sábado, 19 de março de 2011

Hooga, como me lembro de ti!...


18 anos de brincadeiras, protecção, carinho e amor incondicional... chegaram ao fim!...
Hoje é um dia triste, triste, muito triste!


POR RITA

Era um cão pastor. E eu talvez fosse encarada como uma ovelha. Ou então um membro da alcateia.
Nada daquelas coisa de Alfa ou Beta. Eu era vista como igual e consequentemente devia ter os mesmos direitos, as mesmas regalias. Quando isso não acontecia, bom… ele expressava o seu desacordo.

Mas era este sentido de igualdade, à primeira vista um demérito para a minha pessoa, que fazia com que fosse eu também a mais acarinhada, a mais protegida e também a fonte das maiores crises de ciúmes. Ciúme de qualquer pessoa que o privasse da minha presença, porque a alcateia mantém-se unida, porque a verdadeira vocação de um cão pastor é vigiar e cuidar do seu rebanho…


Era um cão peculiar. Muitas vezes se ouvem “donos” - ninguém é dono de um animal, nós é que acabamos por lhes pertencer - dizer “só lhe faltava falar” e é realmente verdade.
Talvez porque cada pessoa desenvolve com o seu companheiro um entendimento e uma ligação tão profundas que percebem as necessidades e sentimentos do outro!…

Talvez um pouco à semelhança daquela linguagem dos bebés que apenas os pais entendem!...


Mas o Hooga era peculiar. Com personalidade bem vincada! Percebia quando falávamos dele e amuava literalmente se o que disséssemos fosse num tom jocoso. Levantava o focinho, virava-o para longe de nós e afastava-se com um andar altivo e majestoso, não respondendo ao nosso chamamento ou carícia.

Reconhecia os objectos de brincadeira pelo nome, assim como cada um dos membros da sua “alcateia”, tornando-se extremamente útil e persistente no chamamento de cada um de nós.
Lá em casa não era preciso levantar a voz para chamar alguém! Ele encarregava-se de ir buscar a pessoa solicitada!…


Cantava a música das carrinhas da “Family Frost” de uma forma enternecedora e muito divertida, apesar das constantes reprimendas de um membro Alfa (aquele que o alimentava e portanto merecia todo o seu respeito) que não apreciava aqueles dotes vocais.

Quando era ainda cachorro, demonstrava o seu descontentamento por ser deixado sozinho… Escovas de cabelo, comandos de vídeo, molas da roupa… tiveram de ser substituídos!

Depois, foi passando, fruto da maturidade ou talvez por perceber que não ia ser abandonado, que regressávamos sempre para junto dele.

O fascínio por chocolates que eu pudesse deixar ao seu alcance, esse continuou. Provavelmente porque os doces eram meus, e o que era meu era dele!

Ah, e claro… algumas coisas podiam ser destruídas no decorrer das suas manifestações de entusiasmo!… Era dado a isso!


Encarava a vida com uma alegria que só vemos nos animais, o poder de ficar feliz pelas coisas mais simples…
Uma saída de carro era motivo de celebração emotiva, latia para nós, latia para quem passava, tudo durante um tempo interminável!
Partilhava a sua alegria com o mundo!
Alegria que continuava quando corria livre, no campo, na praia, no mar, depois do banho, quando era escovado na varanda, nas brincadeiras connosco!…


Era destemido e aventureiro mas tinha um ponto fraco. Barulhos muito fortes, como trovões e foguetes! Aterrorizavam-no! Qualquer esconderijo numa altura dessas servia! Geralmente debaixo de uma cama ou da mesa da cozinha!…
Quando lhe eram retiradas essas seguranças, podia recorrer a actos extremos, tais como fugir sem olhar para trás, aparecendo vários quilómetros depois numa zona considerada mais segura.

De resto não havia medos! Só algumas implicâncias! Com as motas e motorizadas que passavam! Com o carteiro, qualquer que ele fosse ... porque um deles se “atreveu” um dia a estender a mão para entregar uma carta à dona que o alimentava!…
Também com qualquer veículo ou pessoa que me viesse buscar a casa e não o levasse a ele também!… Vingava-se, negando-lhe eternamente festas ou carícias e, se essa pessoa tentava conquistá-lo, tinha por troco uma rosnadela, suave mas firme!...

Mas era meigo, tão meigo! Daqueles que dão carinho mas não se impõem!…
Pedia festas de forma tranquila, com um pousar de focinho e, se lhe déssemos oportunidade, retribuía com lambidelas dadas quase com veneração.
O contacto físico era importante para ele. Bastante! Facto que pude comprovar, noite após noite em que se enfiava na minha cama, arrastando lençóis e roubando-me a almofada!… Ou quando se deitava por cima de apontamentos de estudo… ou se tentava aninhar ao meu colo no sofá!…
Ou quando me lambia as lágrimas e me deixava abraçá-lo e chorar!

É por isto que dói!… Porque era um companheiro!… Porque cresceu comigo!…
E porque, agora que o perdi, só me apetece chorar! E é ainda pior porque ele não está cá para me consolar como de todas as outras vezes em que estive triste!

Sei que tinha de o deixar ir… sei que ele teve uma vida feliz e preenchida!…

Mas a verdade é que foi ele que enriqueceu a minha!…

Deu-me tanto… de forma incondicional!

A minha vida foi tão melhor por teres estado presente!…

Por tudo isto nunca te vou esquecer!


Até sempre, Hooga!



PS: Desculpem-me os amigos, os Benfiquistas!
Desculpe-me o meu Glorioso Benfica!
Mas esta é uma dor que eu partilho! Porque também a vivi e vivo!

E o Hooga viveu sempre as minhas alegrias e as minhas dores, aquelas alegrias e aquelas dores que o meu Glorioso Benfica me proporcionava!

Tu também eras um Hooga Vermelho! Com todo o orgulho dos teus donos!

Também nunca te vou esquecer, Hooga!

Até sempre!

8 comentários:

  1. O Hooga onde estiver saberá certamente que nunca o abandonarás...
    ...E num dia muito distante, voltarão a encontrar-se...
    está lá sentado à espera, orelhas empinadas alerta de qualquer sinal!

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  2. Caro amigo,

    eu também tenho um companheiro desses. Infelizmente nunca chegará aos 18 fantásticos anos do teu, porque os 11 anitos dele já se fazem sentir nas patitas e nos órgãos.

    Devo dizer-te que passei por 90% do que descreves, pelo que consigo compreender o que sentes.

    É um texto lindíssimo. Guarda-o, lê-o uma e outra vez.

    Força.. Abraço.

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  3. Caros amigos.

    É um texto da minha filha. O Hooga chegou quando ela tinha 13 anos.
    Cresceram os dois. Agora que ela é mulher, com sua vida de casada, nem sempre perto dele, sentiu mesmo assim, como todos nós, a partida...

    E o marido dela! Que nunca foi mordido mas a quem o Hooga puxou algumas vezes a roupa para o desviar da menina dele! E lhe rasgou mesmo duas camisas, nesses puxões! Que, sempre imperial, não lhe ligava patavina!
    Que não lhe admitia carícia, respondendo às tentativas, se persistentes, com a sua rosnadela de aviso!
    Até ele chorou!

    O Hooga era um de nós, tão asseado quanto nós, tomava banho como nós, secava-se ao secador como nós.
    E ficava tão orgulhoso com o seu pêlo brilhante e perfumado!

    Obrigado, amigos, custou realmente! Muito!
    Porque foi um companheiro!
    Porque só exigia um pouco de carinho e algum sustento!
    Porque nunca foi ingrato mas eternamente grato a quem lhe deu carinho!

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  4. É de facto muito duro perder um amigo como o HOOga era. Eu tb. já passei por isso e sei como é. Têm-nos sempre um amor incondicional. Não pedem nada em troca, estão simplesmente ali para o que der e vier.
    Força amigo e saudações benfiquistas

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  5. caro amigo,e primeira vez que deixo aqui um comentario,imagino a tua dor,sei bem o que sentes! saudacoes de 1 benfiquista de espinho

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  6. Ola!
    Bem sei o que é perder o amor das nossas vidas para mim foi assim que considerei a minha cadela.
    Simplesmente agradece pois foste abencoada com o facto de poderes ter partilhado a vida com esse inesquecivel amigo.
    Muita força Rita e restante familia

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  7. Caro Gil e família, por acaso tenho pensado nessas coisas da vida, por acaso da minha, e das inevitabilidades do que aí há-de vir. Não andaremos cá para sempre, mas teremos, muitos de nós, de lidar, mais cedo ou mais tarde, com essa faceta da vida, a perda, a morte.
    Sou um priveligiado, pois aos 31 anos estou para ter uma menina, tenho ambos os pais, apesar de já ter perdido todos os avós, e todos, pois considero todos lá de casa (do meu lado) temos uma Kika, que, lá está um dia também partirá, ainda que espero que seja bem tarde, pois ainda só conta com 3 anos e meio... Espero, portanto, que seja bem tarde, mas devo dizer que passei por uma coisa que, não sendo ao mesmo tempo pior, foi má também, e que posso aqui partilhar... O meu pai, que foi operado diversas vezes, numa situação recorrente de um mesmo problema de locomoção, ancas, costumava deixar um Kiko, aquando das operações, num Cantinho dos Animais em Viseu, instituição que ele conhecia (pensava ele) bem, e que recorrentemente recebia, das mãos do meu pai, fiel de armazém na Panrico em Viseu, produto, fora da validade, para rações, pão, bolos, etc., bolicaos, donuts e panrico, vá, e que, algures durante uma das últimas operações, a 7ª ou 8ª a uma das pernas (que teimava em não consolidar e cicatrizar, o que felizmente já aconteceu, apesar de já não deixar as muletas), aquando, portanto, da parte de recobro, em que visitava sossegadamente a Feira de São Mateus com a minha mãe, e onde esse mesmo Cantinho (da famosa sr. Ana, já explico porquê) tinha um stand, ao passar por eles, pensando que o animal se mantinha nas instalações deles, recebe, da boca da dita senhora, a seguinte notícia «Sr. Guerra, espero que não se importe, mas dei o seu cão»... Até hoje não sabemos o destino do animal, pois recusou-se, até hoje, a dizer-nos. Nem que fosse para uma espécie de consolo, ao ter sido dado, e ver se estava (está) bem, se não. Qualquer coisa. O meu pai, no choque, não reagiu, e reagiu um bocado mal com o tema, e recusou-se a fazer qualquer coisa sobre isso, apenas deixando, naturalmente, de falar à dita senhora, que era famosa por fazer o mesmo a outras pessoas, viemos a descobrir depois, e que, não tendo nós agido nos primeiros 6 meses, perdemos o direito a que a polícia agisse. É uma mágoa que ainda nos persegue, pois não sabemos, não vimos, não ouvimos, nada do Kiko lá por Viseu ou arredores.
    Era um cão de grande porte, ainda que rafeiro, que ficava, por causa do tamanho, numa casota no armazém da Panrico em Viseu, mas que o meu pai e mãe tratavam diariamente, e que era bem tratado, alimentado, tudo. Naturalmente, se não o fosse, ninguém o quereria, digo eu...
    Sendo certo que não era possível para nós tê-lo em casa, devido ao tamanho, um adeus, uma visita ocasional à sua nova casa, saber-nos-ia sempre bem. Nem a isso temos direito, pois tal «senhora» recusa-se a dizer.
    Hoje em dia, e para recompor, um pouco, dessa tristeza, oferecemos, a minha namorada e eu, um «porta-chaves» à Dona Olívia e ao Senhor Guerra, que eles tratam com todo o amor e carinho do mundo, coisa que por vezes até dá inveja aos filhos, ehehhe. Ou seja, que cá fique por muito tempo a Kika, que enquanto está ajuda a vida a ser mais suportável, mesmo que não faça desaparecer os problemas, sempre ajuda a não pensar neles e ver a alegria que ela demonstra ao fim de umas meras 2 horas longe dos donos, como se viessem da guerra, ou assim!

    Grande Gil, as minhas condolências, que neste momento, de certeza, é um membro da família que parte, no bom sentido.

    Abraço

    Márcio Guerra, aliás, Bimbosfera

    Bimbosfera.blogspot.com

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  8. Só posso deixar um forte abraço e compartilhar com vc essa dor,que sei é muito dificil de superar..

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