhos do povo a erguerem-no como os uniu nas imensas dificuldades para o fazer caminhar e crescer até consumar, bem antes dos actuais dias, a sua história grandiosa como o Maior e o Melhor clube de Portugal.

Há aqueles que, dirigentes ou serviçais de clubes cuja divisa é a inveja da união Benfiquista, conspurcadamente apelidam o Benfica do clube do regime salazarista.
Há outros que, nesciamente, justificam as suas actuais “opiniões”, a que chamam de “críticas”, como necessárias agora, e não antes, porque naqueles tempos o Benfica ganhava, o que agora acontece mais dificilmente.

Aos primeiros, convém lembrar que o Benfica nasceu num regime monárquico, passou por um regime democrático, entrou num regime totalitarista e voltou a um regime democrático.
O Benfica tem 20 campeonatos nacionais ganhos em 48 anos de regime totalitário (taxa anual de 41,6%), e 12 em 36 anos (taxa de 33,3%), no regime democrático actual.
E não tem campeonatos ganhos no regime democrático anterior ao regime totalitário porque, então, os campeonatos que disputou e boa parte deles ganhou, não tinham a designação de campeonatos nacionais.
Todavia, ainda assim as taxas de sucesso nos dois regimes sublinhados não são assim tão díspares.

Mais importante do que isso, porém, o Benfica, o tal clube mirabolantemente do regime salazarista, era dirigido por trabalhadores perseguidos pela PIDE, ao qual obrigaram a mudar o seu hino original e a quem proibiram de lhes chamarem de “vermelhos”!
Um regime salazarista onde pontificavam como altos dirigentes pessoas também dirigentes desses clubes que não teriam sido – mas esses, sim, foram – clubes do regime!
Clubes do regime salazarista no campo de um dos quais – o serviçal – foi levado a cabo o último comício deste moribundo regime!

Aos segundos, dizer-lhes que o Benfica nem sempre ganhou na sua história centenária, passou por momentos bem difíceis, incluindo o facto de lhes ter sido desviada, com oferecimento de regalias mesmo monetárias, uma equipa vencedora praticamente completa.

Só o fervor exemplar dos Benfiquistas pela sua divisa “todos por um” os levou às conquistas, ao suplantar dos momentos difíceis da sua vida, vida à qual outros, endinheirados, ou por descendência de sangue azul ou por proximidade com banqueiros, bem tentaram também pôr fim.
O acordo Roquette-Pinto da Costa não foi o primeiro a querer pôr fim ao Benfica!
Nem foi apenas, como disse o mais digno Presidente do Sporting dos últimos 30 anos – João Rocha – a maior vergonha e iniquidade a que o Sporting se sujeitou.
Foi das maiores vergonhas e iniquidades por que passou o futebol português nas últimas décadas e que a nossa justiça civil branqueou num lavar de mãos mais sevandija do que o de Pilatos.

A união essência do Benfiquismo é a união própria do povo, do povo que luta, do povo que trabalha honestamente e honestamente leva as migalhas do seu suor para casa. Por isso, o Benfica se arreigou cada vez mais no Povo e assim, unido na sua essência, mais do Povo se alimentou e cresceu, cresceu, cresceu!


3. Nos tempos actuais, porém, a divisa do Glorioso Benfica “todos por um” tem levado fortes abalos, abalos não dos que são de fora, que esses fizeram e fazem o seu trabalhinho, sujo como eles e de sapa.
Trabalhinho que, por muitas juras que os Benfiquistas façam da sua hipotética “vacinação”, tem obtido resultados não despiciendos.

Pertencendo pelo coração ao Benfica desde os meus primeiros alvores da consciência, encontrei-me no meio de uma equipa de “violinos” que, com verdade desportiva, ganhava tudo e pouco deixava ganhar aos outros. Nunca ouvi ou me deparei com queixumes mas cada vez com mais união.
Tive, depois, a felicidade de assistir aos momentos mais áureos das suas conquistas futebolísticas, assim como assisti aos primeiros tempos de uma maior repartição das vitórias.
Sei que na sombra se preparavam as manigâncias que haveriam de impor vitórias de outros, baseadas na obscuridade da verdade desportiva.
Era um novo tempo, o tempo em que se começou a sentir que as vitórias de outros nada deviam à transparência de métodos e à consagração da verdade desportiva nos processos.

E a união Benfiquista, a sua eterna e gloriosa divisa, começou a sofrer os piores abanões da sua vida. A antiga solidariedade da Nação Benfiquista em torno dos seus e das suas equipas, a sua divisa de união começou a ser posta em causa pelos próprios Benfiquistas.
Aquela união que, no antigamente, fez nascer, crescer e enfrentar todas as “epidemias” com que quiseram sufocar o Benfica e que não só venceu todas as batalhas como o levou à sua Glória ímpar, foi fortemente abalada.
O Povo Benfiquista, parte do Povo Benfiquista, aburguesou-se no trabalho do sabe tudo e nunca fez nada, no “eu é que sei como deve ser”, sem saber nada, maldizendo tudo e todos com a apresentação de uma sapiência que nem sequer lhes serve para descortinar onde está o inimigo, o verdadeiro inimigo.
O verdadeiro inimigo é aquele que começa na morte da divisa do Benfiquismo “todos por um” e se amplia na subsequente consecução da desunião pretendida pelos que desvirtuaram sem pudor a verdade desportiva.

Para este festival de treinadores de bancada e de dirigentes do sabe tudo, não sabendo nada, nem de treinadores nem de dirigentes – sim, que alguns ainda dizem “eu sei do que falo”, “eu tenho provas”, sem nunca demonstrarem a sua razão de ciência ou as suas provas do saber – basta que ocorram alguns deslizes da equipa de futebol.
Quem disse que os homens eram máquinas?
Eu assisti a um campeonato ganho pelo Benfica, com quase uma dúzia de pontos de avanço – e a vitória só valia dois pontos – depois de a nossa equipa ter estado a sete pontos do primeiro classificado!
Foi certamente a desunião, a chamada crítica aos jogadores, a certos jogadores e equipa técnica, ou aos dirigentes, aquela que valeu então ao Benfica!...

E depois, que tristeza assistir às marionetes que alinham consoante o parceiro do lado e que nem sequer sabem estar de bem com Deus e com o diabo!

A crítica, mas apenas e só a crítica, tem lugar, tempo e forma. E tem sempre a guiá-la, a conduzi-la, no Benfica, a divisa “todos por um”.
E se a crítica é esta avalanche de gente que, deixando de fazer o que sabia e devia, a sua exaltação à união Benfiquista, e, de repente, se acha também possuída de uma sabedoria muito superior ou só superior à gente que faz, então não sei se é o genuíno Povo Benfiquista que fala ou escreve, ou se parte dele, enfeitiçado pela palrice a que assistimos acerca da coisa pública, não foi contaminado pelo charlatanesco que aí abunda.
Torna-se mais triste ler escritos ou palratórios de certos Benfiquistas cheios de saber fazer e que nunca fazem mais do que escritos e palratórios do que as derrotas que são golpes profundos nos corações dos Benfiquistas.

Eu me insuflei de Benfiquismo um pouco diferente. E escusam de vir com essa de que em democracia – e o Benfica é um clube democrático, por essência – todos têm direito à sua opinião porque eu também sempre tive opinião, mesmo quando ela me dava pauladas – em sentido literal – perseguições e detenções.
No meu Benfiquismo, sempre achei que nos momentos difíceis é que a nossa divisa “todos por um”, a nossa divisa da união, mais precisa é.
É uma divisa que exige sofrimento, sofrimento nas adversidades e, principalmente na exigência da subordinação dos nossos egos ao seu bem mais profundo.

No fim de tudo isto, há sempre os que são tentados a dizer “eu critico mas o meu Benfiquismo é profundo, continuo a apoiar do fundo do coração o Benfica, o Benfica para mim é tudo”.

O Benfica, realmente, é e deve ser tudo para os Benfiquistas, nunca os homens que o servem em determinado momento, conquanto estes, enquanto actuem como representantes do Benfica, sejam o Benfica a agir e, consequentemente, têm de ter, nessas circunstâncias – e só nessas circunstâncias – o apoio, a união de todos os Benfiquistas.
Um apoio e uma união que não são a esses representantes mas a quem eles representam, o Glorioso Benfica.

Mas, por amor de Deus, exprimir desunião, dizer mal sob a capa de crítica e do direito de emitir opinião, sem a consequente responsabilidade da propriedade, oportunidade, espaço e tempo, tudo em que se traduz o dever especial de actuar de boa-fé, boa fé nos actos, não nas intenções, e vir depois dizer que se apoia, que nunca esteve em causa o amor pelo Benfica, lembra-me aquele marido – mais nos tempos do acentuado patriarcado – que dá uma carga de pancadaria na mulher e logo a seguir lhe segreda, “eu amo-te”!

Não há nem pode haver união no meio da desunião!

1 comentário:

  1. O ter direito á sua opinião não é o que está em causa e sim o de saber quais as consequências que dessas opiniões podem resultar. A sabedoria do Povo tem um bom e perfeito exemplo do que afirmo: lembram-se da fábula - "O velho, o rapaz e o burro"? É de uma gritante actualidade. Todos falam e dão "leis", mas ninguém acerta. Eis o perfeito retrato da "democracia"! Também sou desse tempo e lembro-me muito bem dessa faceta dos sete pontos de atraso e que depois ganhamos com os doze de avanço. Mas eram outros tempo, sadios e limpos. Apesar de o Benfica levar também no presente sete pontos de atraso do primeiro, nada me preocuparia se tudo decorresse com lisura e seriedade; mas todos sabemos que, nestes tempos, há Organizações Criminosas que, sabe-se lá como, se apresentam como invencíveis. Daí o fenecer da esperança!

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