sexta-feira, 28 de maio de 2010

PINCELADAS ENCARNADAS

1. Foi esta semana noticiado que o FC Porto penhorou as receitas televisivas da União de Leiria, no âmbito de uma acção executiva que aquele moveu a esta.
Com esta penhora, acrescentava-se na notícia, a União de Leiria ficava impossibilitada de poder pagar os ordenados – já em atraso, sublinhava-se – e corria sérios riscos de não se poder inscrever nas competições profissionais, ou seja, participar na Liga Sagres.
Sabendo-se a política que sempre foi seguida pelo FC Porto – até mesmo de sempre e não apenas do tempo “papal” da corrupção desportiva condenada por tentativa – a notícia não contempla grande novidade. E, pelo eco da “boa e servil” impressa da “cúria”, esse facto de novo se confirmou.
O FC Porto tem na sua génese a política do eucalipto. É algo que nele é endémico e congénito. Suga, usa, abusa, seca e depois deita fora, vai em busca de outro para sugar. Toda a gente sabe disso porque os exemplos têm-se multiplicado ao longo dos tempos.
Agora, de novo … e tão amigos que eles eram!...
Todavia, na primeira, todos podem cair. Na segunda, só cai quem quer. Nas restantes caem os que gostam do masoquismo.
E mais masoquistas do que os asnos não se conhece!
Será que o Belenenses volta a ter sorte?!
Só se ainda não estiver completamente chupado!


2. Pinto da Costa disse solenemente que “não tem gabinetes para receber os pais dos atletas”. E não é preciso ser-se muito esperto para o compreender. Por muito grande que seja a cúria, por muito benevolente e benemérita que ela se considere, tudo é finito, tudo tem um limite e até os aposentos do “papa”, por maiores e mais variados que possam ser, não podem acolher todos os devotos e, se alguns devem ficar à porta, esses serão, com certeza, aqueles que, em vez de “padre-nossos” e outras oferendas, se aprestem em pedidos que não tragam qualquer mais-valia ao “venha a nós – ao “papa” – o vosso reino”!
Também não é necessária grande imaginação, nem esforço, para entender que todos os gabinetes, e serão alguns, os bastantes, estarão reservados, nomeadamente, para receber árbitros amigos e para, no meio de amenas cavaqueiras com cafezinhos e leite, se abençoarem os aconselhamentos familiares daqueles que, quanto à família, andam no reino de perdição.
Um “papa” não cumpriria bem o seu “papado apostólico” se não desse o mais estrénuo e estremado exemplo do que deve ser um “bom chefe de família”!


3. Ainda pelas bandas da “cúria papal” da mentira desportiva, veio noticiado que o professor Jesualdo demonstrara, numa rara manifestação de carinho e apreço compensador pelo belo pontapé no rabo que acabara de lhe ser proporcionado, “inteira disponibilidade”, que “sempre estaria disponível” para o FC Porto.
O que mais me impressionou foi o emprego do advérbio “sempre”, tanto mais que foi noticiado paralelamente que ele acabara de recusar o cargo de director técnico para todo o futebol … no FC Porto!
A deficiência de apreensão do significado de “sempre disponível” deve ser mais do intérprete do que do autor, o que até se desculpa a este, uma vez que o professor Jesualdo se esqueceu – e talvez nem seja caso para tanto – de fazer logo ali uma interpretação autêntica da sua “profissão de fé”.


4. Os “apóstolos” da “cúria papal” também se esmeram bem amiúde, como se sabe sobejamente, no exercício do “apostolado” da defesa da corrupção desportiva condenada por tentativa. Daí que não seja nenhuma admiração que Rui Moreira, muito adestrado na tentativa da venda da banha da cobra a favor da sua profissão de fé clubística, venha agora “queixar-se” de Hermínio Loureiro não ter dado a conhecer a “vida negra ou encarnada” que o Benfica lhe teria feito e “qual o antídoto usado para a pacificação” entre estas duas entidades.
Rui Moreira é uma pessoa muito inteligente … e coerente porque inteligência sem coerência não dura mais que um minuto. Inteligência e coerência que, ao longo de toda uma época desportiva – tornar-se-ia enfadonho recuar mais – foi plasmando em escritos lapidares de suma sapiência, espelho cristalino desse perfume coerentemente inteligente. Basta consultar as citações de Ricardo Araújo Pereira e de “Jotas”, aquelas em “A Bola” e estas no seu blogue “A Catedral do Desporto”, sob o título “PEQUENAS PÉROLAS – o que eles foram dizendo durante a temporada”, para se ficar com uma ideia bem aproximada das “virtudes” aqui em destaque.
Um “morcão” – como eles, os da sapiência na arte da corrupção desportiva tentada e na barrela do seu branqueamento – ou um jumento nos dotes da inteligência, diria de imediato que a tal “vida negra ou encarnada”, usada como pressão sobre Hermínio Loureiro, teria sido apenas a da exigência da imparcialidade e o esforço da limpeza da porcaria que há décadas conspurcava a verdade desportiva neste futebol nacional, sempre impune porque os seus agentes se julgaram inimputáveis.
E o “antídoto usado nessa pacificação” teria sido apenas o esforço denodado , seja-se justo reconhecer, para corresponder àquela imparcialidade e àquele esforço.
Todavia, uma mente sumamente inteligente – e coerente – só podia ter-se visto ao espelho das virtudes proclamadas pelo “papa” condenado por tentativa de corrupção desportiva e apregoadas pelos seus fiéis “apóstolos”, tal como o senhor Dr. Adelino Caldeira.
E daí imaginar e mesmo sibilinamente julgar, muito inteligentemente – e de igual modo, coerentemente – um processo tipo mafioso como o usado pelos seus confrades.


5. Há mais um senhor Sérgio qualquer, jornalista do gabarito e também digno representante do jornalismo de sarjeta a que o novo jornalismo português nos vai habituando, que vem escrever na sua notícia no correio da manhã que “Jesus colocou os dedos, por duas vezes, na cara” daquele travestido de jogador de futebol e repetidamente rejeitado, e bem rejeitado, no Reino do Glorioso. Como justificação para o teor da sua notícia, arrolou a matéria que, a este respeito, teria sido provada no processo que decorreu na CD da LPFP.
Muitos outros jornais e jornalistas escreveram e deixaram sub-repticiamente no ar a ideia da prova da infracção, alguns mesmo chamando-lhe agressão, mas estes socorrendo-se da expressão “dois” dedos que Jorge Jesus teria encostado à cara do travesti chorão, atenta a versão processual deste.+

Isto é grave sob o ponto de vista deontológico e da seriedade jornalística porque em lado algum o comunicado da CD da LPFP considera provada qualquer infracção cometida por Jorge Jesus. É verdade que aquele jornalismo de sarjeta apenas se estriba nos ditos dos jogadores, Rúbem Micael e Edgar Costa, isto é, exclusivamente na versão de uma das partes em conflito.

Sejamos claros e, já agora, honestos, intelectualmente honestos. A CD da LPFP abriu apenas um inquérito e, no decorrer deste, verificou que havia prescrito a eventual sanção disciplinar de que acusavam Jorge Jesus. É certo que o comunicado que decidiu arquivar os autos de inquérito fala em indícios. Mas indícios não são provas e podem até estar muito longe de o virem a ser. Não foram ouvidas mais testemunhas, não foram recolhidos mais elementos de prova.
E mais importante ainda, nem sequer foi posto em execução o sagrado direito de defesa.

Mas tudo isto tem uma explicação muito simples! Numa qualquer demanda, seja cível ou criminal, antes de qualquer sentença condenatória ou absolutória, os julgadores começam sempre por apreciar as questões prévias e incidentais que possam infirmar o processo em causa. É o que se designa, “lato sensu”, por “saneamento do processo”.
Só depois os julgadores se debruçam sobre o fundo da causa a decidir, julgam e proferem a decisão substancial sobre a matéria em julgamento.
E só desta decisão de fundo pode sair a prova ou a não prova da acção em causa, com a consequente condenação ou absolvição.

No processo Rubem Micael / vs Jorge Jesus nunca se chegou à fase sequer da produção da prova e muito menos à decisão que, apurando ou não o cometimento da infracção, condene ou absolva o acusado.
O único julgamento que houve foi o dos jornais e jornalistas que, levianamente, essa versão apresentaram, implícita e alguns mesmo explicitamente.
É evidente que o jornalismo português, ao considerar – implícito e até explícito nalguns casos – o cometimento da infracção de que Rubem Micael acusava Jorge Jesus, estava a fazê-lo, ou por má fé, ou por ignorância crassa, ou na tentativa deontologicamente condenável de promover as vendas dos seus produtos.
Mas é por tudo isto que o jornalismo português é considerado, por grande franja dos seus leitores, um jornalismo de sarjeta.

2 comentários:

  1. Brilhante, caro GIL.
    Lição de direito e deontologia aos "jornaleiros" de meia tigela.
    Grande abraço.

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  2. Mais um soberbo post do caro amigo Gil Vicente

    Mais palavras para quê? Está tudo,(e bem) dito.

    Bom FDS
    .

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