quarta-feira, 1 de setembro de 2010

ENGANO OU DESEJO DE SER ENGANADO?

A comunicação social anunciou fartamente a compra, pelo Benfica, de quatro ou cinco equipas de jogadores para esta época. E eu estava absolutamente convencido, até aqui, de que o “leitmotiv” de tanta fartura jornalística era a mistura de uma imaginação pouco imaginativa mas bem visionária para vender jornais e captar audiências, provocar instabilidade no Benfica e desunir a Família Benfiquista.
No entretanto, depois do que li em várias manifestações escritas pelos mais variados meios de comunicação entre Benfiquistas – blogues, “googlegroups” e quejandos, “redes sociais”, etc – já nem sei o que mais pensar. Assalta-me agora, efectivamente, a dúvida sobre se eram aqueles motivos que levavam a comunicação social a fantasiar ou se foram os próprios Benfiquistas que, desejando um saco de compras tão bem recheado, o fizeram encomendar aos jornais e televisões.
Vejamos o exemplo Hleb.

Nenhum responsável pela gestão do Benfica anunciou vez alguma estar interessado e em negociações para a aquisição do jogador Hleb. Aliás, assistimos mesmo a avisos de sentido contrário, prevenindo contra a reiterada manipulação jornalística.
O Benfica já se sentiu obrigado esta época, por duas ou três vezes, a desmentir muitas notícias cuja substância real era unicamente a especulação. E no seu último desmentido acerca do jogador Maylson, o Benfica até nem se esqueceu de alertar os Benfiquistas, escrevendo, nomeadamente:

«Estes são os últimos dias em que o mercado permite inscrever jogadores. Já se esperava que os jornais multiplicassem os nomes e as especulações à volta de jogadores em que, supostamente, o Benfica estaria interessado. Já tivemos um longo desfile e, ao que parece, vamos continuar a ter até à próxima terça-feira.»

Que diabo! É assim tão difícil de entender que o Benfica não pode estar a toda a hora a emitir desmentidos, não só porque tem coisas muito mais importantes a tratar, como a maioria das notícias nem sequer merece que se perca tempo a conceder-lhes a mínima importância?

Mas o mais desconcertante – nem para todos, como é óbvio, que logo há os que se aproveitam das notícias especulativas, tanto ou mais do que os inimigos externos – é constatar que muitos dos Benfiquistas, que reclamam constantes desmentidos ou confirmações, não se cansam de chamar a atenção – que, assim, se torna numa mera retórica – para os objectivos daquilo que denominam de “jornaleiros, avençados ou pasquins” ao serviço do sistema com o único objectivo de desunir e desestabilizar o Benfica!
Porém, quando se trata de uma aquisição badalada na imprensa, nem que seja só pela imaginação jornalística, tomam-na logo como verdadeira e é raro que a não desejem fervorosamente consumada de imediato! Depois, quando ela se não concretiza, ai que a direcção não tem estofo, não tem dignidade, não sabe gerir. E acusam logo os gestores do Benfica de serem isto e aquilo, de serem, no fundo, uns enormíssimos incompetentes.

A propalada tentativa de contratação foi alguma vez confirmada pelo Benfica?!
E isso que importa?!
Foi badalada pelos jornais e televisões, logo é tomada e desejada como “verdadeira”!

A este propósito, gostava que os Benfiquistas lessem com atenção e meditassem um pouco naquilo que o jornal “a bola” escreveu em dias consecutivos.
No primeiro dia, noticiou em título, a letras gordas de página inteira, que Rui Costa se deslocara a Barcelona para fechar o negócio Hleb!
A seguir, escreveu … e passo a citar:

«Antes mesmo de ser colocada a possibilidade de aquisição do médio ofensivo já os responsáveis da SAD e a equipa técnica tinham dado por concluído o puzzle para atacar a temporada 2010/11 …»

No terceiro dia (hoje), reforçou … e cito de novo:

« … com a chegada de Salvio, que pode actuar em qualquer das alas, a SAD e a equipa técnica deram por terminado o trabalho de constituição do plantel … »

Alguém me sabe ensinar a forma de conciliar a primeira com as duas últimas notícias?
Se os gestores da SAD e equipa técnica já “tinham dado por concluído o puzzle”, se já haviam considerado “terminado o trabalho de constituição do plantel”, por quê noticiar que os mesmos andavam a tentar contratar o jogador em causa?
E faz algum sentido que um dirigente se desloque com o objectivo de ultimar uma contratação para um “puzzle” que já havia sido dado por concluído, ou seja, quando já se dera por terminado o trabalho de constituição do plantel?
Só para visionários … e para os oportunistas, não da crítica mas da maledicência!

Todavia, ainda que fosse verdade o fracasso negocial, isso significa logo incompetência, indignidade, falta de estofo?!
Bem, quanto a mim – e presumo com bastante dose de verosimilhança que a muitíssimos outros assim acontece, incluindo aos jornalistas – não conheço os meandros dos casos concretos que vão surgindo! Sei apenas que, ao longo da minha vida profissional, fui encarregado de fazer muitos negócios, compras e vendas, e a aconselhar outros … e muitos não os consegui concretizar ou que se concretizassem. Nem por isso, fui considerado – felizmente – incompetente, indigno ou sem estofo, durante quase 40 anos de profissão.
Com efeito, eu, como negociador ou conselheiro, sempre tive em conta que no negócio intervinham, pelo menos, duas vontades que tentavam chegar a um consenso a contento mútuo … e que eu só conseguia mandar na minha! E devo acrescentar que as coisas objecto dos negócios em causa eram apenas … coisas, isto é, não tinham vontade própria, o que simplificava obviamente a missão!
Mas nas transacções negociais dos direitos desportivos e económicos dos jogadores de futebol existe, para além das vontades do comprador e do vendedor, a vontade autónoma e soberana da própria coisa que está a ser objecto de transacção! E esta vontade poderá complicar seriamente, presumo, a conclusão negocial! Esta vontade também ordena, também quer a sua parte, e parte mais ou menos significativa, no negócio!
Será que o vendedor e, especialmente – como no caso em análise – o comprador, está obrigado a sujeitar-se à vontade das outras partes, mesmo que ambas, ou só uma delas, queiram impor condições ruinosas e não cedam, sob pena de ser logo apodado de incompetência e indignidade?

Noticia-se agora que o jogador disse também ter recusado propostas do Liverpool e Tottenham.
Oh! Que “indignas” e “incompetentes” direcções as destes clubes!...
Para que foram elas dar ouvidas e sujeitar-se à vontade da “coisa” objecto da pretendida transacção?!...
“Incompetentes”, “indignos”, “sem estofo”!...

De facto, que importam estas considerações para muitos Benfiquistas?
Há aqueles que, não por serem Benfiquistas mas por se sentirem uns excepcionais negociadores, aproveitam o que podem para enaltecer os seus “méritos comerciais”, os quais lhes servem de disfarce para logo maldizer as “incompetências” dos que gerem e que não são da sua simpatia.
Será que não serão melhor disfarce para as suas próprias incompetências, desde logo porque nem sequer conhecem os meandros do negócio em causa ou, conhecendo-os, tão pouco isso importa porque … no aproveitamento (demagógico) da situação é que está o ganho?
Como se pode analisar e, principalmente, qualificar o que se não conhece, e até mais, aquilo que nem sequer se sabe se existe ou existiu, tendo sido, ao menos para já, apenas conversa dos “media” e dos empresários dos jogadores, isto é, recados encomendados por quem pode querer tudo menos a defesa dos supremos interesses do Benfica?

Mas, infelizmente, há Benfiquistas que, à falta de melhor, qualquer pretexto serve para sua afirmação pessoal e para vincarem a sua oposição de princípio meio e fim aos dirigentes que lhes não agradam.

Num novo registo de interesses, volto a afirmar que não se trata, da minha parte, nem de criticar a crítica – a crítica, não a maledicência – nem de impor o unanimismo. Não defendo nem ofendo a pessoa de qualquer gestor do Benfica ou de qualquer Benfiquista porque só analiso factos, actos e comportamentos. E sempre senti a honra de lutar pela liberdade e pela democracia, mesmo à custa de sacrifícios pessoais.
Porém, não se trata aqui de uma crítica “construtiva” por parte dos Benfiquistas que assim procedem, porque ela não assente em factos concretos, conhecidos e confirmados, mas apenas em conjecturas, devaneios, boatos – toda a pretensa notícia, enquanto não confirmada por quem de direito, não passa de mero boato – e desejos de que assim aconteça.
Não é crítica porque não é alicerçada em bases sólidas, justificativas dos actos e comportamentos, nem acompanhada das alternativas conformes ao caso real e não ao caso virtual.
Trata-se somente de um aproveitamento demagógico de algo que, sem ter sido confirmado, foi logo tido como certo por ter sido noticiado por estranhos ao mesmo, e bem mais por assim ter sido desejado que tivesse acontecido.
Vem a jeito!

É evidente que muitos destes “críticos” – não todos, felizmente – logo se defendem como sabem … e podem, ou seja, com os recorrentes e estafados qualificativos do “carneirismo”, do “unanimismo”, do “seguidismo”, da “idolatria”. Esquecem-se, de resto, que esses qualificativos são totalmente reversíveis. Tais adjectivos são aplicados apenas àqueles que, pelo menos em certas matérias, não concordam com a opinião destes presumidos “críticos”.
Contudo, como qualificá-los a eles, se os tais “carneiristas”, “unanimistas” e “seguidistas” estiverem sempre e totalmente de acordo com os que, julgando que o não são, estigmatizam os que não alinham pelas suas presuntivas “críticas”?

Um dos males de que padece uma nação enorme e tão apaixonada como a nação Benfiquista consiste no facto de muitas e muitas vezes não se criticar o acto de gestão mas a pessoa dos gestores. Muitos destes ditos “críticos”, Benfiquistas à sua maneira, apaixonam-se ou odeiam mais a pessoa dos intervenientes, jogadores e gestores, do que propriamente apreciam o acto ou comportamento dos mesmos e, consequentemente, o Benfica. Ainda agora e a todo o momento, parecem ser ou ter sido mais Vilarinistas, Damasistas, Azevedistas ou Vieiristas do que Benfiquistas!
Ou então, são do contra por compulsão ou antipatia pessoal!

No plano externo, contra os ataques do anti-benfiquismo, defender o dirigente enquanto representante do Benfica é obrigação de todo o Benfiquista que se preze.
No plano interno, o único deus a venerar é apenas o Sport Lisboa e Benfica.

Visto assim, não haverá carneiristas, unanimistas, seguidistas ou idólatras, mas só Benfiquistas. Para isso, as críticas têm de ser dirigidas ao acto ou ao comportamento e não à pessoa. E a crítica, a chamada crítica “construtiva” – qualificativo que mais não é do que um seu sinónimo – deve ser justificada e propor a alternativa devida, se for o caso, porque pode haver crítica que se consubstancie, com a mesma legitimidade, no enaltecimento desse acto ou comportamento.
E a crítica tem tempo, modo e espaço.
De contrário, não é crítica, é maledicência. Depois, saltam as ofensas entre quem se diz apaixonado pelo mesmo símbolo imortal e grandioso, porque é a única coisa que resta a quem não consegue respeitar a unidade da substância no seio da riqueza da diversidade e não considera a divergência a forma acessória mas igualmente essencial do fortalecer daquela união.

Será que não se serviria melhor o Benfica, se todos os Benfiquistas conseguissem interiorizar estas máximas – que não pertencem a ninguém, são universais – e praticá-las como a única doutrina do Benfiquismo?

2 comentários:

  1. Boas, caro Gil. Concordo com quase tudo, excepto que afinal sempre o quiseram, pese embora o puzzle já estivesse completo, ou seja, era, segundo consta, negócio de ocasião. Simples «mais valia» que valia aproveitar, passe a redundância. O jogador não quis, paciência. Lá teve os seus motivos. Há um ano, Andujar, que foi para Itália, se calhar arrependeu-se de ter ido, ou se tem vindo, não tem vindo não seríamos nós campeões como fomos... Nunca se sabe. É como os melões, só se sabe depois de abertos. Não veio, paciência.
    Agora, sobre a atitude para com os dirigentes, sem dúvida, estou inteiramente de acordo consigo!

    Abraço

    Márcio Guerra, aliás, Bimbosfera

    Bimbosfera.blogspot.com

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  2. Caro Márcio

    Eu apenas disse que uma notícia, enquanto não confirmada, é boato, é pseudo notícia.
    E repare que a minha crítica vai mais para os que, não sabendo nada, aparecem a dizer que sabem tudo.
    Houve logo aqueles que, em nome de uma liberdade de expressão que se traduz apenas num bota baixo, vêm logo dizer : a direcção foi indigna porque não trouxe o Hleb.
    Soube-se agora, de fonte segura - Rui Costa - que este jogador queria mandar no Benfica. Ele queria ser titular, foi a sua condição.
    Como a direcção não aceitou que ele desse ordens no Benfica ... foi indigna!

    Um abraço

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