sábado, 12 de dezembro de 2009

O PROFESSOR PITOSGA

O professor Jesualdo há muito nos acostumou à sua vesguice, mais congénita do que de conveniência. Porém, um dos traços que nessa vesguice se tem salientado ultimamente é a capacidade de ela ver – estrabicamente – ao longe aquilo que não enxerga à frente do nariz. Nada que surpreenda, todavia.
Há pouco, conseguia ele, um professor deveras Pitosga, reparar que Aimar, nos campos longínquos da sua divergência pupilar, era constantemente derrubado praticamente sempre que pretendia jogar a bola.
Pessoas – não muitas que o sistema corrupto em que se move o professor Pitosga as mantém servis – conseguem por vezes escarrapachar nos meios de comunicação social que Aimar é o jogador da liga portuguesa de futebol que mais faltas sofre dos seus adversários.
Como um bom Pitosga – e professor se julgando – chama a atenção para a vigilância dos seus no sentido de avisar os árbitros para a sua delinquida tendência de considerarem e marcarem mesmo as faltas que, constantemente, Aimar sofre.
Como um bom Pitosga, ainda agora, bem em frente do seu nariz, um jogador da sua equipa, um fóssil de nome fucile – assim lhe chamam – se ter lançado para a banheira e ter obtido a graça de um penalti a favor da sua equipa, de resto, bem dele necessitada na ocasião.
Neste lance, até estou em crer que o professor Pitosga, conquanto se tivesse visto mas não viu à causa da sua vesguice, teria louvado mais o apitador pela predisposição de ajudar do que o pupilo pela vocação de enganar.

O dessiso do professor Pitosga, porém, está muito bem espelhado no dessiso de Platini, galo de um poleiro preservativo.
Platini, de facto, cometeu o sacrilégio de chamar batoteiro a quem, de resto, batoteiro é e assim foi condenado. Platini até se esqueceu de como foi colocado no poleiro e de como há bem pouco tempo um árbitro nomeado pela sua pandilha uefeira serviu para apurar a equipa do seu país, sem qualquer tipo de “comichões”, apesar dos olhares de todo o mundo.
Mas ser o galo do poleiro a falar em batota numa organização, toda ela ressumada de batotice, para além de gesto sacrílego, teve ao menos o mérito de a obrigar a reformular readaptativamente as suas próprias regras, quando verificou que elas eram impróprias à sua batotice mas próprias ao seu desmascaramento. Daí que Platini possa dizer que o clube batoteiro agora já o não é, para si e para a sua organização, depois da (re)definição adaptativa temporal das regras da batota.
O que antes era batota, agora já o não é porque a cura das regras abafou a porcaria que lá está por debaixo.

Desassisado mas espertalhão e astromante, o professor Pitosga vem profetizar que o apito dourado já acabou. De acordo com as notícias que vão saindo, parece haver ainda um mega processo para decidir. Processo que envolve a substância do sistema corrupto implantado, uma vez que, envolvendo vários agentes, envolve a classificação dos árbitros e sua falsificação.

Mas no reino da batotice nacional, desportiva ou não desportiva, sabe-se tudo com antecedência, permitindo as correlativas escapadelas e sonegações de prova. Não que o povo português esteja à espera de ver os criminosos de alto gabarito pagarem pelos seus crimes. A máquina justiceira portuguesa vai fazendo de conta que descobre, que investiga, mas apenas para entregar a condenação popular aos rádios, jornais e televisões com as sucessivas fugas de informação que não têm férias nem mesmo quando é um dos seus que estás a ser investigado.
Em Portugal sabe-se tudo, só não se sabe quem informa, numa lógica preservação de um corporativismo endeusado.
Sabe-se também que, quem viola o segredo de justiça é quem, tendo o dever de informar, se informa, não aquele que informou.

O povo português já se acostumou a que os piromantes da (in)justiça portuguesa alardeiem que investigam, acusam e … absolvem por falta de provas – é o espelhamento condigno da sua (in)eficiente investigação – lançando para a comunicação social a delícia dos julgamentos e das condenações populares que eles não estão interessados em desvendar e … julgar!
Mestres são em protegerem a sua corporativização de classe, a menos que um deles caia em desgraça por mor de outros mais altos interesses da mesma.
Por isso, o professor Pitosga nem sequer neste aspecto traz grande novidade, até porque o seu estrábico olhar das coisas lho não permitia

5 comentários:

  1. Magnifico caro Gil Vicente,um regresso em grande estilo.
    Subescrevo tudo o que diz.
    Triste Portugal...
    As melhoras e um abraco.
    SLB4EVER Rumo****

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  2. Como eu gostava de viver num País que não fosse este que aqui está retratado, até quando Gil Vicente, viveremos num País assim . Ah como eu gostava que isto desse uma volta,para melhor claro, mas será que algum dia vai mudar???...
    Soberbo, mais uma vez o texto do Gil Vicente.
    Cumprimentos.

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  3. Caro Abelourinha

    Essa mágoa que sente foi a que me levou a pedir a reforma antecipada aos 55 anos anos.
    Embora um elemento muito ténue dessa cadeia judiciária, revoltava-me o estômago todos os dias saber que, minimamente, a ela estava ligado.
    Um abraço

    Caro JJD
    Obrigado por ir preenchendo este espaço de Benfiquismo com a sua arte cristalina. O cabeçalho está muito bem adaptado à época.
    Mais uma vez obrigado.
    Ainda ão é um regresso dem força mas intermitente, uma vez que estou em convalescença, mas a coisa vai.
    Um abraço também

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  4. Em primeiro lugar também subscrevo tudo, como sabe caro Gil Vicente.
    Em segundo, não sabia que estava convalescente, também desejo rápida recuperação à melhor forma pois o nosso Glorioso precisa.
    Abraço.

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  5. Já estava com saudades de artigos como este....
    desejo a continuação das melhoras
    beijinhos
    ..

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