terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A FRAUDE – PARTE II

Para o senso comum, um escritor é alguém cujo nome, estatuto ou posição lhe garanta uma credibilidade acrescida perante os outros. Em matéria de opinião, por exemplo, um escritor é um homem culto que deve ser escutado com mais atenção porque, tenha razão ou não, consoante a dose ou a overdose de ficção da sua escrita, ou o relato da realidade, o que é sempre suposto é que seja mais isento, livre, independente. Mais ponderado, por isso, e mais credível do que o comum das pessoas. Afinal de contas, trata-se de um mestre das letras e da palavra. Acima de tudo, é suposto ser um formador de opiniões, de consciências, do carácter, de personalidades, de almas. Um escritor é suposto ser um “deus da palavra” e, como tal, suposto era ser levado mais a sério na sua credibilidade, seriedade e isenção, quando debita a sua intervenção, concorde-se ou desconcorde-se da sua escrita. Em suma, suposto é ser ontologicamente uma seriedade, uma credibilidade e uma isenção intelectualmente imaculadas.

E certamente que foi por isso que A BOLA lhe deu e dá semanalmente espaço.

Sousa Tavares confessa-se não independente mas jura que “nunca deixaria de ser isento”. Diz ele, categórico, que há uma diferença entre ser independente e ser isento. E uma diferença “essencial”!

Sinceramente, não percebemos essa diferença, talvez por nem sermos senadores, e muito menos escritores. Pelo nosso pobre saber, julgamos que ser independente é ser livre e que ser isento também é ser livre e … independente, talvez porque pensemos que não pode ser isento aquele que não é ou pode ser independente. Aliás, também já ouvimos dizer, por exemplo, aos versados nas coisas do Direito e da Justiça, que uma das condições absolutamente essenciais para se ser isento na missão de julgar é ser-se independente.

Sousa Tavares é tão isento que dá logo exemplos. Só consegue ver que o seu FCP foi prejudicado contra a Amadora em dois penalties que ninguém conseguiu descortinar. Quanto aos dois penalties a favor do Marítimo, não abre a boca. Assim procede igualmente quanto ao golo legalíssimo que o árbitro anulou ao Leixões e ao penaltie com que o mesmo árbitro presenteou o seu clube nesse jogo. Isto é, neste campeonato, (e nos outros sempre a mesma coisa, desde que os Pintos implantaram o seu império), o seu clube ainda não foi minimamente prejudicado, ainda não perdeu um pontinho que fosse por culpa dos árbitros, tendo vários deles feito tudo, e à descarada, para o ajudar. Falamos, por exemplo, das cacetadas, cotoveladas e cabeçadas dadas pelo Bruno Alves e pela patada, à má-fé, pela calada, dada pelo cebola em Nuno Gomes, tudo bem branqueado pelos árbitros.

Sílvio Cervan não fala de fraude apenas devido à vergonhosa e tendenciosa arbitragem de Pedro Henriques. Fala de tudo o que vem sendo orquestrado para prejudicar, como sempre, o Benfica. E desde a primeira jornada, contra o Rio Ave, um penaltie sobre Aimar que a crítica assinalou, menos a controlada por quem todos sabem e é muita. Dois pontinhos à vida. No jogo contra o Leixões, anulou-se ao Benfica um golo limpinho que fazia o 2-0 pertinho do fim e ninguém, nem a crítica, soube porquê, só o árbitro e esse sabia-o bem. Mais dois pontinhos sacados. No jogo contra o Setúbal, o árbitro vê a cacetada, manda seguir a jogada mas, como dá golo do Benfica 3-1, arrepende-se e anula tudo, volta atrás e nem o amarelo, que equivaleria a expulsão, deu ao jogador do Setúbal. No fim, mais dois pontos debitados à má-fé. Finalmente, a vergonhosa actuação de Pedro Henriques que só Sousa Tavares branqueia, pois aqui nem o chamado “tribunal do jogo”, do seu consócio Oliveira, teve quaisquer dúvidas e, coisa muito rara, até primou pela unanimidade.

Feitas as contas, o Benfica foi seriamente prejudicado em oito pontos que lhe dariam uma confortável liderança. E Senhor Escritor isento nestas coisas dos futebóis, por mais que tente e apesar do seu estatuto, ninguém acredita em coincidências de coincidências. As coincidências são um acaso, não se andam por aí a repetir a cada esquina. Como pode ver, se quiser, o Benfica pode estar na liderança e o campeonato ser uma fraude. E até pode ganhá-lo e continuar a ser uma fraude, no sentido dito por Sílvio Cervan. É uma fraude porque não reflecte tudo o que nele se passa de verdadeiro. Já há muito que o povo sabe – e por isso vai deixando cada vez mais os estádios às moscas – que há muitos resultados de encomenda. E a sabedoria popular não tem o mínimo estatuto na sua enciclopédia? Dai que concorde consigo quando diz que a maior fraude a que assistiu nas últimas décadas, e no que concerne a arbitragens, foi a que se passou no último campeonato ganho pelo Benfica. De facto, os árbitros tudo fizeram para que o Benfica não ganhasse esse campeonato. E o expoente máximo dessa fraude passou-se precisamente no Estádio da Luz em que um árbitro roubou um golo ao Benfica, quando a bola entrou mais de um metro dentro da baliza do seu clube, que assim pode ganhar o jogo, altamente beneficiado até por lhe terem perdoado um penaltie e uma consequente expulsão. Lembra-se, Senhor Sousa Tavares? Claro que se lembra, se não se lembrasse, não vinha agora falar em fraude!

Justificar-se o injustificável com o “tivesse o Benfica feito o jogo que se justificava…” é mais uma fuga à realidade e à isenção. Sabe de certeza Sousa Tavares que os jogos agora ganham-se por pequenos pormenores e as exibições estão em segundo plano. Pergunte ao special one.

Deve saber que o seu clube, na época passada, fartou-se de ganhar jogos por 1-0. Pense agora no que lhe aconteceria, se os árbitros tivessem anulado esse golito da vitória, de resto, como, também na época passada, fizeram, por exemplo (seguimos a sua saga dos exemplos), ao Benfica no Benfica-Leixões que depois ficou 0-0. Pense bem como seria a classificação. E já não se fala no conforto moral e suas consequências benéficas que um confortável avanço classificativo provoca. E tem sido assim durante quase três décadas. Os árbitros erram sempre a beneficiar um clube, o seu, quer nos jogos directos, quer nos indirectos, prejudicando os adversários que lhe fazem frente.

Sousa Tavares devia bem saber que a fraude das últimas décadas tem palavras como “fruta”, “manda quem pode e obedece quem deve”, e recepções a árbitros nas vésperas dos jogos, com uns presentinhos de permeio. Isto, para não falar de viagens ao Brasil que por engano, vão parar a certas contabilidades. E não tem só palavras, também já tem rostos. Na justiça desportiva, embora muito a medo, já há clubes e personalidades condenadas que toda a gente sabe quem são. Uns por corrupção, outros por tentativa de corrupção. Personagens e clubes que nunca desmentiram a conversa que foram tendo e que só estão fulos porque ouviram ser serem convidados.

Finalmente, Senhor Sousa Tavares, se quer um belo exemplo de isenção de um independente (confessou várias vezes não ser, nem do FCP, nem do Boavista), atente na personagem do ex-presidente do Conselho de Justiça e naquilo que ele pretendia.

E já agora, para terminar, não é o Benfica que tem medo do FCP. Bem pelo contrário, é o FCP que sempre teve, tem e há-de ter medo do Benfica.

3 comentários:

  1. Bom artigo sr. Vitor Sérgio.

    Gopstaria de dizer aquela espécie de escritor travestido de actor que se queixa do Campeonato 2004/2005 ganho pelo Glorioso, como é possivel alguém neste País ter ganho "tetras e "pentas". Não estaremos perante a maior fraude nacional do desporto em Portugal? As escutas telefónicas, válidas ou não, não conspurcarão esses titulos duvidosos da equipa regional assumidamente corrupta?

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  2. Isto foi alguma coisa que o moço leu e resolveu "desenvolver" criativamente, se não acreditam, leiam estes duas opiniões sobre a criatura em causa:

    1 Comentário do blog do Público, em resposta ao Provedor por Fátima Rolo Duarte:

    "Ex.mo Senhor Provedor do Leitor,
    Hesitei antes de escrever o que segue e que se refere ao recente «caso» Sousa Tavares por me parecer evidente que dar o corpo ao manifesto não é o mesmo que pô-lo a jeito para suportar «pauladas».

    Ler o resto:
    http://grandelojadoqueijolimiano.blogspot.com/2006/11/o-rigorismo-exacto.html#comment-116420248001434477

    2- O Publico pediu a Vasco Pulido Valente que lesse Rio das Flores, o último livro de Miguel Sousa Tavares.

    Numa entrevista ao Expresso, Miguel Sousa Tavares contou um caso, inteiramente imaginário, da minha suposta desonestidade (teria criticado o Equador, sem o ler) e acrescentou alguns comentários desagradáveis. Como é natural, desmenti. Isto bastou para que ele anunciasse por SMS à minha mulher e, a seguir, no Diário de Notícias que "ia dar cabo de mim". Parece que, segundo o critério dele, não "deu", por esta vez, "cabo de mim". Ficou pelo insulto e pela injúria; e pela ameaça implícita de que, se quisesse, revelaria episódios da minha vida pessoal (cinco ou seis) para liquidar a minha figura pública. Nestas digressões Miguel Sousa Tavares não falou uma única vez de um livro meu ou do meu jornalismo. Excepto sobre o meu "carácter" privado, não abriu a boca. Em cinquenta anos, não me lembro de encontrar um ódio tão inexplicável. Fiquei espantadíssimo e até, num encontro de acaso, lhe tentei falar, para o ouvir e, como lhe disse, para lhe poupar no interesse dele uns tantos disparates no Rio das Flores. Não quis.
    Escrevo esta crítica sem prazer. Nada pior do que ler um livro mau, excepto escrever sobre um livro mau. Mas, como se compreende, não podia deixar que a brutalidade de Miguel Sousa Tavares chegasse para me calar.

    Ler o resto:
    http://criticomusical.blogspot.com/2007/11/miguel-sousa-tavares-e-pulido-valente.html

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  3. Ainda sobre MST:

    http://observatoriodaimprensa.pt/2006/11/memorias-confusas

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