quinta-feira, 11 de março de 2010

A ORAÇÃO DA OFERENDA DO “SINCA-ZERO”

Homem do sepulcro e mestre das tramóias desportivas que bem sabíeis pedir as lecas necessárias ao bom tratamento dos homens do apito, acudi-me nesta hora em que o crescimento da minha equipa atingiu o seu zénite do esplendor desejado nestas paragens de um Portugal mais vasto do que o bairro de Contumil. É que eu agora, caro mestre, já nem sei que fazer mais a uma equipa que mais não sabe fazer. E, para te confessar toda a verdade, que só assim ganharei azo às tuas sacrossantas prédicas, também já o “papa”, seus “cardeais”, “bispos e arcebispos”, “arciprestes” e “curas”, mais os “santos” e “santinhos”, seus guarda-costas e guarnição miliciana em riste, todos eles, em coro afinado desta vez, também menos sabem o que fazer comigo.
Conto contigo, digno mestre das esconsas vielas da escuridão das “verdades” dos apitos, nestes momentos em que tão azoinado me sinto após aquele topete dos “emiratos”.

Caro mestre, sei que te fizeram promessas que só poderei classificar atiladamente de velhacarias para com a minha desmazelada audácia, por via de tais promitentes nunca comigo terem proseado acerca de tais prometimentos, num tormentoso proscénio da minha arte de treinamento.
Pelo que vedes à causa disso, sabei que não estou nada satisfeito com gente ingrata, perversos velhacos de prometimentos vãos que, pertencendo ora ao nosso império, uns mais do que outros, tampouco se envergonham já de usar meu nome, agora muitas vezes aplicando-o a mim com títulos oprobiosos.
E ao saberdes bem que, embora se esgadunhem na sua assunção de atitudes sábias, de que massa são feitos, não serão eles somente loucos varridos de acordo com as ventanias sopradas do “papa”, assim se tornando uns sopranistas castrados na sua liberdade e acção?

Por via das promessas que te hão feito de forma assaz solenizada pelas abomináveis faces de um “papa” da odiosidade que te julga ainda do seu reino quando tu, excelso mestre, nem nas tuas catacumbas o hás desejado ainda, tais peralvilhos deixaram de assuntar sobre os bacanos dos stwards e o velhaco do jurista chefe da comissão de disciplina, avacalhando-se agora unicamente no meu tormentório.
Pois esses fiéis velhacos do “papa”, menos bem conhecedores do meandroso crescimento nosso, assaz demonstrado na contemporaneidade do “penta” nas nebulosas aragens londrinas, mesmo assim não param de desentranhar rançosos papeis e domesticar quatro ou cinco vocábulos com os quais lançam a bruma sobre nossos entrapados feitos.
E assim vão lançando as poeiras aos olhos da cúria de forma que os de entendimento algum se compadecem do próprio saber e os de mitigado entendimento tanto os admirem quanto a proporção da própria ignorância.

Sabeis bem, desgracioso mestre sem canudo de oferenda dos prometimentos que a eles e não a ti só saciaram, que a minha conduta, rabugenta e rubicunda quanto baste, me tem parecido ainda assim mais modesta do que a que costuma ter a maior parte dos cúrios do reino.
Estes, se julgando de sábios dos maiores do mundo em compras e vendas e outras manigâncias em tempos de treva, os olhos fechados para o Farol que ascendeu da Luz, calcam todo o pudor aos pés e subornam qualquer panegirista adulador ou poetastro tagarela os quais, avençados ao oiro, recitam os elogios que os tempos de agora demonstram ser, afinal, uma ramelosa rede de mentiras.
São pavões a alevantarem as crinas, eles que, com voz de timbre descarado, houveram em tempos por bem comparar-me aos deuses, eu, um homenzinho de nada e do nada apresentado como modelo absoluto de todos os predicados futebolísticos, numa gralha de penas que enfeitaram nas suas.

Todavia, bom mestre das tumbas, não me regateareis, ao menos, algumas virtudes, eu que, nos tempos do ocaso da Luz e só com um subserviente do nosso reino “papal” a fazer de conta, consegui algumas trauliteiras conquistas.
Por isso, se outros as olvidaram na pusilanimidade das suas emplumadas penas de ronceiros com roncaduras comprados a pipetas de oiro e de “fruta”, mesmo e até por isso, em tempos modernaços de um novo “sincazero”, não me xingareis que faça a mim próprio o panegírico que ouso merecer, que ele, sendo verdade que talvez não seja oportuno, não é estudado ainda e, assim tão sincero como o novo “sincazero” que se sucedeu a tão intempestivo e azarado despacho de Alvalade.
Não vos falo por ostentação ou mesmo engenho como vos fez aquele tão baço quanto raivoso orador dos prometimentos do “penta” que só eu consegui sem to prometer.
Falo-vos porque gosto de falar sobre coisas que me interessam e são da minha área de entendimento e, com vários resmungos, diga o que me vem à tona. Não com as bacoquices de um promitente que, por se julgar “papa”, vos promete uma visão sem reparar que morais no aconchego das mortalhas e sem vos oferecer o preciso canudo com que possais espreitar, não o “penta” dele, o a vós prometido, mas o meu “penta” adornado do “sincazero”, agora em terras de Sua Majestade.

Bem sabeis que é assim, mestre engenheiro dos roubos de igreja na paróquia do “papa”. Por isso, se há ou houve alguém que não tu, que se tenha desastradamente iludido com a minha sapiência e homem das luzes do treinamento futebolístico, teria bastado e bastará que me olhe de frente para logo me conhecer a fundo sem necessário ser eu servir-me de palavras.
Não sou um simulador e eis que me arrelio tanto com as simulações e os atrevimentos de as assacarem aos meus pupilos da sorte. Os que ousarem o contrário, não serão eles mais do que macacos trapolas e burros vestidos com calças esfarripadas.

Por conseguinte, mestre também meu desde que aqui entrei, neste igualmente teu reino ido que conspurcaste com as tuas prédicas sobre a implantação da aldrabice futeboleira, aceita de bom grado esta minha pequena arenga como um presente de um bom amigo e coloca-a sob teu patrocínio sepulcral como coisa sagrada. Tende em conta que a arte que neste reino aprendemos é mais tua do que minha.
E, por fim, tende bem em conta que, longe de meus e de outros prometimentos quimeriosos, te apresento oferendas do concreto, coisas que não precisam de canudo, que eu as vivi com a santidade do nosso “papa” naquele reino de luz que dá por nome de “emiratos” e fica nas terras de Sua Majestade. As minhas ofertações não são quimeras mas reais.
O meu “penta” é um idolatrado e fulgurante “sincazero” que adorarás nessas tuas sepulcrais mansões! E podeis, finalmente, descansar na paz que todos os mortos devem gozar sem restrições, desde que não ouseis dar vez alguma mais ouvidos aos prometimentos de um “papa” envergonhado com o nosso “penta” e de tal modo medroso que nem a sua bênção paroquial nos protegeu na nossa chegado ao cantinho das trevas do seu reino.

9 comentários:

  1. Ui, ui, caro Gil! Agora tomei um tempinho para comentar! Tive a página aberta o dia todo, e só agora, início da madrugada, digo o que me vai na alma. Primeiro, assim que me deparei com o tema da «arenga», como lhe chama, pensei cá para os meus botões, já falei disto lá no meu blog, mas sem ser assim tão engenhoso, como são sempre, os seus Autos! Autos da Fé, neste caso, Autos do Penta, em latin «sincazero»... Ehehehe!
    Entrentanto, devo dizer que a frase que me cativou totalmente foi essa.

    «O meu “penta” é um idolatrado e fulgurante “sincazero” que adorarás nessas tuas sepulcrais mansões!»

    Caro Gil, está brutal!!! Parabéns! Um dia destes ainda me há-de mostrar como é que escreve, se é algum programa informático que traduz um texto normal para as palavras sinónimas menos conhecidas, eheheheh! Os seus textos são brutais mesmo, parabéns!

    Entretanto, pronto, lá vou à minha vidinha, dar mais uma olhadela por aí, que hoje as coisas não correram bem, pese embora se tenha visto um muito bom jogo de futebol, apenas pouco salpicado de golos, mas que ainda assim teve um a mais do que os que deveria ter tido, e já veio até perto do fim... Paciência... Não, paciência Enão, Jesus... eheheh!
    Creio no entanto que isto, da eliminatória, ainda está em aberto... Pelo menos assim o espero!

    Abraço

    Márcio Guerra, aliás, Bimbosfera

    http://Bimbosfera.blogspot.com

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  2. Como é que escrevo, Márcio?
    Olhe, fruto de muita leitura desde os meus mais verdes anos. Leitura de todos os escritures, portugueses e não portugueses, desde os tempos da literatura que, em Portugal, passaram pelas cantigas de amor, de amigo, de escárnio e mal-dizer, depois pelos romances de cavalaria, portugueses e estrangeiros (Amadis de Gaula) os 12 Pares de Inglaterra, etc), clássico de todo o mundo, Portugal incluído. Que gozo ler, por exemplo, o D. Quixote de La Mancha, o Elogio da Loucura, o Princípe e tantos, tantos outros que a minha memória já não alcança.
    Seguiram-se os "barroscos", os pré-românticos, os românticos e ultra-românticos, os "realistas", os contemporâneos.
    Gostei sempre de ler, de ler muito. Por isso, acho que tenho um vocabulário bastante rico, fruto de todas essas leituras.
    Depois, há sempre uma ferramenta essencial que sempre me acompanhou e me acompanha: O dicionário de Português.
    Tenho dicionários de Português mais antigos, velhinhos, que contêm muitos vocábulos que os novos já desprezaram.
    Finalmente, escrever, escrever, escrever! E gostar muito de escrever.
    Depois, quem escreve é ainda um criador da palavra. E eu não fujo à regra!
    Um abraço

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  3. Caro Márcio
    É evidente que também li - e me esqueci de mencionar - os escritores antigos, em especial gregos e romanos. Eu tive de estudar latim e gostei muito de o estudar. Gostei muito de conhecer a história e literaturas antigas, greco-romanas e outras. Li os clássicos, as epopeias de Homero e Virgílio, os filósofos gregos, os historiadores romanos, etc, etc.
    Agora, já não existe muito a paciência para ler.
    Mas repare que digo ler quando se absorvem as palavras, quando se "bebe" o seu sentido.
    A vida agora é mais rápida, o conhecimento dá-se mais pela visão, as conversas são curtas e orais, a história do passado não conta, só a do presente e a do devir que se antecipa, no cinema e noutros meios de divulgação.
    Um abraço.

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  4. Olá de novo, caro Gil! Por acaso, ando com o Elogia da Loucura, por mim mesmo, sem ninguém mo aconselhar, na pen, para à noite o ler. E é pequeno, até, 70 páginas, ou pouco mais. Só que depois prende-se o tal problema, que passa pela absorção das palavras como substitutos de outras para o que querem dizer. Ou seja, se eu sei uma palavra que quer dizer algo, no meu pensamento uso a palavra mais comum, a que acho que de forma mais directa responde, ou diz, o que quero dizer. Ou seja, não me ocorrem, ou selecciono naturalmente, palavras mais directas para o que digo, e com isso não passo por essa tal fase de absorção, ou, se as leio, por exemplo aqui (ou noutros livros, claro), não as consigo memorizar, interiorizar, para terem esse sentido depois mais à frente quando as puder usar. Verdade seja dita, algumas começam a ficar, eheheh, e gosto muito da «amásia», como se refera à «ex» do Pinto da Costa, ehehehe, nalguns textos!
    Seja como for, tempo, realmente, para ler, é cada vez mais diminuto. Dou-me conta de ter não sei quantos blogs abertos para ler e não conseguir ler tudo, ler um livro, então, está um estacionado na mesinha de cabeceira há não sei quantos anos...
    Vamos a ver o que futuro reserva... Sei lá!

    Seja como for, obrigado por responder, acho interessante a lista que mencionou para chegar a este ponto.

    Abraço

    Márcio Guerra

    P.s.- Já agora, o livro que estou a ler, para além do da mesinha de cabeceira, que é o «Justine», do Lawrence Durell, para o qual já tinha feito inclusivé um trabalho para a escola, para conceber uma capa para os 3 ou 4, 4 creio, e uma embalagem para todos, foi num exame há 2 anos, acho eu, e só agora é que o vou ler, mas tenho todos em digital, sendo este o único em papel, e ando a ler, no telemóvel, está a 1/4, mais ou menos, José Cardoso Pires, «Balada da Praia dos Cães», e gostaria depois de ver o filme, em que o saudoso Raúl Solnado interpreta o papel principal e que nunca vi! Ah! E o «Elogio da Loucura, também em digital, no meu computador da cama, do Erasmo de Roterdão!

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  5. Caro Márcio, não tenha pressas. Vá lendo, ouvindo e absorvendo. Depois, com a prática da escrita, vai ver que consegue.
    Aliás, pelo que já vi nem sequer é daqueles que mais dificuldades terá, bem pelo contrário. Já consegue muito. A sua escrita já é muito bem apurada de sentido e profundidade significante.
    E tem um sentido irónico muito fino.
    Vê-se bem que já tem um estilo definido e bem próprio de se expressar.
    Continue.
    Um abraço

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  6. Vai boa a discussão literária! Espero não vir interromper, embora já atrasado.
    Faço minhas as palavras do Márcio, grande enciclopédia vai nessa sua cabeça, caro GIL.
    Um abraço.

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  7. Caro Manuel
    Nunca interrompe. O meu caro é daqueles que estão dentro do assunto e não teme este tipo de discussão. Tem bagagem suficiente para tal.
    Mas há muitos e muitos Benfiquistas, e só falo os que passam aqui nos blogues da Gloriosasfera, quer "postando", quer comentando, que, felizmente, também estão à altura da discussão.
    Nós, todos os Benfiquistas, somos um clube do povo, todos nós somos povo mas, felizmente, não
    temos medo de enfrentar a palavra.
    Um abraço

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  8. Boas! A mim também não interrompe nada, pelo contrário, mas já agora podia ter dado uma contribuiçãozinha para a discussão, com bons livros para ler. Já li o «Vidas Secas» duas vezes, creio, do Graciliano Ramos, brasileiro, porque gostei, e arranjei o filme, mas ainda não vi...
    Isto o tempo não chega para tudo, e depois temos que vir aos blogs dos amigos para comentar, hheheheh!

    Abraço

    Márcio Guerra

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  9. Certamente que muitos de nós não têm medo de enfrentar a palavra, como o Gil Vicente diz no último comentário, mas convenhamos, a escrever com este requinte e com esta elaboração fabulosa, só aqui o Coração Encarnado! É que nem há nenhum blog na Gloriosasfera que se compare.

    Abraço

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