Nestes últimos dias ou horas, dois acontecimentos
dominaram a imensa e variada blogosfera Benfiquista, cada um com a sua razão, a
sua crítica e a sua não crítica, a sua paixão e a sua coerência da incoerência.
Foram eles a compra de Salvio e o empréstimo de
Nelson Oliveira ao Corunha.
Começo por um blogue que, abordando a aquisição
de Salvio, fala precisamente da incoerência Benfiquista que ele atribui à
imensa paixão com que os Benfiquistas vivem o Benfica.
Estou substancialmente de acordo com a análise
plasmada neste blogue. Compreendo, inclusive, que ele utiliza o eufemismo
incoerência para classificar não apenas a divergência – saudável num clube de
matriz profundamente democrática – mas ainda o tradicional “estar do contra” e
a suposta crítica a ele associada e que não passa de maledicência porque sem
fundamentação de espécie alguma, quer da opinião divergente apresentada, quer
da alternativa correspondente, quando ela aparece e aparece muito raramente
nestas situações.
O autor do texto analisa o caso da incoerência
Benfiquista no âmbito da aquisição do Salvio. E onde melhor a define é neste
seu cometário, um comentário resposta a outros comentários:
«Há um ano, alguns Benfiquistas chamaram de tudo
ao Vieira por não ir buscar o Salvio, hoje são os mesmos que escrevem nos
blogues a criticar o Vieira por o ter ido buscar …»
O ilustre Benfiquista autor do texto e do
comentário sente muito secretamente que na actualidade talvez se não
justificasse esta aquisição, mas não vai ao ponto de a condenar sem mais, abordando
razões desse seu sentimento porque, presumo, não está por dentro das que
moveram a gestão do Benfica e não pretende arvorar-se, sem comprovação substancial,
em processos de intenção apenas para sublinhar que “está do contra”.
Por isso, aceita-a no pressuposto, presumo, de
que, quem tem a missão de gerir porque para isso foi mandatado pela vontade
democrática expressa livremente, o faz sempre com o objectivo de melhor servir
os interesses do Benfica.
Sinto-me mais ou menos irmanado destes mesmos
sentimentos, incluindo da justificação da incoerência dos Benfiquistas com a
sua imensa paixão pelo Benfica.
Esta incoerência, aqui de sentido mais
eufemístico ainda, é superiormente vincada por outro ilustre autor de blogue.
Aqui, a incoerência de que se fala – em termos genéricos, obviamente –
expressa-se mesmo numa crítica frontal a tal acto de gestão. Só que, com o
merecido e devido respeito, aduz em legitimação dos seus juízos um elenco de
jogadores que chegaram ao Benfica no planeamento e preparação desta
época para jogarem a “extremos” e que contempla os nomes de Hugo Vieira, Ola John, Enzo Perez, Melgarejo! E para a frente do ataque chegaram também, acrescenta, Kardec,
Mora, Michel.
Sublinhei a palavra “chegaram” porque do
contexto ela parece nitidamente ser sinónimo de “adquiridos”
Todavia, penso que se devem clarificar alguns
destes pontos. Em primeiro lugar, sublinhando que não sou um “expert” no
treinamento de futebol e muito menos no de alta competição, tenho ouvido falar
e lido que Hugo Vieira é mais tipo ponta de lança, primeiro ou segundo, como se
diz, não tenho a certeza. Em segundo lugar, Enzo Perez e Melgarejo já “chegaram”
há, no mínimo, um ano atrás, já eram jogadores do Benfica. E o mesmo aconteceu
com Kardec e Rodrigo Mora.
Em suma, o Benfica nesta época adquiriu para a
sua principal equipa, presume-se, apenas Hugo Vieira, Ola John, Michel e agora
Salvio, jogador de cujos direitos patrimoniais o Benfica já era proprietário
com uma quota de 20%.
Sem esquecer que tenho, aprioristicamente, um
sentimento de alguma desnecessidade na aquisição de Salvio, apenas me parece
ser de realçar que a justificação não é correcta porque o elenco enunciado não
corresponde à realidade.
Mas onde me parece que este mesmo autor do texto
falha na fundamentação é no que escreve acerca das necessidades que sente – e
com ele a grande maioria dos Benfiquistas, nos quais me incluo – relativamente
ao reforço das alas defensivas e, agora já sem a minha aderência, das
necessidades de trinco e médio centro.
Quero deixar bem expresso, não é pelo facto de
ele escrever, «a inexistência de defesa esquerdo ou de
alternativa a defesa direito, trinco e médio centro são certamente desvarios de
um adepto pessimista e com febre», que vou deixar de justificar aquela incoerência supra descrita
com a enorme paixão Benfiquista. Ela existe, efectivamente, e comanda em grande
parte também, estou praticamente certo, a crítica deste bloguista.
Acho, no entanto, que está para além dela.
Antes do mais porque não justifica o seu “pessimismo” e a sua “febre”.
Terá competências técnicas para concluir, mais
do que da sua necessidade, da possibilidade de se terem conseguido colmatar as
deficiências que nota?
Estará bem por dentro do mercado e poderá
afiançar que, se esses reforços não chegaram, foi porque a gestão ou o
treinador não quiseram, ou porque julgaram não precisar ou porque não
pretenderam dispêndios financeiros avultados?
Não se importará que chegue outro Emerson que
foi cruxificado ainda antes de ser julgado, sem embargo das suas deficiências
duramente empoladas e que subverteram inteiramente algumas qualidades que
também possuía?
Não afirmo que este ilustre bloguista não possua
tais competências. Afirmo é que não as trouxe ao nosso conhecimento em
fundamento da sua crítica, indirecta mas bem perceptível.
E, assim, não posso sequer chamar-lhe crítica!
Outro bloguista, ou apenas comentarista, pouco
importa, escrevia esta tirada:
«E dizia-me um leitor nosso esta semana para
fixar o nome do Cancelo. Ri-me!»
Por que se riu?
Não disse!
Incoerência movida pela paixão Benfiquista?
Duvido muito.
Com efeito, tenho lido que uma das maiores
“críticas” que se têm feito à gestão é a de não aproveitar os bons – por vezes,
ditos quase fenómenos para bem reforçar até o “estar do contra” – jogadores que
se formam no Seixal.
Bem interpretada, principalmente o seu remate
seco, estéril, a frase mais parece um exercício suplementar movido pelo “do
contra” do que movido pela enorme paixão Benfiquista.
Tendo até por base o elenco de jogadores
enumerado pelo ilustre autor do segundo texto cujo conteúdo tentei interpretar
e analisar – à luz das minhas próprias deficiências, como é normal – acho perfeitamente
legítimo e até um acto de gestão correcta o empréstimo de Nelson Oliveira ao
Corunha.
De facto, com Cardoso, Rodrigo, Mora, Kardec,
Saviola e, embora sem certezas da adequação, Hugo Vieira, dificilmente Nelson
Oliveira poderia jogar muito e desenvolver as suas imensas potencialidades.
Porque foi precisamente devido ao
reconhecimento dessas potencialidades, a necessitarem de exercício, que ele foi
emprestado a um clube histórico da Liga Espanhola – em dois anos seguidos,
esteve à beira de se sagrar campeão e, num deles, só o não conseguiu porque
falhou um penalty quase a terminar o último jogo – que, antes disso, prorrogou
até 2018 o seu vínculo ao Benfica e que, se o Benfica o justificar, pode
recuperá-lo a meio da época futebolística que em breve vai ter início.
O Corunha subiu agora de divisão, ou, se
preferirem, andou pela segunda divisão?
E em Portugal já se esqueceram ou não sabem que
o FC Porto esteve por duas vezes despromovido à 2ª divisão?
E que só através de cambalachos em que são
pródigos ao longo da sua história – nos últimos 30 anos só os refinaram bem
refinados – é que se livrou de ter de jogar essa 2ª divisão e lutar pela
subida, se quisesse?
No Corunha, Nelson Oliveira vai crescer como
jogador e, no momento oportuno, há-de desabrochar e deslumbrar em toda a sua
arte de bom futebolista.
O que não aconteceria se tivesse de ficar,
tristonho, no “banco” ou mesmo, ainda mais tristonho, na bancada, sem embargo
de aí poder estar rodeado de muitos treinadores desse tipo, a esmagadora
maioria por causa da imensa paixão Benfiquista e alguns somente para fazerem a
sua demonstração do “estar do contra”.
“Estar do contra” que é o seu lugar de eleição
porque ser “do contra” neste país é, seja no que for, o único meio de alcançar
alguma notoriedade e pouco eficiente meio de obter alguma justiça.
Que fique bem ressalvado que não considero “do
contra” aquele que, responsavelmente, critica, aquele que não concorda ou
concorda, mas aquele que, concordando ou discordando, apresenta e fundamenta as
suas críticas e as suas propostas alternativas.
É “do contra” quem se limita a discordar,
julgando que critica mas apenas maldizendo.
Em suma, Não se apercebendo o mínimo de malícia
no ilustre comentador da “incoerência Benfiquista”, não me levará certamente a
mal que afirme confundir-se com alguma frequência a incoerência com a divergência.
Em termos restritos, a incoerência não é
Benfiquista.
Mas a divergência, responsável, saudável, é o
ADN do Benfica, naturalmente plasmada no substracto pessoal que o enforma, a
imensa e apaixonada Família Benfiquista.
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