quinta-feira, 4 de março de 2010

O “requiem” e os peditórios dos arautos da “verdade desportiva”

Foi assaz “comovedor” assistir àquilo que designaram por manifestação espontânea e vigília às portas da Liga, aqui há uns dias na cidade do Porto. Uma manifestação convocada por vários meios de comunicação mas, ainda assim, “espontânea”, saída do nada, por “motu próprio”, sem sugestão de quem quer que fosse.
Mais comovente, todavia, foi o intuito da manifestação e esse deve ser gravado a letras, não direi de ouro, mas de latão que até este mal se sentirá em tais achados. De facto, assistir a manifestações pela “verdade desportiva” por parte de quem se encontra condenado por atentados a essa mesma verdade não deixa de ser sintomaticamente instrutivo da plebe que dá corpo a desideratos tão eivados de veracidade quanto de hipocrisia e cinismo.

É nessa luta que um clube impulsionado pelos seus dirigentes de gabarito tal que até falam com a Divina Providência e se acobertam à sombra da Justiça Divina prossegue a sua saga em prol da (sua) “verdade desportiva” de que são arautos e tão sacrossantos fiéis.
O novo passo é, agora, a luta para desfazer a lei que propuseram e aprovaram, a tal lei das suspensões por tempo indeterminado que era óptima e constitucionalmente “verdadeira” – na sua versão de “verdade desportiva” – para apanhar outros na ratoeira armadilhada.
No entanto, quando o rabo de palha é grande, sujeita-se a ficar preso na armadilha que engendrou. Nessa altura, a bem da tal “verdade desportiva”, apela-se aos santos da terra que considerem má aquilo que tais apóstatas tinham por certa e verdadeira, se a outros infligida.

Estamos a falar de gente prenhada de todas as virtudes, gente de bem, de verdade e honorabilidade na vertente desportiva, gente que não nega as manigâncias que as escutas confessam, mas nega o direito de serem ouvidas fora do circulo dos “virtuosos”. Trata-se de gente que já excomungou todos quanto se propuseram investigar os seus andarilhos negociais mas que anda de tribunal em tribunal a contas com uma justiça que, de justiça com tal gente, vai sucumbindo nas rezas sacrílegas do reconforto na sua “Justiça Divina”.
Não espanta esta atribulada peregrinação em gente cujo fervor petitório encontra eco num “papa” de mentira e de “verdade desportiva” tal que, por ela, se encontra condenado. Esse “papa” tem dado o exemplo do que é frequentar os tribunais, não raras vezes na pele de arguido protegido pelos santinhos da justiça civil que, com cafés e leitinho, se convencem de uns aconselhamentos matrimoniais.

Não é o nosso (deles) “papa” o que terá assento agora nos bancos dos réus em tribunal. São os seus fiéis “cardeais” e “arcebispos” que, cantando a mesma missa e rezando os mesmos padre-nossos, aqueles que agora têm direito ao “honorífico” assento. Os seus fieis da corte próxima, dos ofícios “papais” quotidianos e os seus fieis que, em tempos de pedincha, se sentavam no trono civil de uma cidade pagante das tropelias sacrossantas do reino.

Ninguém de nós, eternos e felizardos pagãos de tão “augusto papado”, se pode surpreender com as penúrias do reino “papal” da corrupção desportiva condenada. Trata-se, afinal, de um reino que já nos habituou a vê-lo percorrer os corredores da arguição criminal por várias arenas da insossa justiça civil portuguesa, seja pelo seu “papa”, seus guarda-costas, cardeais, arcebispos e bispos, arciprestes e todos os “dignitários” da cúria.
Afinal, a procissão ainda vai no adro e a justiça civil portuguesa só nos habitua a vê-la passar e recolher com as vestes apenas enferrujadas do “não provado” que o provado é insulso.

Um reino de sacrossantidade tanta não tem dificuldade, em tempos de aflição penuriosa, quanto a igrejas, sés, catedrais – menos a nossa – capelas e capelinhas para, de boné e mitra, carapuço e barrete – que agora tiveram a subida honra de enfiar – estendidos, ir rezando a todos os santinhos a fineza de uma miserenta esmolinha para expiar as agruras de uma angustiada posteridade que a cúria prefaciou em “miserere” adequado à sua “pontifícia” condição de reino “papal”.
Foi um adventício sentimento prefaciado, não uns adivinhamentos que são meios sacrílegos em tantas e virginais purezas.

Faz bem o reino “papal” em antecipar os seus peditórios porque o banco “champions” também parece ter sido levado na enxurrada da crise futebolística de uma equipa mais propícia às artes marciais do que a jogar futebol.
Faz bem o reino “papal” enviar um seu “cardeal” à porta dos “banqueiros”, com a mitra estendida na pedincha da esmola salvífica.
Todavia, se ele regressar com a notícia de que o crédito está difícil porque os banqueiros resolveram subir os spreeds, nem os salmos e as prédicas costumeiras lhes valerão desta vez. Certamente que o “papa” ordenará aos outros que façam novenas, vigílias, cantem salmos, orem à Divina Providência.
Quer-nos parecer, todavia, que, se agora os não atenderem os previdentes cá da terra, nem os das alturas os ouvirão “sacrilejar” que de sacripantas tais já estarão atulhados.

Mas toda a sacrossanta cúria “papal” pode contar sempre com os nossos sorrisos porque o ridículo dá sempre graça, tanta mais quanto ele prolifera nesse reino de “santidade” e virtuosismo da “verdade”.

4 comentários:

  1. CARO GIL VICENTE, PARA NÃO VARIAR... EXCELENTE POST, PARABÉNS!!!

    O POST É EXCELENTE MAS PERMITA-ME QUE DESTAQUE ESTA PEQUENINA PARTE, COMO DIRIAM ALGUNS, A ÚLTIMA ESTOCADA - "Quer-nos parecer, todavia, que, se agora os não atenderem os previdentes cá da terra, nem os das alturas os ouvirão “sacrilejar” que de sacripantas tais já estarão atulhados."

    SUBLIME!!

    SAUDAÇÕES GLORIOSAS
    RF

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  2. Caro Gil, para não variar, mais um fantástico post e oportuníssimo como o Saviola.
    Como sei que é meio desatento ao Jornal da Gloriosasfera, faça uma visita ao mesmo quando puder.
    Abraço.

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  3. Mais uma excelente dissertação de Português adequada ao tema do momento, do nosso Grandioso Gil Vicente. Um grande Bem Haja e que continue a ''malhar'' nestes trauliteiros sem vergonha.

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  4. Um post do mais fino requinte (não ironia, que isso é noutras bandas...).

    Abraço

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