sábado, 6 de março de 2010

O optimismo da penúria desportiva

1. Gosto sempre de ver e ouvir pessoas optimistas. Um mundo de pessimistas seria, com efeito, um mundo lúgubre, sem chama, que a esperança havia sucumbido no meio de um vendaval de renúncia à determinação e conquista que são o “leitmotiv” da vida.
Por isso, conquanto não aprecie o guarda-redes do FC Porto – como não aprecio nada do que vem de tal agremiação desportiva que cultiva o ódio gratuito naquilo que deveria ser, antes de mais, escola de virtudes – compreendo-o. Deixar de lutar pelo campeonato será retirar-lhe mais uma oportunidade de, sempre que as coisas correrem mal à sua equipa, voltar a fazer, com os seus “ilustres” companheiros, mais uma demonstração de artes marciais quando o seu futebol andou na gandaia e o resultado soçobrou nas esperanças de um combate ao desânimo.

Claro que a sua equipa tem todas as possibilidades de conseguir o título. Todas as possibilidades menos aquelas que se desvaneceram nas derrotas de um mau futebol e péssimo comportamento, sem contar que algumas delas talvez se tenham esvaído na ponta dos dedos que até com alguma frequência abriram a porta da capoeira.
Porém, este ano ainda há umas migalhas para ganhar! Se lhes deixarem!


2. Há um vulgar opinador – vulgar nos temas e sua dissertação e vulgar no estilo e conteúdos literários – que, sendo sportinguista, tem nos seus genes o natural e profundo complexo de inferioridade relativamente ao Benfica, acompanhado da também costumada inveja das conquistas alheias.
Compreendo bastante bem o opinador e a dificuldade em aceitar que o seu clube – com toda a sua cagança balofa que, apesar de surrada e esvaziada de dinheiros e conquistas desportivas, lhe vai servindo de mitigação sublimatória – seja desde há alguns anos já o terceiro clube português.
Ora, para suavizar a desgraça da sua afeição clubística, nada melhor do que chamar à colação apenas a história muito recente, aquela que se plasmou na realidade após o último campeonato ganho pelo Benfica. É certo que o opinador pretende falar e apresentar o FC Porto como a deusa inspiradora do seu (fraco) opinar mas é o Benfica que lhe preenche, naturalmente, o seu consciente e mesmo o seu inconsciente. O Benfica joga sempre onde jogam o Sporting e o FC Porto, isso é sabido, mesmo que não esteja lá presente a sua equipa de futebol.
É o tributo de se ser Grande.
Até há pouco tempo atrás, o descaminho dos adeptos sportinguistas nem sequer os cânticos ao Benfica podia proporcionar porque eles primavam pela ausência junto da sua equipa. Mas bastaram dois resultados para fazer esquecer tanta mágoa acumulada e tão pouco futebol jogado para julgarem a barriga cheia de misérias.
Naturalmente, para quem esmola migalhas e a migalhas está só acostumado, já se pode considerar de barriga cheia.

O opinador, diz-nos, tem 40 anos. Nasceu, pois, em 1970, se ele não se esqueceu ou não errou a conta.
Desses 40 anos de vida e mesmo descontando os anos da meninice, certamente que se havia de lembrar de alguma história futebolística. Mas o nosso opinador escolhe a história que lhe convém e tenta apagar, missão inglória, a que lhe é contrária aos seus desígnios.
Não espanta ninguém, por isso, que ele tente esquecer e que outros esqueçam, pela desvalorização dos anos, a história grandiosa do Benfica.
Os Benfiquistas também lhe não pedem mais do que isso nem pouco ou muito se importam com as suas escolhas porque elas serão sempre rafeiras no porte. Mas podem sorrir de complacência perante mais um complexado.

Para que não pareça mal, o “nosso” opinador começa por escolher só os últimos 15 anos de história porque, nesse período, consegue que o seu clube tenha dois campeonatos e o Benfica apenas um. É claro que os 19 anos de jejum e os actuais 8 anos em que o seu clube penou e continua a penar pouco lhe dizem porque ele escolhe a seu bel-prazer o ciclo e as menções históricas que lhe dão mais jeito.
Todavia, quando bem lhe interessa, até se lembra de história mais antiga e fica todo enfatuado com a descoberta! Para compensar a, segundo ele, ajuda do seu clube ao Benfica, na jornada transacta, conseguiu recordar uma vitória do seu clube sobre o Benfica na época de 1985/1986 – há 25 anos, portanto – que ajudou o FC Porto a ser campeão.
Não se lembrou, convenientemente, de mais nenhuma vitória do Benfica, depois ou antes disso! Apesar dos seus possíveis 15 anos na altura do evento rememorado!
Nem toda a gente pode ser virtuosa de entendimento.

Mas o seu mote de glória não podia deixar de ser, como se compreende e depreende facilmente, a recordação das últimas quatro épocas. São quatro anos em que o Sporting conseguiu, num aconchego das ânsias de satisfação plena dos seus adeptos e dirigentes, ganhar o seu campeonato.
O pobre, não necessariamente de bens materiais, diga-se, desconfia sempre de esmola grande e tem sempre grande aprazimento em vitórias de porte rasteiro.
E agora, ufano de ter ganho por três ao clube dominante do seu, fácil foi esquecer-se de que levou cinco do mesmo, ainda não há muito tempo.
E também já esqueceu que, no seu estádio, o seu clube levou quatro do Benfica. Apesar de só terem passado pouco mais de duas semanas!
Por isso, até já promete que agora há que ajudar o Braga, vindo à Luz vencer.

Como disse ao começo, gosto de optimistas, em especial quando eles, depois de umas migalhas que lhes mataram a fome e lhes fizeram esquecer a campanha escanzelada de vitórias, já pensam que conseguem ganhar de novo o seu campeonato. Porque, se o seu campeonato este ano se foi há muito tempo, resta-lhe o campeonato de uma vitória sobre o Benfica para se sentirem felizes.
No fundo, esta cagança do pobre lagarto com tão pouco até serve para desanuviar o ambiente daquela choradeira infinda que inundou Alvalade e ajudou a estragar aquele relvado sem jeito.
Primeiro, num alegreto a solo da carpideira “forever”!
Depois, numa sinfonia desafinada de um coro esverdeado e esvaído na sua penúria desportiva!

Mas, se eles se contentam com o seu esmolar migalheiro, por que havemos nós, Benfiquistas, de deixar de sorrir do ridículo dos esfomeados de vitórias e de norte?

2 comentários:

  1. Caro Gil, não li essa crónica. Quem é o croniqueiro?
    Abraço.

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  2. Caro Manuel, a crónica é de 5 de Março, record, de um tal Daniel Oliveira e tem o título "Benfiquê?
    Um abraço

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