De
treinador de bancada todos temos um pouco, tenho dito e redito. A diferença,
que pode parecer irrisória mas que talvez seja mais do que isso, consiste
apenas na forma e no estilo da sua expressão.
Uns,
com o coração ou outra razão sem razão sempre ansiosa por sair da boca para
fora, exprimem seus dotes de forma mais ou menos categórica, com um tempero bem
condimentado de condenação da insciência do treinador contratado como treinador,
certezas quase sempre peremptórias, reivindicações mais ou menos larvares de
uma propriedade absoluta de toda a verdade.
Outros,
guardando os seus pensamentos no âmago recatado do seu interior, sentindo que
talvez fosse melhor de outra maneira mas dando sempre o benefício da dúvida a
quem é, ao menos supostamente, mais credenciado na matéria.
Numa
coisa uns e outros coincidem. As suas teorias de ciência, afirmação peremptória
ou de recolhimento sofredor com nota de reconhecimento de suas insuficiências científicas
na matéria, são sempre manifestações “a posteriori”, após o conhecimento
dos resultados. São mais fáceis de teorizar e podem explanar-se no aconchego do
sofá, sem medos de petições de responsabilidade técnica.
Alguns
arriscam, ao jeito de um palpite no euromilhões, com futuro infortúnio
semelhante de resultados. São os profetas da desgraça, sempre em busca da sua desgraça
para poderem ter o único tema ao alcance da sua minguada imaginação e
desprezado convívio do Ser Benfiquista pela positiva na sua essência de ser Uno
e Indivisível.
Não
raras vezes, são dignos de compaixão e, pelo menos, de alguma condescendência. Os
profetas da desgraça e as desgraças do profeta são como unha com carne. E eles
sabem-no mas fazem de conta.
É
sempre muito mais aconchegante perorar sobre o que outros fazem do que tomar
decisões e responsabilidades por elas e pelos seus resultados. Para a falta de
imaginação em, por exemplo, defender sempre o Benfica, a coisa vem mesmo a
calhar!
Depois
de resultados como o do Benfica-Vitória de Setúbal, dá gosto ver algumas
certezas e verdades em acto de contrição, conquanto permaneçam resquícios de
dificuldade no tragar das realidades, seja por (má) influência das amígdalas,
dos adenoides ou mesmo do hipertiroidismo.
Os
oráculos da desgraça ficam mais dissimulados, em estado moribundo mas alerta.
Nada que seja novidade, que a imaginação, já se disse, também não é grandemente
farta.
Creio
que pela primeira vez – deficiência minha de leitura de muitas profecias de
desgraça e sapiências destacáveis – li com alguma atenção um texto de uma
Senhora – ou Senhorinha – num blogue Benfiquista até de referência para mim.
Não
fiquei perplexo pelo deambular feminino nas lides de treinamento de bancada.
Fiquei
perplexo pelo acaloramento, pela convicção e pelas incongruências das ideias
expostas.
E
deu-me para, com todo o respeito, comentar.
Não
me impressiona grandemente a Senhora – ou Senhorinha – com aquela parte, logo a
abrir, de a autora do texto perguntar “o que leva um treinador … a ser cego,
surdo e mudo em relação a tantas posições por ele tomadas…”.
Creio
que quem toma posições o faz de olhos bem abertos, de ouvidos bem desimpedidos
de cera e de língua mais ou menos afiada para se expressar.
Perguntar
“o que é que leva um treinador … a pensar que, como funcionário de uma
empresa … pode fazer o que lhe dá na real gana sem temer ser punido…” é uma
pergunta de pura retórica. Ninguém, treinador ou não, pode pensar que está
acima da responsabilidade pelos seus actos, seja funcionário ou independente.
Mas
já não pode, cara Senhora (ou Senhorinha), ser punido “como qualquer
funcionário de qualquer outra empresa”. Punido, pode ser! Mas a igualdade
como “qualquer outro funcionário” é que não está suficientemente
explicada.
Esta
igualdade de que falámos acima serve para autora do texto comentar o “despedimento
por justa causa”, uma “justa causa” advinda de “se continuarem a
verificar as experiências absurdas, se continuar a ignorar jogadores
importantes e os resultados continuarem a ser sofríveis pela sua teimosia e arrogância
desmedidas…”
Deixemos
de lado as expressões “absurdas”, “teimosia” e “arrogância”,
que elas talvez sirvam melhor o contexto e a realidade se devolvidas à
procedência.
Comentemos
apenas o papel de um treinador.
Um
treinador é um técnico, um técnico de empresa, não um técnico independente.
Como técnico de empresa, está hierarquicamente subordinado à prestação da sua
tarefa.
Mas
não está subordinado no seu livre pensamento, no cumprimento da sua missão.
Isto é, ele é livre de expressar as suas ideias, dentro da sua esfera de
competência, e de tomar as suas decisões dentro da mesma esfera de competência.
Nessa sua função, ele não recebe orientação de qualquer poder a que esteja
subordinado nem este poder o pode obrigar a expressar-se e a decidir de modo
diferente do pensar livre que, em sua consciência, julga ser o adequado!
Com
todo o respeito devido e merecido, a Senhora (ou Senhorinha) não entende o que
é um técnico, seja ele de que profissão for. E isso é um defeito essencial e
genético à exposição de todo o seu pensamento. Um técnico,
dentro da liberdade que lhe proporciona a sua competência não faz “o que lhe
dá na real gana”!
Faz o que no seu entender considera o mais adequado,
sem a mínima subordinação a qualquer poder hierárquico superior!
Muito longe disso! Ele é responsável tanto como
qualquer outra pessoa dentro da sua esfera de competência!
Pode ser despedido, claro que pode! E até o pode ser
com justa causa!
Mas nunca pelas razões que são invocadas!
Se
me permite a devida vénia, diria que a sua expressão, «não compreendo e não aceito», não é só demasiado convicta e cheia de certezas que
não são mais do que incertezas em assuntos de especificidade técnica que não possuem
a mínima aderência com certezas matemáticas.
Essa expressão e muitas outras que usou tocam as raias
da arrogância!
Será que a Senhora (ou Senhorinha) não leu nem ouviu
milhentas opiniões, praticamente nenhuma coincidente com outra, dos inúmeros
treinadores de bancada que proliferam por todo o lado?
Na minha função técnica, que exerci durante bastantes
anos e em que produzi inúmeros pareceres, costumava sempre terminar as minhas
lucubrações e a explanação das minhas opiniões com a frase, “salvo melhor opinião”…
Não ficaria melhor dar apenas a sua opinião, o seu
parecer, em lugar de fazer afirmações que roçam o patético, salvo sempre o
respeito devido e merecido?
Espero sinceramente que, após o jogo de Setúbal em que Jorge Jesus só trocou um jogador e não mudou de sistema táctico, já se tenha ao menos perguntado se as “suas experiências absurdas” (dele, de Jorge Jesus) serão assim tão “absurdas”!
Terá
a amabilidade de me dizer que figura fez perante quem o leu um pensador gemelgo
do seu pensar com a frase:
«Confirma-se, 4-2-4 de novo! JJ em
grande, já estou farto, até já tou mal disposto, isto é mau demais para ser
verdade» (SIC)?
Se notar com calma, verá que este seu gemelgo só
cometeu um erro: “escreveu antes de conhecer o resultado”!
E agora diga lá se não é mais fácil falar depois dos
resultados conhecidos!
Diga lá se não é mais fácil o recosto do sofá e
comentar sem a mínima responsabilidade as decisões que outro teve de tomar
antes dos acontecimentos se verificarem!
Diga lá se o seu texto contribuiu em algo no qual se
vê plasmado o esforço de união da Família Benfiquista e do Engrandecimento do
Glorioso Benfica!
Diga lá se o seu fervor não teria sido muito melhor
compensado se fosse direcionado para o apoio, tão entusiástico quanto o que
colocou no seu texto de certezas incertas, da equipa do nosso Glorioso Benfica!
Mas de toda a equipa, sem desunir nenhum elemento para não desunir a equipa que
a equipa ou é um todo ou não é equipa!
Sempre ouvi dizer e aprendi que a Justiça é cega.
Significa isto que não toma posição de parte!
Acha a minha Caríssima Benfiquista que o conteúdo do
seu texto, o estilo e a forma como nele se expressou, merece realmente o título
que lhe concedeu?
Glorioso Gil Vicente, posso-te pedir o favor de tentares mudar a fonte ou o fundo do blog. Para mim torna-se penoso acompanhar a tua gloriosa prosa com estas cores ( sem ironia)
ResponderEliminarCaro "Chi dura vince"
ResponderEliminarNão sou muito versado neste tipo de coisas. Depois, mudaram-me o formato de "bloguer" e ainda mais às aranhas me colocaram.
Eu comecei a colocar tudo em negrito, julgando que era de mais fácil leitura. Para mim, até acho que é mas cada um tem a sua visão, o que é legítimo.
O que acha que poderia fazer para melhorar a visão da leitura? Já agora, em relação à fonte do tipo de letra. Qual acha a mais adequada?
Eu faço primeiro os meus textos em word e uso a fonte "bodoniMT", tamanho 12. Qual deveria ser, na sua opinião, a fonte?
E se eu não colocasse a negrito, acha que melhorava?
De uma coisa é certa. Não quero um modelo mais estreito do que este. É que eu tenho um computador cujo ecrã tem 24 polegadas, um computador que, não sendo portátil, comporta-se como se o fosse, só bem maior. Apenas necessita do fio ligado à corrente eléctrica.
Porque o ecrã é largo, consigo ver tudo nele com tamanho muito razoável.
Mas agradecia qualquer dica que pudesse melhorar a visão de leitura, já que diz não se dar bem com esta.
Tudo o que puder melhorar é sempre bom.
Saudações Benfiquistas.
Enomre Gil, como carinhosamente gosto de o tratar, mais um post magnifíco e de facto concordo plenament consigo.
ResponderEliminarO problema e a divisão que infelizmente tem afligido os adeptos do Benfica, não tem a ver com aquilo que eles pensam, com as suas ideias e opiniões, tem antes a a ver com a forma absolutamente ofensiva por vezes, como se expressam e é isso que acho inaceitável, para além de haver uma tendência que não entendo, de quem defende uma política de continuidade, ou na ausência de alternativa válida prefere manter o clube com quem lá está, seja por esemotivo ofendido, apelidado das mais variadas maneiras e formas, e depois ainda justificam alguma atrocidades que escrevem como direito de expressão, quando não a aceitam nos outros.
Ora é exactamente a forma e não o conteúdo que está em causa, porque todos somos felizmente livres de pensar diferente.
Caro Gil, longe de mim querer moldar o seu blog à minha imagem.
ResponderEliminarMas descobri que o erro tb é meu, no browser que uso (Chrome) a fonte aparece-me como Georgia, e daí parte da minha dificuldade.
As letras mais utilizadas serão a Helvética, Arial e trebuchet.
Deixo-lhe um link para contrastes http://designfestival.com/wp-content/uploads/2009/05/image0061.jpg
Mas independentemente da forma o que me dá gozo no seu blog, é o conteúdo.
Um glorioso abraço e grato pela sua atenção