sexta-feira, 28 de agosto de 2009

IMPERTINÊNCIAS

A Selecção dita (ainda) portuguesa e o “precedente”

Cada vez se tem ouvido com mais ênfase uma busca rebuscada de argumentos que justifiquem a chamada à selecção dita (ainda) portuguesa de brasileiros naturalizados. O argumento, porém, que se apregoa como mais determinante, é o argumento do “precedente”, conquanto seja um argumento mal alinhavado no mascarar dos objectivos reais que com ele se pretendem atingir.

Ao contrário da mensagem que se quer fazer passar, o precedente não é uma lei!
O precedente é apenas algo que “precedeu”! No presente, pode apenas servir de exemplo ou de critério para algo semelhante! E só as coisas tidas por boas – se se quiser, “exemplares” – é que devem servir de exemplo e de critério e não, como se insinua, de imposição ou sequer de direito ou dever!

Um precedente significa apenas um “poder-ser” e nunca um “dever-ser”!
De resto, o conceito intuitivo que qualquer um recolhe do conceito de precedente é muito mais o de natureza de uma excepção do que o de uma regra!

A naturalização e os direitos inerentes

Corre também a ideia absurda de que o naturalizado tem os mesmos direitos do cidadão originário.
Há, naturalmente, excepções como em qualquer regra!
Desde logo, um naturalizado não é elegível para o cargo de Presidente da República!
Porém, mesmo quando não existe impedimento legal, fazer parte da selecção dita (ainda) portuguesa não constitui direito de ninguém mas apenas uma expectativa legítima.
Por isso, quando se equaciona se determinado naturalizado deve ou não ser chamado a jogar pela selecção do país em que se naturalizou, a questão deve colocar-se apenas em termos qualitativos, em termos de interesse única e exclusivamente da dita selecção, face às circunstâncias do momento.

Os motivos reais

Socorrendo-me de Santos Neves, jornalista conceituado e que, apesar disso, não aprecio no seu mester, vem ele apontar motivos tais que todo ou quase todos têm a ver com interesses estranhos à selecção dita (ainda) portuguesa.

Seleccionar Deco foi uma concessão aos interesses do jogador e do seu clube de então, escreve Santos Neves. Esses interesses materializaram-se na transferência que se seguiu à sua campanha no Europeu de 2004.
Scolari cedeu, finalmente, mas nem isso impediu que o champanhe corresse em certa casa com os golos da Grécia contra Portugal!

Pepe, diz o articulista, foi a recompensa de ter recusado a selecção brasileira e de ter dito que preferia a selecção dita (ainda) portuguesa. Já era jogador do Real Madrid, aprendeu depressa a cantar o Hino Nacional.
Talvez possa ser a única que se conceda por unicamente fidelizada aos interesses da selecção dita (ainda) portuguesa.

Liedson é um trintão que já não irá a tempo de obter proveitos em futura transferência. Nem ele, nem o seu clube.
Diz-se que vem em tempos de vacas magras, que é preciso marcar golos, mas ele está farto de jogar os 90 minutos e não marca!
Por conseguinte, os motivos são a corda na garganta e o receio de um seleccionador responsável pelo sufoco, que disse querer renovar mas escolhe trintões!

Este seleccionador é um medroso! Colocou Portugal na corda bamba e agora não quer ser acusado de não ter “tentado tudo” para alterar o rumo da situação. É um treinador do “sistema” mas nem assim escapa às críticas justas com que tão mal se dá!

Os responsáveis

Já temos ouvido dizer aos responsáveis pela selecção dita (ainda) portuguesa que é preciso renovar e que os clubes devem fazer formação e apostar nos jogadores portugueses.
Mas isso é muito lindo e ainda mais fácil de dizer! Só que esses responsáveis já há vários anos empurram o futebol português para a mediocridade, permitindo toda a espécie de manigâncias, contribuindo para os espectáculos degradantes em que vale o ponto e não o futebol!
Eles nem sequer conseguiram renovar ao nível do seleccionar que é repetente!
Têm sido os verdadeiros coveiros do espectáculo do futebol, os maiores responsáveis pelos estádios vazios e, a continuar assim, mesma as indústrias que dele aproveitam as economias de escala externas (televisão, publicidade, etc), ou mudam de ares, ou vão deixar de ter aderentes.
Para não perder clientes, as televisões viram-se para os espectáculos de futebol que vêm lá de fora e os clubes portugueses, já sem público, depois sem publicidade e sem direitos televisivos, vão para a falência à beira da qual a grande maioria se encontra.

E é assim que querem que os clubes tenham possibilidades de fazer formação, quando lá de fora vem mais barato?
E é assim que querem renovar, deixando de fora jogadores portugueses como Fábio Coentrão (aproveitado apenas para os sub 21, quando já é um futebolista amadurecido), Ruben Amorim e tantos outros, para meter trintões que até é possível que nem sejam capazes de saber o Hino Nacional?
Alguém viu o Deco cantar alguma vez o Hino Nacional?

O futuro

Por este andar e com base nestes argumentos do precedente e da “igualdade de direitos”, podemos vir a ter uma selecção dita (ainda) portuguesa só com jogadores naturalizados. É bom não esquecer que não são só os brasileiros que têm esse direito, mas, até mesmo se fossem, a coisa não mudava de figura.
E aquando do momento de cantar o Hino Nacional?!
Se forem todos como o Deco, estamos conversados!

Por este andar, de facto, o que não falta é mesmo “renovação” na selecção dita (ainda) portuguesa! Está, pois, em marcha a total “renovação” da selecção dita (ainda) portuguesa, substituindo portugueses de Portugal por “portugueses”, para já, do Brasil!
E no futuro, quem sabe se até de Marte!

Porém, se mesmo agora já tenho muita dificuldade em considerar “a minha selecção”, a selecção dita (ainda) portuguesa, então depois, nem sei o que hei-de considerar!

3 comentários:

  1. selecção??? o que é isso??? o meu clube é só um o BENFICA, o resto é só paisagem....

    Grande posta do GRANDE GIL VICENTE
    ..

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  2. Rainha

    De facto, aquilo já não é a (minha) selecção portuguesa.

    Se Nuno Gomes jogar, vou torcer por que as coisas lhe saiam bem!
    Se não jogar, nem os jogos vejo.
    Aliás, como tenho feito nos últimos tempos.

    Beijinho

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  3. A verdade e que eu nao sofro pela seleccao como sofro pelo Benfica :)
    Bem visto o ponto em que refere a situacao dos proveitos do Liedson pois salta a vista de toda a gente que alguem anda desesperado.
    Excelente post Gil Vicente.
    Bom fim de semana a mim ainda me falta mais um dia de trabalho fonix :)
    SLB4EVER Rumo****

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