quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Meu Caro BENFICA



Sabes bem que eu sou um antibenfiquista benfiquista.
Eu explico melhor.
Sabes de sobra que eu falo e escrevo que sou benfiquista mas apenas para ser antibenfiquista.

Sabes bem que já há muito que eu, antibenfiquista benfiquista ou benfiquista antibenfiquista, me dedico em minhas insípidas fábulas a tentar ser alguém. Alguém benfiquista, não deixando de ser antibenfiquista. O meu benfiquismo antibenfiquista não me deixa passar por indolente.
Certo, dirás tu em plenitude de razão, os meus pensamentos sérios são meras fantasias mas lisonjeia-me a ideia de que a minha mui pouco engenhosa pilhéria possa merecer a tua aprovação. Os meus divertimentos demonstrativos do meu benfiquismo antibenfiquista nunca foram nem são, a meus olhos insulsos, plebeus mas somente asinários. Daí que toda a minha arenga te não surpreenda porque, apesar do meu entranhado benfiquismo antibenfiquista, tu cresceste, cresceste e agora és Enorme, tão Grande, tão Grande, que meu pequenitote ser não me faz zonzo porque esse estado pindérico é a minha substância genética.



Já prevejo que não faltarão detractores, acusando-me de frivolidade indigna, de sátira indecente, de eu ter ressuscitado e personificado uma comédia de baixo calão. Mas esses, a esmagadora Família Tua, são apenas, a meu pilhérico pensar, os benfiquistas BENFIQUISTAS.
E isso, eu digo, é de tremenda injustiça.
Não posso eu pilheriar quando minha pilhéria sem fundo de seriedade nem sequer é facécia manejada como disfarce?
Não posso eu assumir a minha candência de solene bobalhão, ainda mais quando sou um bestialógico engravidado?
Bem sei que sou um ranzinza encabrestado, um louco sem o ser. Que ninguém se ofenda, pois, desta minha loucura de ser um benfiquista antibenfiquista.



É certo que fazeis questão de saber o motivo da minha burricada. Dir-vos-ei, se tiverdes a gentileza de prestar atenção. A mim, benfiquista antibenfiquista, consola-me que me dediques a atenção que costumais prestar aos charlatães e aos bobos das ruas. Sou um louco sem o ser e não consideres impudente o meu autoelogio, que eu devo zelar em minhas pilhérias pelo meu próprio ser que é coisa bem decorosa.



Vamos agora ao cerne do meu panegírico. Não vos falo por ostentação e menos ainda por engenho. Eu também sou muito sincero sem o ser. O elogio do meu benfiquismo antibenfiquista é real. Gosto de me apregoar benfiquista como antibenfiquista que sou porque ser benfiquista é pilheriar-te e maldizer-te e nunca apoiar-te como fazem os benfiquistas, Benfiquistas. Estes só sabem apoiar-te, apoiar-te, apoiar-te...

Não sendo simulação tudo o que faço, digo ou escrevo, na expressão do meu benfiquismo antibenfiquista, não existe em mim disfarce algum. Sou sempre igual a mim mesmo. Volto a repetir-te. Eu não sou como os benfiquistas, Benfiquistas, os que te apoiam sem cessar, os que te colocam na ara do deus dos deuses. Eu não me disfarço, disfarçando-me.
Dirás que não sou mais do que um macaco vestido de púrpura, um burro magicando-se vestido com pele de leão. Que assim seja, em nome da minha pilhéria. Por mim, o bobo do benfiquismo antibenfiquista, gosto de aparentar fisionomia satisfeita, abanando as minhas longas orelhas de burro ao Benfiquismo dos benfiquistas, Benfiquistas.



Meu caro Benfica, ser benfiquista, Benfiquista, é apenas um tédio que minha asnice e dor de cotovelo me não sustentam. Eu sou, e de novo a minha seriedade não sincera, um maluco que se julga não maluco. Não precisais, pois, de pagar a outro bobo, bastam minhas bobagens para dissipar a melancolia que é ser benfiquista, Benfiquista. Eu só provoco diversão, risadas e outras iguarias do género que minha palermada e só ela proporciona. E quanto maior for a minha abobalhada louca, tanto maior a risada desprezativa que proporciono aos benfiquistas, Benfiquistas.

Meu caro Benfica, deixemo-nos de simulações. Um benfiquista que se preze só pode ser um benfiquista antibenfiquista. Um benfiquista antibenfiquista é um paspalho atolambado que se odeia a si próprio por não poder ser benfiquista, Benfiquista.
Pode então um bobalhão que se odeia a si mesmo amar algum ismo desportivo?
Pode, um louco como eu, benfiquista antibenfiquista. Um toleirão que não apoia o seu clube mas se delambe em dizer mal do outro. Um asinário que só atinge o orgasmo com a derrota do clube dos outros e não com a vitória do que diz seu.

Não te surpreendas, pois, meu caro Benfica. Eu sou um pária apólida de clube desportivo. Posso até ser teu associado com cartão passado e tudo.
Mas tu, meu caro Benfica, bem o sabes. Sabes que o que parece favorável é contrário, o que parece amigo é inimigo. Sabes que, se alguém se aproximar de um cómico mascarado, no instante em que está a desempenhar o seu papel, e tentar arrancar-lhe a máscara para que lhe vejam o rosto, não perturbará assim toda a pilhéria?
A pilhéria dá-te o gozo da superioridade que tens na tua génese natural pelo que o velhaquete, estúpido e petulante, do benfiquista antibenfiquista não merece ser expulso à pedrada.

Sou um louco, é verdade. Mas só o louco, tomando a iniciativa de o ser, sendo-o, pode alcançar o clímax orgástico de ser um benfiquista antibenfiquista.



Meu caro Benfica, podias ser tu Tão Grande, Tão Enorme, Tão Sublime, se te faltassem as pilhérias insulsas do benfiquista antibenfiquista?
Por que julgas que o benfiquista antibenfiquista tem gozo nas suas bobices de benfiquismo antibenfiquista?
Por que se esfalfa na sua demonstração de benfiquismo antibenfiquista?

Porque Tu e só Tu és o Glorioso Benfica!

3 comentários:

  1. Enormerrimo Gil Vicente, Companheiro,

    Brilhante, como sempre!
    Oportunissimo!

    Muito Obrigado e

    Viva o Benfica!

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  2. Que inveja não saber escrever assim.

    Que grande lição e elevação BENFIQUISTA.

    Como sempre, BRILHANTE!

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  3. Só te faltou a arrogância do benfiquista anti-benfiquista perante os outros benfiquistas que, para si, são todos benfiquistas benfiquistas. Bom texto, como é costume.

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