quinta-feira, 22 de novembro de 2018

AS MISÉRIAS DE UMA JUSTIÇA DA INJUSTIÇA


Ataque a Alcochete: PJ e PSP debaixo de fogo do MP



O Ministério Público (MP) alega que a PJ atrasou a investigação e que a PSP apoiou a liderança de "Mustafá" defendendo que iria ser "pacificador" das claques, depois do juiz Carlos Alexandre o ter libertado em 2015. PSP já reagiu ao DN.

A Polícia Judiciária (PJ) e a PSP estão debaixo de fogo do Ministério Público (MP) por causa da investigação ao ataque à Academia de Alcochete. Na acusação que deduziu contra os 44 arguidos, entre os quais Bruno de Carvalho e líder da Juve Leo, "Mustafá", a procuradora titular do inquérito, Cândida Vilar, responsabiliza a PJ por atrasos na investigação e a PSP por ter defendido o papel de "Mustafá" como "pacificador" da claque. A Direção da PSP já reagiu ao DN, a PJ promete reagir.

Segundo esta magistrada do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa, a investigação às agressões aos jogadores e elementos da equipa técnica do Sporting, em maio deste ano, "não está totalmente concluída" porque a PJ não facultou " qualquer informação sobre as interceções telefónicas ao alvo André Geraldes".

Geraldes era na altura team-manager do Sporting e o DIAP tem registos da sua participação em reuniões onde Bruno Carvalho e Nuno Mendes, "Mustafá", terão começado a planear o ataque à Academia. André Geraldes foi detido poucos dias depois dos incidentes, mas por suspeita de estar envolvido num esquema de manipulação de resultados dos jogos de futebol e andebol - o Cashball.



«O DIAP quis ter acesso às escutas e metadados que a PJ do Porto tinha no âmbito daquele inquérito para extrair as mensagens que acredita existirem e estarem relacionadas com o ataque, mas não conseguiu. "A PJ não transmitiu qualquer informação sobre o conteúdo dos telefonemas e mensagens, sendo certo que alguns deles poderão nem estar transcritos no processo de inquérito de que é titular o magistrado do MP. Acresce o facto de não ter sido possível extrair conteúdos supostamente apagados do telemóvel do arguido Bruno Jacinto, dado que, segundo informação do Sr. Coordenador da PJ, o programa não o permitiu», escreve Cândida Vilar.



O MP diz estar convencido que "estando o telefone móvel intercetado poderão existir conversas e mensagens que seriam relevantes para a prova", até porque, é sublinhado, "o arguido Bruno Jacinto declarou que tinha avisado por mensagem André Geraldes, de que elementos da claque Juve Leo iam à Academia do SCP".

No entanto, critica a Procuradora, "nada disto foi confirmado, porquanto a PJ não transmitiu qualquer informação sobre o conteúdo dos telefonemas e mensagens sendo certo que alguns deles poderão nem estar transcritos no processo de inquérito de que é titular o magistrado do MP".

O DN pediu à PJ que esclarecesse estas situações, mas fonte oficial da Direção Nacional prometeu "para breve" uma reação.



Carlos Alexandre libertou, PSP apoiou




Em relação à PSP, a magistrada do DIAP responsável pela investigação de Alcochete descreve o papel desta força de segurança na libertação de "Mustafá" em 2015, quando foi detido pela prática de crimes de associação criminosa, roubo e sequestro.

Na altura, o juiz de instrução Carlos Alexandre considerou que o arguido "estava arrependido dos crimes imputados e que existiam condições objetivas de segurança para o libertar". Segundo escreve a procuradora no despacho de acusação, essa posição foi "secundada pelo Núcleo de Informações Policiais da PSP, considerando-se aí, que o arguido Nuno Mendes, apesar de ter sido preso pelos crimes de associação criminosa, roubo e sequestro, era um elemento respeitado pela larga maioria de adeptos da Juve Leo, era um "fator pacificador no seio do Grupo Organizado de Adeptos (GOA) e contribuía para a diminuição drástica de utilização de artefactos pirotécnicos na bancada do Estádio José de Alvalade e em todas as bancadas onde estão adeptos do Sporting afetos à Juve Leo".



Cândida Vilar diz que "aproveitando-se da situação de se encontrar em liberdade e de saber que a Unidade Metropolitana de Informações Desportivas (UMID) da PSP o considerava um elemento pacificador da claque, o arguido Nuno Mendes, bem como outros elementos que o apoiavam, apresentam-se numa lista única à liderança da Juve Leo, sendo o arguido eleito presidente em outubro de 2016".

Mas, descreve a procuradora, "Mustafá" reuniu um "núcleo próximo" que integrava vários dos atuais arguidos do caso de Alcochete, "cumprindo as ordens que lhes eram transmitidas, designadamente, a prática de agressões dentro e fora do estádio, introduzir tochas e outros artefactos pirotécnicos no interior dos estádios e lançá-los, quando Nuno Mendes, através de diretivas, determinava à prática dessas acções, sendo que a PSP registou durante a época de 2017/18, 15 deflagrações ou posse de artefactos pirotécnicos e 17 processos crimes a elementos da Juventude Leonina".



Vilar sublinha que, em vez de uma claque pacificada, "com a eleição de Nuno Mendes, a Juve Leo passou a ser o suporte institucional que o grupo mais radical de adeptos do SCP, entre os quais os arguidos, decidiram utilizar para viabilizar o prosseguimento das atividades criminosas a que se propunham e que se traduziam na prática de agressões e outras ações violentas, designadamente no lançamento de tochas durante os jogos, agressões a adeptos rivais e a elementos das forças de segurança".

(Valentina Marcelino, DN, 21/11/2018)



E pronto! Temos mais uma prova do que o POVO PORTUGUÊS já pressentia como uma realidade efectiva!

É um sentimento latente no sentir comum do POVO, daquele POVO em que não entram os homens do poder económico, político, clubístico e aos quais se têm vindo a aproximar, agora sem a mínima pudicícia, as autoridades judiciárias, strito sensu, e as autoridades subsidiárias, as administrativas, da aplicação efectiva do Direito, fazendo Justiça que seja mesmo Justiça.



Não há liberdade sem responsabilidade e supremacia do Direito sobre o crime. As autoridades judiciárias e administrativas foram incumbidas pelo POVO para, em nome dele, combaterem esse crime por todos os meios, fazendo prevalecer os valores éticos que a sociedade erigiu para que a liberdade e a democracia prevalecessem sobre a libertinagem e o crime.



E estas autoridades subverteram esses valores da Justiça onde assenta a liberdade e a democracia, ou seja, o Estado de Direito.

Sujeitando-nos ao meio desportivo em que a peça jornalística nos situa, em especial o reino futebolístico, essas autoridades, em especial num certo recanto do País que todos conhecem mas já com ramificações em todo o Portugal, e em favor de uma organização criminosa impune, com desmandos que já vêm de há mais de 30 anos, começaram por denegar a Justiça e consagraram na prática a sacralização essencial da sua negação.

Falamos da impunidade dos criminosos confessos!



Esta impunidade foi o fermento para toda a impunidade que levou à prática constante dos crimes, após uma organização dela reincidentemente beneficiada se sentir obviamente galvanizada para praticar o crime quando e da forma que mais lhe convém.

O exemplo mais recente e elucidativo foi o roubo de correspondência privada e, mais do que isso, a permissão da sua divulgação pública – divulgação que, de per si, constitui um crime – truncada de maneira a cometer o cometimento de mais outro crime,  perante autoridades judiciárias inactivas, com prova completa para uma cabal e rápida punição dos criminosos!



Pior do que isso, tal o sentimento da comunidade!



Estas autoridades judiciais e administrativas nunca, como agora, se mostraram tão descaradas em serviço, em serviço de favor aos criminosos! Galvanizadas pela impunidade que elas próprias consagraram, se sentem protegidas naturalmente pela mesma impunidade, conquanto de vez em quando, não se sabe se para disfarçar, haja uma condenaçãozinha simulada!

Uma simulada aplicação de uma justiça blasfema da Justiça em que as autoridades judiciárias superiores dos simuladamente condenados continuam placidamente a dormir e os legítimos e inevitáveis, num Estado de Direito – julgava o POVO nuns resquícios da sua ingenuidade – processos disciplinares ficam nas gavetas da mesma impunidade!



A Justiça e o Direito, no desporto português, foram espezinhados por quem detinha, em nome do POVO, o poder de aplicar a mesma Justiça e fazer triunfar o mesmo Direito.

E nas autoridades judiciárias e administrativas vêem-se nichos, cada vez mais ramificados e engrossados, que actuam tão impunes quanto aqueles que tornaram impunes!



E mais criminosos ainda quanto traidores de uma segurança e de uma certeza nas suas vidas, que só a aplicação da Justiça na consagração do Direito pode proporcionar e que era e é devida a um POVO em nome do qual foram incumbidos de salvaguardar esses valores supremos da vida humana!

POVO que é espezinhado e, ainda por cima, sujeito a pagar com os seus impostos as mordomias de uma vergonhosa impunidade!

1 comentário:

  1. Mais um trabalho de excelência. Parabéns. Não tenho mais palavras para classificar prosa tão rica e assertiva. Continue Coração Encarnado que "é disto que o meu povo gosta".

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