Sou do tempo das grandes conquistas europeias. Sou do
tempo da conquista de título atrás de título. Sou do tempo em que se começou o
construir da teia da corrupção desportiva. Sou do tempo do “esplendor” dessa mesma corrupção. Sou do tempo do apito dourado.
Sou do tempo do pós apito dourado e da vergonha do seu arquivamento e do triunfo
da impunidade. Sou do tempo da disputa dos dois últimos títulos nacionais.
Em tempos de desvergonha nacional em que a corrupção
desportiva campeou, reconheço essa corrupção desportiva e suas consequências no
desfecho da verdade das competições.
Mas reconheço igualmente parcela de responsabilidade
Benfiquista, não na corrupção desportiva mas na ausência do enfrentamento
adequado à mesma, com preferência suicida de divisionismo constante entre os
Benfiquistas.
Ouve-se muito falar de mística. Ouve-se de novo falar
de mística Benfiquista. Ninguém a definiu ou define em termos tais que a grande
Família Benfiquista actual dela se aperceba e dela se alimente.
Também não tenho pretensões da perfeição. Mas vou dar
a minha contribuição, não mais do que a minha opinião.
A mística assenta essencialmente, se não de todo, numa
estrutura mental. Essa estrutura mental faz com que, quem a detém, tenha aquilo
a que chamam de “estofo” de conquista para enfrentar os grandes desafios.
Ter mística, ter estofo, é ter espírito natural e permanente
de conquista, enfrentar os grandes desafios sem medos, ter convicção de que a
vitória é sempre o desfecho consequente do querer que emana da vontade e da
mente.
Ouve-se lamuriar até com alguma insistência, que não
se teve sorte – o vencido – ou que o
vencedor teve muita sorte.
Não concordo.
As “vitórias
morais” são o consolo dos pobres, dos vencidos, dos mentalmente derrotados
antes do enfrentamento do desafio.
Na raiz da dita falta de sorte está o medo, o sentimento mental
que faz tremer e paralisar, dos que se entregam ao seu fado com uma única
oração: “seja o que Deus quiser”...
Mas pela sorte não se espera, porque, quem por ela
espera, o mais natural é que … não tenha
sorte.
A sorte conquista-se! A sorte é a recompensa dos
audazes! A sorte só premeia quem enfrenta o desafio sem temor! A sorte é a “refeição” dos vencedores!
Os ditos sem sorte são os medrosos, são,
essencialmente, os vencidos, os que não têm estofo mental para vencer!
Diz-se que o Benfica tem obrigação de vencer, sempre!
Também não concordo. Vencer não deve ser uma obrigação
para o Benfica!
O Benfica é e tem de ser um vencedor por seu desígnio
genético. Um desígnio genético que se demonstra e concretiza num plasmar real e
natural constante do querer vencer como a sua vocação!
No Benfica, vencer tem de ser espontâneo porque é ser
do seu ser ontológico!
Ninguém no Mundo futebolístico inteiro perde dois
campeonatos seguidos depois de os ter ganho.
Não renego o empurrão da arbitragem no ano transacto.
Mas o Benfica, então, já tinha esbanjado o seu pecúlio de oiro.
Este ano, mais do mesmo … e não pode haver desculpas
de arbitragem.
Muitos motejam os festejos, excessivos ou moderados,
nos Barreiros porque feitos antes do tempo.
Concordo com os motejos, não com a razão. Tal como
acentuei, vencer um jogo não pode ser para o Benfica motivo de festejo porque
vencer um jogo, qualquer que seja, não pode ser razão de uma comemoração mas
algo que surge naturalmente do seu ser, do seu querer, da sua atitude
mental Benfiquista, sempre e sempre que
o Benfica parte para um desafio.
O Benfica demonstrou que ainda não tem o tal estofo perdido nas brumas do tempo e enleado na teia da corrupção desportiva que não soube enfrentar. E digo, “não soube” porque, sendo de longe o Maior, não soube concretizar e manter essa sua Grandeza.
A sua equipa de futebol fez muitas caminhadas vitoriosas,
este e o ano antes deste, muitas delas brilhantes. Tem bons executantes,
artistas de primeira água, algumas bailarinas que, no dia do seu sentir
dançarino, extasiam. Agradam ao adepto, acirram-lhe o orgulho, incendeiam o
sonho.
Todavia, na hora da decisão, o Benfica amedronta-se. Na
hora da decisão, o Benfica treme. Na hora de decisão, o Benfica falha.
Os tais festejos nos Barreiros mais não são do que um
sinal de fraqueza, um extravasar de um sentimento de insegurança, o esvaziar de
um medo que não é nem pode ser Benfiquista, tal como nos foi insuflado,
Benfiquistas, pelos nossos antecedentes.
O Benfica que ganhou as Taças dos Campeões Europeus
tinha alguns talentos mas tinha igualmente muitos dos chamados “carregadores de
piano”.
No entanto, o que mais tinha em abundância era o estofo
de campeão, era o querer, era a bravura dos audaciosos, era o plasmar do seu
sentir, era o concretizar do seu Ser Benfiquista.
Por isso, não o impressionaram Barcelona ou Real
Madrid recheados de estrelas, experimentados e aureolados de vitórias.
Benfiquistas, penso que o Benfica só voltará à sua
mística, só será de novo um vencedor, quando sentir que é um vencedor natural,
quando sentir que vencer é o seu ADN, quando sentir que vencer é derramar na
realidade a sua herança genética, quando sentir que nasceu para vencer, quando
sentir que vencer não é uma obrigação, quando sentir que vencer não é uma
discussão ou uma hipótese.
E nesse Benfica temos todos nós, Benfiquistas, desde dirigentes,
a treinadores, a jogadores, a sócios e a adeptos, de estar e de sentir.
Até lá …
desalentos e frustrações de vencidos que não se coadunam com o Enorme Orgulho
do Ser Benfiquista!
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