quarta-feira, 10 de abril de 2019

Oh inclemência! Oh martírio!



(Afonso de Melo, “Jornal I”, 04/04/2019)


Sou um admirador confesso de Alves dos Reis. Criminoso? Sem dúvida! Admirável criminoso. Leiam o processo Angola e Metrópole. Admirável criminoso!!! Aceito que haja quem considere isto um oxímoro. Pior ainda: uma indecência. Não discuto. Está no seu direito. A opinião é um direito inalienável. Reclamo apenas a minha cota de oxímoros semanais, ou mensais, se preferirem. 

Por exemplo. Ana Gomes admira aquele garoto que tem um porco espinho na cabeça e abre a seu bel-prazer a correspondência alheia, distribuindo-a por quem lhe dá na gana. E sublinha que o que surge a público desse esbulho é preocupante para a imagem de Portugal no exterior. Vejamos: estou-me um bocado nas tintas para a imagem de Portugal no exterior. Não perco uma noite de sono a imaginar o que dirão de nós numa taberna de esquina de Ouagadougou, no Burkina Faso. Aliás, estou-me tão nas tintas para a imagem de Portugal no exterior que às vezes até me esqueço que, por inerência de cargo, a antiga camarada proletária do MRPP, Ana Gomes, agora pequeno-burguesa europeia, faz parte da imagem de Portugal no exterior. (Mas agora que pensei nisso correu-me pela espinha um arrepio de apavorar hipopótamos e até me apeteceu bradar como o Sr. Seixas, n’O Pai Tirano, “Oh inclemência! Oh martírio!”, reconhecendo-lhe ao mesmo tempo a evolução do discurso na cadeia alimentar: passou de ridículo a grotesco.) 

Ana Gomes acha que o moço que pilha correspondência alheia deve ser imediatamente integrado na função pública. Como informador. À moda, portanto, da velha PIDE, que violava cartas confidenciais, espiolhava, escutava e bufava. Não tardará a pedir que, pela sua habilidade no manejo das armas e pela sua infalível pontaria, Bruno Pidá seja dispensado da condenação de 23 anos e se transfira, com urgência, para as brigadas especiais da PSP.
Eu também sou de opinião que Alves dos Reis devia ter sido nomeado Ministro da Economia em vez de ir parar ao Torel. Infelizmente só lhe ofereceram um lugar de bancário. O Estado tem destas injustiças. 

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